Submundos literários

Os opostos se distraem

Nós não podíamos ser mais diferentes. Em cada aspecto, cada assunto que discutimos percebemos que somos diametralmente opostos. Não concordamos em nenhum assunto, por mais óbvio e banal que seja. Isso já virou até piada interna. Adivinhamos o que o outro pensa apenas pensando o oposto do que pensaríamos. Simples assim. Só que rolou. Nenhum de nós ainda entendeu porque. E foi... Difícil de colocar em palavras sem entregar o ouro. Foi o que não devia ter sido. Não foi um deslize. Não foi um erro a se arrepender na ressaca. Foi. Aconteceu. Entendeu? Nem eu. Só sei que dá certo.

De repente nos vimos envolvidos num paradoxo. Estranhamente nossas infinitas diferenças não faziam diferença alguma. Especialmente quando estávamos a sós, nus e entrelaçados. Mas também em outros momentos. Raramente nos encontrávamos sóbrios. Nunca em algo que não envolvesse o velho e bom rock'n'roll. Ficamos quando tínhamos vontade de ficar. Não ficávamos quando não estávamos a fim. E mesmo quando não estávamos juntos havia um tipo de respeito mútuo às opiniões conflitantes. Já estabelecemos que somos diferentes, não é? Que um namoro tradicional não funcionaria. Então que tal nos focalizarmos apenas no que somos iguais?

— E no que somos iguais?

Nisso. Em nublar nosso raciocínio com o lícito e o ilícito. Em sair pra sacudir as cabeças por aí juntos. E em transar. Meu deus, como somos bons na cama.

E então percebemos que a solução do paradoxo seria um simples clichê: Havíamos alcançado tardiamente um perfeito e improvável relacionamento baseado em Sexo, Drogas e Rock'n'Roll. Morram de inveja. O diálogo lá no início foi um dos primeiros que trocamos. Foi depois de uma amnésia alcoólica pesada. Ela nunca me perdoou por aquela resposta, mesmo eu explicando que fiquei feliz por não ter ficado com ela pois se ficasse eu queria lembrar. Não colou. Mas ilustra bem o que temos. E ilustra bem a recordação que terei no futuro.