Capítulo 3

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Abaixo a janela do carro e olho para o outro lado da rua.
É uma bela casa.
Fecho a janela. Pego a carta que está em cima do banco do passageiro e leio novamente o endereço.
— É esse o lugar. - e volto a olhar para a casa.
Meu pai vive em Spokan, uma cidade pequena e pacata, há 45 km de distância onde eu moro. E foram as horas mais demorada de minha vida.
Foi fácil de encontrar a casa. Em um bairro nobre, sua casa é a mais simples e linda que tem. Espero que ele continua vivendo lá.

A casa é estilo vitoriana de uma cor azul claro (foto em cima). Com um quintal enorme e verde, contendo um jardim lindo, cheio de flores, principalmente rosas brancas, que cresce em volta da casa e várias árvores ao redor. Um pedacinho do campo na cidade. Um belo lugar para se viver.

Tomo fôlego. 1…2…3... Conto até três. E abro a porta do carro e vou direto para a casa.
A ansiedade me contamina. Não é todos os dias você irá se encontrar com seu pai.
No momento, não consigo pensar em nada. O que direi a ele?
Não posso suportar mais isso. Preciso descobrir o porque de Thelma ter me escondido fato dele estar vivo. Esse é o propósito de eu ter vindo.

Subindo a escada da varanda, dou um olhar detalhado na casa.

Essa é a hora.

E toco a campainha.

Depois de alguns instantes, a porta é aberta. O meu coração começa a bater mais rápido.

Vai ser agora.

Mas quando a porta é aberta por completo, me surpreendo. Um garoto de mais ou menos da minha idade, de pele morena e três palmos de minha altura, me atende.
— Sim? - ele pergunta.
— O senhor Charlie Salles está? - quando pergunto, seus olhos brilham.
— Está sim. Espere só um momento. - e volta para dentro da casa.
O alívio me enche de esperança. Charlie. Meu pai. Ele vive aqui ainda.
Quando aquele rapaz abriu a porta, minha esperança tinha acabado, mas pelos céus, ele vive aqui ainda.
Mas, quem será aquele rapaz?

Volto a olhar para a rua onde está o meu carro, um BMW 2006 m3, uma de minhas grandes conquistas, e para as casas gigantescas das pessoas bem sucedida.
É um momento estranho para mim, conhecer meu pai.
Até hoje de manhã, acreditava que ele estava morto e agora, estou de pé em sua varanda, indo conhecê-lo.

— Quem quer falar comigo?
Meu mundo para.
Nunca em minha vida acreditava que isso iria acontecer. E agora, ele está atrás de mim.
Sou arrastada para o meu passado.
E vejo todos os meus aniversários que passei sem ter uma mãe ou um pai ao meu lado, me desejando feliz aniversário.
De todos o dia dos pais que passei nas escolas. Crianças faziam lembranças para seus pais, alegres, falando da surpresa que iriam fazer, e eu ficava sem poder abraçar e agradecer por ele sempre existir e me proteger.
De todos os Natais que passei junto com Thelma. Éramos só nós duas. E quando dava meia-noite, eu ia para a janela ver o Papai Noel, rezava para ele, eu ter uma família reunida. Pensava que, se o Papai Noel dava presentes para as outras crianças, ele podia me dar uma família.
E isso me fez rir.
E de quando eu era pequena. Sempre ia ao parquinho junto com Thelma, e via as outras crianças se divertindo junto com seus pais, e sempre pedia aos céus, para ter um pai ou uma mãe em minha vida.
Todos esses momentos e sentimentos em que eu mais precisava dele, volta a tona.
E começo a chorar.
Um choro de alívio. Alívio de saber que tenho mais alguém em minha família.
Não queria chorar mas o sentimento é mais forte. De costas para ele, me viro e já o abraça, pegando desprevenido.
E pela primeira vez em minha vida, tenho um abraço de pai.

— Me desculp-pa, acho que o senhor não esperava isso. - digo tentando me acalmar.
— Sim, me desculpa, eu não espera isso mesmo. Mas quem é você?

Ele não me reconheceu.

— Ella, Ella Salles.
E por um longo e silencioso minuto, ele não diz nada.

Seus olhos se arregalam percebendo a verdade.
— Oh meu Deus. Ella! - e me abraça apertado. — Me desculpa por não tê-la reconhecida. Quando te vi pela última vez, você era bebê ainda.

E me abraça de novo o mais forte que pode. E começa a chorar, me dizendo "Ella, me perdoe por todos esses anos. Eu sei que foi difícil a você, mas fiz de tudo para poder estar ao seu lado. Eu sei que isso nunca irá recuperar todos esses anos perdido, me perdoe."
Suas palavras eram simples, mas o fato de estar me abraçando e me perdoando sendo o mais sincero possível, me fez escorrer lágrimas pelo meu rosto. Lágrimas de perdão.

Com os olhos vermelhos, Charlie me pergunta:
—Porque a Thelma te deixou vir? Como soube?
— Ela não deixou. - falo e pego a carta do meu bolso da parte de trás da calça. — Eu achei isso. - e o entrego a ele.
— Essas cartas ainda estão guardadas?
— Sim. Estão todas em um baú no sótão e por acaso, eu encontrei hoje.
— Nunca soube da existência dessas cartas antes?
— Não, nunca. A Thelma sempre escondia ou evitava de falar em relação sobre você.
— Entendo, e me desculpa querida, por tudo isso que passou. - e me abraça. — Vamos, entre, você precisa descansar.

E entro em sua casa.

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Nota: Espero que vocês estejam gostando da história, votem e comentem. Suas opiniões é muito importante para mim. ;)

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