1.7 What Is Left

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Junho de 2014

O verão inglês não começa até o fim do mês de junho, então quando Louis saiu do táxi foi recebido por um vento frio que contrastava com o calor dos lugares que tinha visitado. Ajeitando a mochila nas costas - a decisão de viajar com bagagem reduzida tinha sido muito boa -, foi caminhando até a casa de Harry, mas parou no meio do caminho com a boca aberta e o coração disparado.

Onde deveria estar a BMW estava estacionada uma Range Hover preta, nova em folha. Idêntica à do sonho que tivera na Irlanda no início do ano passado, até mesmo no...

Respirou fundo, tendo certeza de que estava tendo alucinações.

Se aproximou devagar, dando a volta para olhar o banco de trás do carro.

Merda. Isso tem que ser um pesadelo. Só pode.

Um bebê conforto, também novo, estava preso no banco, se mesclando com o interior, como se estivesse ali desde sempre.

Louis sentiu a visão rodar, o terror do sonho - pesadelo - que se repetia há mais de um ano o engolindo. Nem sequer percebeu quando começou a correr, a adrenalina o levando rua após rua até se ver numa praça que tinha se acostumado a ver pela janela do carro quando vinha do centro da cidade. Se atirou num banco, ainda com a respiração acelerada e mergulhado numa sensação de irrealidade. Será que aquele era mais um sonho, e a qualquer momento Harry apareceria para listar todas as coisas erradas que existiam nele?

Feito um sinal, Louis ouviu o celular tocar, e o puxando do bolso viu que a ligação era de Harry. Pensou em não atender, em desligar o aparelho e fugir para algum lugar distante, voltar aos velhos tempos de caronas e trens aleatórios, mas sabia que não podia fugir - sendo aquele um sonho ou não.

- Alô. - sussurrou.

"Lou, onde você está?"

- Ah...

"Eu esperei que você ligasse da estação, mas isso já faz um tempo, então pensei que você pudesse ter vindo sozinho... mas isso também já faz um tempo."

- Eu passei num lugar antes, daqui a pouco eu chego.

"Você está bem?", perguntou Harry, a voz dele soando clara e suave, não com aquela entonação cruel dos sonhos. Louis respirou fundo.

- 'Tô.

"Então até mais tarde, meu bem."

Louis desligou e encarou a grama ressecada embaixo de seus tênis. Sentiu saudades do calor da Ásia, da voz de Zayn, da surpresa que era cada nascer do sol. Sentiu saudades de correr pelos acostamentos com Niall, pedindo carona e procurando abrigo da chuva, dormindo em lugares inusitados, do vento salgado do mar quando eles se debruçaram no píer em Brighton, três dias depois de terminarem o colégio, e decidiram não ir para a Universidade. Sentiu saudades das estações de trem, todas se fundindo numa só pela Europa, do esforço de aprender línguas novas, e os pubs estranhos mas engraçados, onde Niall apostava nos jogos de arcade para eles poderem pagar a próxima passagem. Sentiu saudades de não sentir medo, só uma eterna expectativa nervosa.

Era errado ele se sentir assim? Será que aquela vida que ele dividira com Niall - e tantos outros amigos - era uma ilusão adolescente, ou será que a vida que Harry queria dar a ele era uma ilusão adulta?

Sempre amara Harry com um certo abandono, sem expectativas de poder dar a ele o que ele queria ou precisava. Nunca experara ser amado de volta, ou se fundir na rotina da vida a dois sem qualquer esforço. Tinha 22 anos e absolutamente nenhuma ideia do que fazer da própria vida.

Começou a andar de volta, arrastando os pés na calçada, assustado com o quanto se sentia vazio. O engraçado - na verdade não era engraçado, ninguém riria disso - é que estava se sentindo assim há algum tempo, uma espécie de inquietação que devorava seus sonhos e o fazia dormir com a respiração presa toda noite.

My Heart Belongs to Daddy, My Soul Belongs to the Road ♥ L.S. AUOnde histórias criam vida. Descubra agora