Agindo como humano

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É impressionante como nos acostumamos rápido à ideia da morte. No primeiro contato não sabemos o que pensar. Ficamos anestesiados. Depois assimilamos as consequências e aí é pior ainda. Finalmente percebemos que não tem como lutar contra o inevitável e simplesmente nos acostumamos. Para o cinismo é apenas um passo. Que eu já dei há anos.

Ontem você veio até minha casa pela última vez. Claro que você não sabia disso. Não conscientemente. Mas havia um tom de despedida em cada palavra. Em cada beijo apertado e ofegante. Tiramos a roupa da maneira mais errada possível. Desculpe pela costura de sua blusa. Relaxa que tenho outras cuecas.

— Posso amarrar você?

Gosto disso. Não sei por que mas gosto. Gosto de ser usado como um objeto desenhado para proporcionar orgasmos. Gosto da ideia que apenas minha simples presença te excite ao ponto de gozar com força comigo dentro de você. Gosto de sentir suas unhas arranhando meu peito e eu impotente com relação a isso. Me amarra, por que não? Mas a regra da cama é simples: o que um faz o outro precisa fazer. Me amarra na cama e goza forte. Mas depois é minha vez.

— Eu trouxe minha câmera.

Veio preparada, não é? Ou será que a sensação de despedida, de derradeira foda que a motivou a este gesto? Normalmente eu quem sugeriria isso. Eu sou o egocêntrico. Você é carente, o que talvez seja um grau acima do egocentrismo. Eu amarrado vitruvianamente à cama, ela empalada em mim, vestindo apenas suas tatuagens. Não sou fotogênico. Se eu fosse mulher não me excitaria com aquelas imagens. Mas você não estava interessada na qualidade fotográfica de seu modelo. Queria apenas registrar aquele momento. Guardar pra além da falível memória. Queria se ver chupando minha pica rígida e pulsante em sua boca. Lambendo, acariciando, salivando, sorrindo. Seus olhos não desviavam dos meus nem quando o flash espoucava como relâmpagos domesticados no quarto. Fotografou-se sendo penetrada, a boceta deliciosamente depilada não permitindo que nada ficasse para a imaginação. Esqueceu a câmera por alguns minutos enquanto me cavalgava e eu a recuperei. Registrei seus seios desfocados pelo balanço quase histérico do pré gozo. A boca aberta no grito engasgado e os olhos fechados talvez por um pudor involuntário. Goza, gata. Juro que não me mexo. Me faz de teu vibrador de carne. Isso. Assim mesmo.

— Meu Deus do céu!

Não é engraçado como viramos crentes quando pecamos?

Ainda recuperando o fôlego você me solta. Minha vez. Te amarro de bruços e te fotografo exposta, indefesa. Você geme. Sabe que o próximo será ainda mais forte. Se prepara. Com os dedos eu examino teus lábios. Sinto teus caldos ainda quentes. Mais fotos. Teu rosto excitado se esconde entre os cabelos bagunçados. Você não para. Quer mais e mais. Lambo tuas costas e me perco em sua nuca.

Goza comigo. De gemidos a gritinhos a urros de tesão. As molas do colchão rangem. Você grita cada vez mais. Isso mesmo. Grita. Como se sua vida dependesse disso. Grita que eu estou quase lá.

Foram necessárias mais três sessões para que você finalmente dormisse. Sua força sempre me surpreendeu. E mais duas na manhã seguinte. Uma no chuveiro. Eu preciso ir trabalhar. Beijo molhado na calçada e tchau. A gente se vê. Me liga.

Desliguei o celular o resto do dia. Não liguei ainda.

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