Todo mundo dizia
Que a gente se parecia
Pois cheio de tal e coisa
E coisa e tal
E realmente a gente era
A gente era um casal
Ah! Um casal sensacional
- Você Não Soube Me Amar - Blitz
A Mônica deu a última olhadinha pela sala do apartamento, não era muito, mas era dela e ela se orgulhava do ambiente acolhedor que tinha conseguido criar apesar do orçamento apertado. Ela ajeitou as almofadas no sofá e pronto. Tudo arrumado para receber a visita. O Eduardo sempre foi pontual, e a qualquer minuto...
O som da campainha acordou as borboletas no estômago. A porta estava a dois passos de distância, mas ela fechou os olhos e contou até dez. Durante a noite mal dormida, passada se revirando nos lençóis, ela tinha viajado entre o arrependimento de ter cedido ao impulso de dar o telefone para o Eduardo e a satisfação de ter tido coragem. A verdade era que ela não tinha tido muitas esperanças de que ele fosse ligar. Não depois de se comportar com tanta frieza e indiferença. O oposto do Eduardo de riso fácil e ingênuo que ela tinha conhecido. E foi por causa da sombra que escurecia um olhar que um dia foi tão claro e brilhante, que ela quis essa conversa. Se os acontecimentos daquela noite desastrosa tinham afetado e mudado a Mônica profundamente, ontem ela viu que o mesmo tinha acontecido com ele. Ela só era mais experiente e usava melhor a máscara de normalidade.
Ela respirou fundo e abriu a porta com um sorriso.
— Oi.
— Oi. — O Eduardo se inclinou para a frente e lhe deu dois beijinhos.
Ele entrou com passos seguros, e gastou alguns segundos estudando a decoração.
— Bacana — ele aprovou. — Se alguém tivesse me trazido aqui sem me dizer que era a sua casa, eu ia saber assim mesmo.
— Obrigada. — A Mônica apertou as mãos trêmulas uma contra a outra sem saber o que fazer desse Eduardo na sua frente. O comportamento dele não podia ser descrito exatamente como amigável, mas ele tinha deixado a barreira com que se blindou no dia anterior em casa, e veio para essa conversa de peito aberto.
Ela não gastou mais do que dois minutos para mostrar o resto do apartamento. O quarto apertado em que mal cabia a cama de casal e o guarda-roupas, o banheiro minúsculo e a cozinha que parecia de casinha de boneca com um mini fogareiro de duas bocas e um frigobar espremido no balcão entre a parede e a pia.
— É uma caixinha de fósforos, mas é só pra mim, e eu nem passo tanto tempo aqui. — Ela deu de ombros, apontando o sofá para ele se sentar. — Você quer um suco? Água?
Durante a tarde, a vontade de comprar uma garrafa de vinho lhe cutucou algumas vezes, mas ela resistiu à tentação. A visita do Eduardo não era social ou para falar sobre amenidades, o objetivo deles era desembaralhar nós antigos e complicados. Foi por isso que ela sugeriu a sua casa ao invés de aceitar o convite do Eduardo para se encontrarem num bar. Eles precisavam de um lugar calmo e privado.
— Não, obrigado. — Ele sentou, esfregando as palmas das mãos na calça. Quando ele respirou fundo, a Mônica se preparou. Ele ia direto ao assunto. — Ontem, eu quase joguei o seu telefone no lixo.
A admissão foi como um soco na boca do estômago.
— E por que você não jogou? — Ela sentou do lado dele, o mais longe possível no sofá de dois lugares, e forçou a pergunta a passar pelo nó da garganta.
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Eduardo e Mônica
Fanfiction"Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer que não existe razão? " - Renato Russo O ano é 1986. Eduardo e Mônica se conhecem e embarcam numa louca história de descobertas e amadurecimento. Uma mãozinha d...