-Vamos queimá-las todas!- disse Enoch levando as mãos à cabeça.-É a única solução.
Giulia não retorquiu e continuou presa nos seus pensamentos profundos sem tirar o olhar do chão.
-Eu não queria admitir que algo estava errado... Mas só pode estar.
-E se...-parou a rapariga.-Estiver aqui outro peculiar?
-Um peculiar que controle os canais de água, o vento, vozes estranhas e bonecas? Não me parece provável.
-Mas queimar as bonecas todas também não me parece que dê grande resultado.
-Talvez fosse outra cobra da boneca a tentar sair e fez com que parecesse que a boneca se mexeu.
-E cabiam lá duas cobras, Enoch? Não. E mesmo que isso fosse a explicação, ainda tinhamos mais 3 fenómenos para explicar no espaço de dois dias!
-Vamos queimá-las e pronto.-disse Enoch decidido.
-E se despertamos a menina?
-Não eras tu que saberias se estivesse algum fantasma por aqui? Então tranquilo.
Giulia olhou-o de lado, farta:
-Estava, obviamente, a brincar. Mas continuo a não achar boa ideia, por algum motivo Júlian pendurou as bonecas.
-Porque era maluco, Giules!
-Primeiro, o meu nome é Giulia, segundo, com o que tem acontecido nesta ilha, acho que ele não era maluco de todo. Se fosse mentira, porque é que ele era o único a viver aqui? Eu sei que tu és esquisito e peculiar e vivias num loop e ressuscitas bonecas, mas parece que nem naquilo que tu fazes acreditas. Tu tens noção do poder que tens e de certeza que já viste outros poderes, então porque te estás a fingir de cético? Se existem peculiares e sítios onde se repetem consecutivamente as mesmas 24h porque não haviam de existir espíritos?
-Eu não estou a dizer que não acredito. Só estou a dizer que não é o que se está a passar aqui. Foram tudo coincidências.
-Estás-te a contradizer! Se achas que foram tudo coincidências, porque queres queimar as bonecas?
-Só para tirar a história a limpo!
-Não mentes assim tão bem. Faz o que quiseres, eu vou lá para cima.
E foi e as primeiras horas da sua madrugada foram passadas entre chás de camomila e investigações entre as fotografias tiradas há uns dias. E estas deram fruto.
-Enoch!-disse batendo energeticamente à porta às 5:23h da manhã.-Abre a porta!
O rapaz cumpriu a ordem.
-Estava a ver as fotos que te tirei e olha o que aparece no fundo!
O rapaz esbugalhou os olhos.
-Não vejo nada!
-Ali! É uma sombra de uma menina! Ela deve continuar à procura da boneca, se encontrarmos a boneca, ela vai-se embora!
-Giulia, vai dormir. Isso é só uma sombra de alguma coisa.
-Enoch, temos de encontrar a boneca! Ela nunca vai descansar enquanto não a encontrar. Ela morreu afogada porque foi atrás da boneca, certo? E se a boneca nunca caiu à agua, e se a boneca ficou aqui em cima? Por isso é que quando Júlian colocava mais bonecas ela ficava mais calma. Porque procurava entre elas a ver se a encontrava.
-Giulia, não estás a fazer sentido.
-Estou sim! E se ela foi empurrada por alguém que lhe roubou a boneca e acabou por morrer! O espírito dela sabe que a história está mal contada e por isso não deixa a terra, e ainda por cima, ela não tem mesmo a boneca!
-Se alguém lha roubou, nós nunca vamos descobrir qual é! Eu vou queimá-las a todas e pronto.
-Podiamos ir atirando ao canal uma boneca de cada vez e quando o espírito saísse era sinal que tinhamos acertado.
-"Quando o espírito saísse"? Nós não estamos em nenhum filme! Só há uma solução e eu vou pô-la em prática e nada que digas me vai fazer mudar de ideias!
-Olha a foto Enoch, olha mais uma vez. Diz-me o que lá está.
Enoch fingiu-se atento à fotografia.
-Estou lá eu. Sozinho.
Giulia abanou a cabeça e saiu dali, preocupada com a falta de crença que Enoch tinha na existência de coisas paranormais, mesmo sendo ele uma.
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A ilha das bonecas mortas
ParanormalNum ambiente arrepiante e em estranhas circunstâncias, Enoch O'Connor, um rapaz preso no seu corpo de 16 anos tentando-se esconder do mundo e da sua capacidade peculiar incontrolável e Giulia Darte, uma fotógrafa com medo de si mesma, conhecem-se e...