Capítulo 16

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AMBER

Vovó não iria compreender mesmo, e por que iria? Nos últimos dias ela vem agindo estranhamente, temendo que algo vá acontecer, mas até agora não entendi o porquê disso.
Ainda não sei se é uma boa idéia ela saber dessas mortes que estão acontecendo na cidade, isso pode piorar a falta de neurônios de sua cabeça, tadinha.
Depois do que ela fez a Ella, vovó vive querendo que eu e meu irmão nos tornemos mais fortes, com tom de medo e resseio em seu pedido.
Ela simplesmente não nos explica, só fala "vocês irão compreender quando for a hora certa." Mas, e se essa hora for tarde demais?

No caminho para casa, Thomas e eu viemos discutindo se era certo contar. Thomas achou certo jogar limpo com a vovó "isso pode ser a nossa chance de descobrir o que está acontecendo com ela", ele comentou. Mas eu discordo, não temos a certeza do porquê dessas mortes, pode ser mera fatalidade.

Meu devaneio foi cortado no momento em que chegamos a nossa casa. A casa era igual a todas na vizinhança, menos o fato é claro, das flores e ervas que vovó cultiva. Sempre tive orgulho por isso, me orgulhava por saber que a nossa casa era mais bela que a dos vizinhos. Sempre ajudava vovó no seu plantio, às vezes até legumes plantamos ali, como cenouras, beterrabas, e ficava maravilhada por saber como a natureza é encantadora e isso me fez amar mais quem somos.
Nunca consideramos contar para as pessoas as nossas raízes, isso poderia trazer acontecimentos do passado que deveriam ser evitados. Mas nunca entendi o motivo de nós termos a fama de bruxos. Nunca contamos para ninguém, mas como sabem, vovó tem a aparência de uma velha bruxa maluca, então sempre ouvi as pessoas falarem isso, não posso negar, ela parece mesmo.

Me viro para o meu irmão, ele está calado. Às vezes, de repente, ele se distancia de mim, indo para o seu próprio mundo, perdido em seus pensamentos. É uma de suas características, sempre achei engraçado isso nele. Quando ele ficava nesse estado eu poderia fazer qualquer coisa e nada o trazia para o mundo real, era como se ele estivesse dormindo acordado. Vovó diz que isso é do processo dos feiticeiros, sempre que isso acontece, os feiticeiros se conectam de forma espiritual com a natureza.
Tendo essa explicação, nunca mais o pertubei, simplesmente, o deixava em seu próprio mundo.

Me vejo olhando para meus pés, degrau por degrau, subindo a escada da varanda, a porta de entrada sendo aberta de repente, vovó aparecendo em nossa frente assustada, em câmera lenta, segurando uma colher de madeira nos encara demostrando medo em seu olhar.
- Esse é o fim! - ela diz quase gritando para a vizinhança ouvir. - Eles estão de volta, deveria ter previsto isso antes. Vai ser o fim da cidade! - sua voz sai tremida, vovó está completamente com medo e não sei o porque.
- Vovó calma, explica melhor o que está acontecendo. - Thomas diz em seu estado natural.
- A cidade está amaldiçoada! Quase duas décadas sem a existência dos mortos, e agora retornaram!
- Isso não faz sentido. Me desculpa vovó, mas o que você diz não tem compreensão. - comento sem acreditar em nada de suas palavras.
- Você é uma menina tola e burra. - comentou apontando a colher de pau lambuzada por um líquido, provavelmente sopa, para mim. - O caus voltará a reinar na cidade, ninguém poderá evitar. Os mortos ressurgirão para matar sem piedade, o reino dos demônios voltará. Oh deuses! Não tenho forças para lutar! As mortes começaram, e você sua tola criança, trouxe um de seus servos para minha casa.

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ELLA

Logo após a saída dos policiais, fui direto para o meu quarto descansar. Estava completamente cansada depois da corrida, e logo após a chegada dos policiais, o meu cansaço triplicou. Era como se minhas energias tivessem sido sugadas.
Mas não posso esquecer o fato de que um corpo foi encontrado, coincidentemente, do mesmo jeito que o primeiro, e ainda, Charlie é suspeito. Hoje poderia ser pior?
Não quero que Charlie seja acusado sobre isso, ele não teria coragem de matar pessoas, teria??

Para clarear a minha mente em relação a tudo que está acontecendo em minha volta, me levanto da cama e ando até a janela para abri-la e sentir o ar puro e fresco.
Olhando para rua do segundo andar, vejo aquela garota saindo de casa com uma bolsa. Para onde ela está indo? Estranho, acreditava que ela era uma colega de Christopher, mas ele nem teve a coragem de sair do quarto para comprimenta-la.
Resolvo ir atrás dela, mesmo não sabendo quem ela é.
Descendo as escadas, vou o mais rápido possível para encontra-la e não a perder de vista.
Por sorte, ela caminha tranquilamente pela calçada a 50 metros. Não será difícil correr até ela.

Quase a 10 metros grito por ela, sem saber seu nome eu só a chamo por: - Ei!
Ela me ouve e se vira parando de andar. Seu rosto é uma mistura de curiosidade e de dúvidas.
- Oi. - falo já ao seu lado.
- Oi. - ela responde ainda com dúvidas em seu rosto.
- Eu... hm queria saber se está tudo bem. - falo com interesse em saber algo sobre ela.
- Sim está, muito obrigada por perguntar. - ela responde hesitante.
- Eu te vi saindo, não irá ficar? - que pergunta estúpida, penso comigo, porque estou querendo saber isso?
- Não. Não posso. - suspirou com um tom de lamento.
- E porque não?
- Não sou bem vinda lá. - exclamou com um sorriso no rosto.
- Como assim? Você não é amiga de Christopher? - uma risada sarcástica sai de sua boca forçada. Olhando em seus olhos, um brilho de tristeza prevalece lá dentro.
- Não sou amiga de Christopher. - ela sorri e me encara. - A minha jornada terá de ser mudada.
- Eu não entendo. - ela é doida? Penso. O que Christopher tem a ver com a sua jornada?
- E não é para entender. Pessoas como você nunca saberão como é a minha vida, só Christopher poderá saber.
- Por que ele? - pergunto assim que avisto ele se aproximando de nós. Só faltava essa.
- Porque ele é meu irmão de sangue.

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