Capítulo 6

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Navegando no teu mar

Flutuando no teu ar

Mergulhando em tua luz, vida

Deslizando no teu céu

Me aquecendo em teu calor

- Garota Dourada - Rádio Táxi


Por que uma coisa se torna irresistível assim que passa a ser proibida?

A Mônica veio para essa festa disposta a não ser exigente, e com o Eduardo ela nem precisava ser. Ela gostou do jeitinho tímido, de como no início da conversa ele manteve os olhos baixos e, aos poucos, começou a se soltar e relaxou. Efeito das cubas libres, com certeza, mas quem nunca apelou para o álcool para se desinibir que atirasse a primeira pedra. Ele acompanhava as palavras com gestos largos, carregados de uma energia mal contida, como se ficar parado fosse um grande esforço. Até mesmo a conversa um tanto quanto infantil tinha lhe agradado. Mais ainda, era a ingenuidade, a falta de malícia que estavam tornando impossível se levantar e se afastar dele.

Se fosse possível, ela trancaria o Eduardo numa gaiola para impedir que o mundo manchasse toda aquela inocência e bondade. Como ela queria ser daquele jeito! A Mônica não se lembrava de um tempo em que seus olhos não viam tudo através de um filtro pesado e desconfiado. Ela lutava para não ser dominada por aquela escuridão. Ela queria acreditar na boa vontade das pessoas, e o que era tão cansativo para ela, parecia vir com tanta naturalidade para ele. Esse instinto de proteção acentuado, a vontade de poder ficar perto para sempre, de morar dentro dele, envolvida pelo calor e vivacidade que ele tinha de sobra era, ao mesmo tempo, assustador e convidativo.

Dezesseis anos!

Isso não dava para ignorar. O Eduardo não podia votar, nem dirigir, nem beber, nem entrar em nenhuma das boates que ela gostava tanto de frequentar, muito menos ir a um motel. Não que ela estivesse cogitando levá-lo a um motel. Era evidente pela falta de confiança e pela maneira que ele engolia em seco cada vez que ela cruzava as pernas ou brincava com o cabelo, que ele nunca tinha feito o que se fazia num motel.

E se ela queria que ele não fosse corrompido, ela precisava resistir à tentação de fazer exatamente aquilo. Com um ou dois anos de diferença, ela podia lidar, mas cinco eram um obstáculo intransponível, mesmo para ela que não se intimidava com pouco. Era por isso que eles iam conversar, se despedir e ela voltaria para casa com um gostinho amargo de revolta com a vida por ter lhe dado uma amostra do que seria perfeito para ela, só para lhe tomar logo em seguida, mas ela não ia pensar nisso ainda. Eles tinham o resto da noite.

— Sua vez. Você me contou um segredo. Agora você pergunta e eu respondo.

— Tudo bem. — Ele recostou a cabeça no encosto do sofá e virou para olhá-la. — O que você fez de melhor e todo mundo descobriu?

— Se todo mundo descobriu, não é segredo. — Ela riu, se segurando para não tocar nele outra vez porque, meu Deus, era tão difícil parar.

— Não tem problema, me conta o que você fez de melhor.

— Tudo bem. — Ela tinha a história perfeita para impressioná-lo. — Antes de vir morar no Rio, eu era vizinha de um casal com uma filhinha pequena. De vez em quando, eu ficava com ela pra eles saírem à noite. Um dia o marido descobriu que estava com câncer no pâncreas. Um dos tipos mais difíceis de tratar, mas eles lutaram como puderam. Ela largou o emprego pra cuidar dele, e ele se submeteu a todos os tratamentos experimentais e tomou todos os remédios em fase de teste que ele pôde, mas no fim não teve jeito. Ele morreu.

Eduardo e MônicaOnde histórias criam vida. Descubra agora