Louco?

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MATT

Hoje é quinta-feira, não falei mais com a Eloísa desde segunda. Eu estou na sala de aula agora e na cadeira ao meu lado está Noah, perdido em seus pensamentos. O nosso professor de literatura, Sr León estava falando sobre Shakespeare na frente da sala, o que me fez lembrar do trabalho do final do ano... Fazer um discurso em público para a pessoa amada? Isso é muito intimidador!

- Ei, Noah! - sussurrei para o viajante do meu lado.

- Que foi? - ele sussurrou de volta se despertando dos seus devaneios.

- Pra quem você irá fazer esse discurso?

- Ah, sei lá... Pra ninguém eu acho. - falou com total desinteresse. Olhei de relance para o Sr León e vi que ele ainda falava, então continuei.

- Que pena que a menina ruiva da biblioteca não estuda aqui... - provoquei.

Noah me olhou com um olhar de tédio e desânimo.

- Podemos trazer convidados. - ele cuspiu suas palavras como se quisesse me provocar.

- Então você vai convidar ela?

- Matt, eu não vou fazer discurso nenhum! - disse ele em tom áspero.

- Sr Swan, Sr Medson, estão com algum problema? - Sr León disse chamando a atenção de toda a sala para nós dois.

Noah simplesmente abaixou a cabeça ignorando completamente o Sr León.

Se eu não responder nada vai sobrar pro Noah! O Sr León odeia ser ignorado.

- É que o Noah não está muito bem, Sr León. - falei rapidamente. O que me faz pensar: O que está acontecendo com o Noah?

- Está passando mal, Sr Medson? - perguntou o professor para Noah que me olhou com sangue nos olhos.

- Na verdade estou sim, Sr León. - disse Noah ainda desanimado - Posso ir ao banheiro? - aproveitador!

- Está bem, mas se não estiver bem e precisar ir pra casa não queira ser forte demais, venha buscar sua autorização comigo que você será liberado.

- Está bem, obrigado, Sr León. - disse Noah se levantando e indo em direção à porta.

Assim que o Noah saiu o professor retomou a explicação chata sobre o trabalho.

Sinto um cutucão no meu ombro, olho pra trás. É Eloísa, ela me encara com um olhar preocupado.

- Que foi? - pergunto olhando para ela.

- Olha pra frente! - ela vira minha cabeça com violência para frente - Quer que o Sr León chame sua atenção novamente? - oh menina chata.

- Fala logo o que você quer. - falo encarando minha carteira.

- O que aconteceu com o Noah? Ele está bem? - Noah, sempre Noah!

- Ele saiu da sala por estar passando mal, como acha que ele está? - respondi com toda estupidez que pude.

- Nossa, Matt.

SOFIA

Estou no meu quarto, sentada na minha cama, encarando o nada.

Por que? Por que me rejeita? Por que uma hora me quer e outra hora me afasta? Me deseja? Me odeia? Eu não sei! Bipolar, ele é bipolar! Suas palavras são duras, são cruéis, o que aconteceu? O que houve com o bom e gentil Noah?

Sou interrompida quando alguém bate na porta do meu quarto, Ana entra no meu quarto.

- O que foi, princesa? Por que está com essa carinha? - pergunta Ana ao me ver em meu estado de descontrole emocional. Permaneço calada, não sei o que falar. - O que o seu namorado te fez? - Ana, Ana!

- Eu não tenho namorado, Ana.

- Não negue o inevitável, Sosô. Foi o Noah? Ele te maltratou?

- A gente brigou, Ana. - falei deixando algumas lágrimas caírem. Ana me abraçou de lado e começou a fazer cafuné na minha cabeça. - Eu comecei a interrogá-lo sobre o passado dele e ele ficou bravo, ele disse que não era da minha conta. Até aí tudo bem, mas eu queria muito ajudar ele, então insisti... Então ele ficou ainda mais furioso e falou que ele é um monstro e que já fez mal à muitas pessoas, ele disse coisas horríveis pra mim, palavras que eu nunca ouvi, ele disse que eu sou mimada, tenho tudo o que quero e que por isso me ofendo com qualquer coisa, disse também pra eu ficar longe dele, por que ele não se responsabiliza por nada que possa acontecer.

- Isso foi uma ameaça? - Ana perguntou intrigada.

- Não, Ana. Eu tenho certeza que ele jamais faria algo para me machucar fisicamente.

- Pelo visto ele não tem o mesmo cuidado quando se trata de machucar emocionalmente, né minha linda? - Ana me abraçou mais forte e foi uma ótima amiga e companheira naquela tarde como ela sempre é.

NOAH

Estou no banheiro da escola, sentado em cima do vaso sanitário encarando a porta fechada à minha frente.
Pego meu celular do bolso da calça e releio as mensagens que mandei para Sofia ontem.
- Eu fui muito duro. - sussurro para eu mesmo refletindo sobre tudo, mas foi preciso. Eu cheguei à conclusão de que eu não mereço ser feliz, eu não mereço ter alguém ao meu lado. Não! Eu já tive, várias pessoas que ficaram ao meu lado e eu às destruí!

Eu não sou digno! Não sou digno! Não sou digno!

Começo a socar a porta do banheiro e as paredes ao meu redor com força!

- Não mereço! Não mereço! Não mereço! - cuspo as palavras com todo o ódio que estava adormecido dentro de mim à anos!

Eu não voltei pra sala de aula mais. Fiquei ali, no banheiro.

Quando eu completei oito anos de idade, meu pai, Alaric, queria me mostrar um lugar novo como presente, nós não tínhamos condições financeiras muito boas, então ele não tinha como comprar algum presente bom. Meu pai me prometeu que iria me mostrar uma casa que era abandonada à anos! Ele disse que era uma casa mágica! Onde a fantasia da minha mente se tornaria realidade! Onde eu sempre poderia ter ele e a mamãe por perto caso algo acontecesse.

Então ele me levou à casa abandonada no dia do meu aniversário, a mesma casa que eu levei Sofia. Ele me mostrou a casa, nós brincamos na casa enorme! Brincamos tanto que quando olhamos pela janela já estava tudo escuro. "Vamos, a mamãe deve estar preocupada." Disse ele. Então nós saímos da casa e assim que saímos dois homens encapuzados nos abordaram. Ele mandaram meu pai passar tudo o que ele tinha, eu tinha oito anos, eu estava desesperado. Meu pai me olhou e me disse para ficar tranquilo, disse que estava tudo sobre controle. POR QUE ELE MENTIU? POR QUE? O cara de capuz vermelho parecia estar drogado, o seu parceiro também, mas parecia mais lúcido. Então, assim que meu pai entregou a carteira dele, o cara de capuz vermelho sacou uma pistola e disparou três tiros no meu pai, na minha frente, sem motivo algum.
Eu não tive reação na hora, eu só chorava desesperado, meus olhos estavam tão arregalados que pareciam que iam explodir! Meu pai caiu no chão, implorando para o assassino não me matar. Mas ele não quis ouvir, o mesmo cara veio na minha direção com a pistola, mas o parceiro dele o impediu, dizendo que eu era apenas uma criança e eles foram embora. Nunca mais ouvi falar deles. Naquela noite, pessoas que estavam passando pela rua ligaram para a emergência e meu pai e eu fomos levados para o hospital, meu pai não resistiu. Minha mãe chegou no hospital à tempo de ver meu pai uma última vez. A partir desse dia eu passei a ser acompanhado por um psicólogo, pois a cena que eu vi foi muito forte, principalmente para a idade que eu tinha, segundo o psicólogo aquela tragédia fez com que eu desenvolvesse alguns distúrbios, eu não sei, não entendo muito. Mas acho que o que ele quis dizer é que por um triz eu não fiquei louco. Eu continuei passando por consultas por seis anos, até eu provar pra minha mãe que eu estava bem. Mas a verdade é que eu nunca superei a morte do meu pai, as minhas idas ao psicólogo não davam em nada porquê eu enganava muito bem até o psicólogo, afirmando estar tudo bem comigo, e não praticava nada do que ele falava, até porque o maior trabalho dele era me ouvir e eu não falava. Hoje eu percebo que aquele psicólogo nunca quis me ajudar, ele só estava interessado no dinheiro que minha mãe pagava, ELE É QUEM DEVERIA SER TRATADO COMO LOUCO! Ele dizia pra minha mãe que eu estava progredindo muito bem, quando na verdade eu estava me trancando mais, eu também nunca falei nada sobre como eu me sinto com ninguém!

Uma doce meninaOnde histórias criam vida. Descubra agora