Pitbull

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Eloísa Mattos (MÍDIA)

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- Para onde vamos? - Sofia me pergunta enquanto eu entro no carro.

- Eu estava pensando no C.B.M.T... O que acha? - C.B.M.T nada mais é do que a sigla para "Comer Bem que Mal Tem?" Que é um restaurante muito famoso num bairro próximo. Sofia sorriu com os olhos e pareceu adorar a ideia.

- Eu acho ótimo! Faz muito tempo que não vou lá! - ela brada animada.

- Certo! - falo enquanto dou partida no carro.

A noite está fria e o céu está muito bonito, apesar de não ter muitas estrelas, mas em compensação a lua está linda!

Sofia e eu não trocamos muitas palavras durante o caminho, ela preferiu ficar mais calada e eu fiz o mesmo.

Assim que chegamos no restaurante, eu desci do carro e praticamente corri para abrir a porta para Sofia, mas ela já havia saído do carro e me esperava em pé ao lado do carro com a porta aberta.

- Oh, você queria abrir? - ela perguntou enquanto fechava a porta do carro - Me desculpe. - ela fingiu remorso.

- Não, tudo bem, eu só quis ser educado. - falei ao mesmo tempo em que levava a mão para atrás da nuca com um sorriso um tanto forçado.

- Oh, isso eu sei que você é, não se preocupe. - ela sorriu, mas sem deixar os dentes a mostra.

Segurei sua mão e nós entramos no C.B.M.T.

SOFIA

Assim que entramos no restaurante, Noah se dirigiu à uma garçonete e sussurrou algo em seu ouvido.

Enquanto isso eu ajeitava discretamente o meu vestido. Que apertado, meu Deus!

O lugar era muito elegante, com luz baixa e temperatura ambiente, exatamente como da última vez em que eu vim aqui. Com os meus pais!

Assim que Noah parou com os seus sussurros com a garçonete - garçonete essa que era muito bonita aliás - ela se virou e nos levou até uma mesa próxima da orquestra que tocava música clássica, apesar de não parecer, a mesa estava bem discreta, já que tinha outras dúzias de pessoas sentadas ao redor da orquestra.

Antes que Noah pudesse puxar a cadeira para mim, eu me apressei e a puxei eu mesma e logo me sentei. Noah e a garçonete me olharam estranho, eu sorri em resposta.
Noah sorriu para a garçonete e disse que chamaria assim que decidisse o que iríamos pedir. Ela saiu, deixando-nos à sós.

- Está tudo bem? - Noah perguntou quebrando o silêncio entre nós dois.

- Sim, está. - eu sorri. Ele continuou me olhando sem entender. - É um ótimo lugar! - completei. Noah sorriu.

- É... eu fiquei em dúvida se você ia gostar... você é tão... chique. - seu último comentário me incomodou.

- Na verdade, eu gosto de coisas simples. - falei pegando o cardápio para escolher o pedido. Noah fez o mesmo.

- Sabe... - ele murmurou me fazendo olhar para ele - Eu estava pensando... a gente nunca se conheceu direito... sabe, não à fundo.

- Acha que nossas conversas eram superficiais? - indaguei.

- N-Não! Não é isso... é só que... faz muito tempo... - ele abaixou os olhos denunciando a culpa que ele estava sentindo naquele momento.

- Foi uma escolha sua. Somente sua. - não consegui esconder minha desaprovação em minha voz. Quando ele estava pronto para começar a se lamentar eu o interrompi antes mesmo d'ele começar a falar. - Mas... são águas passadas. Eu já escolhi o que vou pedir e você?

- Oh, sim... - ele pegou o cardápio que havia largado todo desajeitado - Já decidi. - ele sorriu, em seguida ele chamou a garçonete que assim que anotou nosso pedido olhou para Noah com tamanha indecência que me deu vontade de esganá-la!

Mas calma, Sofia! Respira!

- Onde param... - o celular dele começa a tocar antes que ele possa terminar a frase.  Ele pega o celular, olha para a tela e me olha sorrindo sem graça. - É a minha mãe... se importa se eu...?

- De forma alguma. Pode atender, pode ser urgente. - falei sinceramente.

- Oi, mãe... - ele atendeu - Sim e a senhora?... tá... eu não vou poder agora... porque eu não estou em casa, mãe... eu saí... eu só saí, mãe... não... sim, é um encontro, mãe... depois a gente conversa... mãe, ela está bem na minha frente eu preciso desligar... sim, mãe, ela é muito bonita e uma ótima pessoa, agora eu preciso desligar... beijos, te amo. - e ele finalmente encerra a ligação todo vermelho, ele olha pra mim e eu não consigo evitar a risada. - Isso, vai zomba de um pobre coitado. Pimenta nos olhos dos outros é refresco, sabia? - ele murmura se fazendo de vítima, mas logo cai na risada também.

- Ai me desculpa, é que você fica tão fofo quando está com vergonha! - disse eu rindo muito - Mas eu entendo, minha mãe também é assim, ela só não me ligou ainda porque eu conversei muito com ela durante uma hora pelo menos.

- Esperta! - ele aponta - Eu não pensei nisso.

- Eu percebi... e o quea sua mãe disse sobre mim? - perguntei curiosa.

- Ela disse para eu levar você para ela conhecer a menina que tirou o filho dela da rotina de casa/trabalho.

- Entendo. - nós dois rimos.

Assim que o nosso jantar foi servido, nos conversamos sobre coisas aleatórias e divertidas. Demos bastante risadas e falamos muito, eu principalmente,  tagarelava como uma louca!

- Sofi, eu preciso desabafar sobre algo e não tenho ninguém pra contar... - disse Noah tornando o clima mais sério e um pouco mais íntimo.

- Pode falar comigo, Noah...

- É que... bem, eu descobri algumas coisas sobre o meu pai, recentemente...

Primeiro ele me contou que seu pai foi assassinado quando Noah tinha apenas 8 anos, realmente deve ter sido uma cena muito traumatizante para ele. Não quero nem pensar no que eu faria se perdesse meu pai de uma forma tão cruel assim.

- Acontece que eu descobri umas coisas sobre ele à algumas semanas atrás...

- O que você descobriu, Noah?

- Parece que meu pai não era o herói que eu pensava que ele era. Parece que ele não  era uma boa pessoa. - seus olhos encheram de lágrimas - À algumas semanas eu fui visitar a minha mãe, eu saí do trabalho e decidi passar na casa dela para ver como ela estava então nem avisei. Quando eu cheguei, a porta estava aberta, como se ela tivesse aberto para receber alguma visita e se esqueceu de fechar de volta. Então,  eu entrei, não foi intencional, mas eu entrei sem fazer barulhos, e quando eu ia entrar na cozinha, eu ouvi uma voz masculina falando com minha mãe, decidi me esconder e ouvir a conversa,  pensei que minha mãe estava saindo com alguém, normal. Mas ao ouvir a conversa eu vi que se tratava de outra coisa. - Noah olhou para baixo tentando encontrar forças para continuar. Eu segurei suas mãos que estavam entrelaçadas sobre a mesa. Ele me olhou.

- Continua... - eu sussurrei com um ar de 'Eu estou aqui com você '.

Noah engoliu em seco e continuou.

- O homem que tava conversando com a minha mãe era alto e usava uma jaqueta de couro, na verdade toda a roupa dele era bem cara. Eu consegui ouvir a conversa, eles estavam falando do meu pai. A jaqueta dele tinha um símbolo atrás, um Pitbull, e embaixo do Pitbull estava escrito: 'Pitbull's da Estrada'. Eu não entendi muito bem na hora, mas depois eu pesquisei na internet o que aquilo significava e liguei com a conversa que escutei.

- E o que era? - perguntei muito curiosa e com medo da resposta.

- "Pitbull's da Estrada" é uma Gangue de motoqueiros muito perigosos que viajam pelo país. Na maioria das vezes em que agem eles são bem discretos, aparentemente eles são muito poderosos também já que a polícia faz de tudo para não se meter com eles. Eles roubam, matam e controlam comércios e coisas parecidas. E parece que... meu pai já foi o líder deles.

Oh meu Deus, Noah!

Uma doce meninaOnde histórias criam vida. Descubra agora