Capítulo 17

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Eu gosto tanto de você

Que até prefiro esconder

Deixo assim, ficar subentendido

Como uma ideia que existe na cabeça

E não tem a menor obrigação de acontecer

- Apenas Mais Uma de Amor - Lulu Santos


A tarde terminava quando o Eduardo entrou em casa na quarta-feira, cheio de indecisão. Ele estava morrendo de saudades, louco para pegar o telefone e falar com a Mônica, mas ele também precisava tomar um banho antes de ir se encontrar com ela. Todo mundo saiu junto de Maricá, e a vantagem que o pai do Renato tinha colocado sobre o seu pai, que ia precisar fazer pelo menos uma parada por causa das crianças, não era tão grande. O resto da família devia estar estourando por aí e de engarrafamento, bastava o enorme que eles enfrentaram na estrada. O Eduardo não precisava de outro na porta do banheiro.

A escolha foi tirada das suas mãos pelo toque alto do telefone ecoando pelo apartamento vazio. Ele voou até o aparelho, porque só podia ser uma pessoa.

— Eduardo... — Foi a resposta ao seu alô, na voz rouca e trêmula da Mônica.

Tamanho anseio numa única palavra que disse tanto. Que suspirou saudade igual à que apertava o peito dele, que sussurrou o mesmo alívio por eles estarem se falando depois de cinco dias de silêncio forçado, e mais importante, que carregava a mesma alegria por eles estarem na mesma cidade, a meros minutos de distância.

— Você usou os seus poderes de cigana? — Ele encostou a testa na parede e sorriu, os olhos fechados. Como ele conseguiu ficar todos esses dias sem ela? — Eu acabei de entrar em casa. Eu nem larguei as bolsas ainda.

— Desculpa! Me liga quando você acabar de chegar.

— Não! Escuta — ele disse rápido e virou o fone para o lado em que ele largou a mochila e a bolsa de viagem no chão com um estrondo. — Pronto! Cheguei.

Ela riu. Será que ela acharia estranho se ele pedisse para gravar uma fita com as risadas dela? Se ele tivesse tido essa ideia antes do carnaval, poderia ter passado todos os dias, o dia inteiro, escutando seu som preferido.

— É que eu cheguei há um tempão, e... Você acha que vai dar pra gente se ver hoje?

— Mônica, a única pessoa que pode impedir a gente de se encontrar hoje é você, se você não quiser.

— Tá brincando? Eu tô pronta. Eu te pego daqui a uma hora?

— Meia hora. Eu só preciso de uma chuveirada. — E nesse caso, uma chuveirada mesmo. Quer dizer... Esquece.

Eles não perderam tempo nas despedidas. Era dia de reencontro e ele precisava agir, e agir rápido. Quando a turma da bagunça chegou, o Eduardo estava pronto para descer e esperar a Mônica.

— Mas já? — A mãe retorceu os lábios, com as mãos na cintura.

— Mãezinha do meu coração. — O Eduardo andou até ela e se curvou par lhe dar um beijo na testa. Era tão engraçado você ser mais alto que a sua mãe. — Eu fiz tudo o que você me pediu nesse feriado, sem reclamar. Brinquei com os meninos, tirei o lixo, lavei a louça, e, a não ser que você tenha ficado escutando as minhas conversas com o Renato, não me ouviu falar da Mônica nem uma vez. E foi tudo maneiro, mas eu tô com saudade da minha namorada e queria sair com ela, posso?

Ele não estava realmente pedindo. Não existia nada mesmo que pudesse impedi-lo de ir ver a Mônica, e sua mãe não tinha um motivo bom o suficiente para fazê-lo ficar em casa, a não ser que ela quisesse dar uma de megera. Mas a tática de humildade dele funcionou, e a expressão da mãe mudou de irritação para arrependimento.

Eduardo e MônicaOnde histórias criam vida. Descubra agora