Considero-me um elemento instável, no sentido figurado e literal da expressão. Lembro-me de andar na escola e o professor me dizer que os elementos mais instáveis tentavam sempre ligar-se a outros de modo a estabilizar, mas para isso teria de se remover certos eletrões. Para mim isto significa que para me tornar mentalmente estável deverei partilhar os meus pensamentos com outra pessoa ou mesmo se quiser amar alguém terei de partilhar os momentos bons e maus da minha vida. E se as pessoas não me quiserem ouvir? Aí vem o sentido literal da expressão, sou demasiado instável a nível psicológico. Tal como os eletrões desses elementos, os meus níveis de energia não se mantêm sempre iguais e vão oscilando sem eu ter controle sobre essas oscilações. Encaro isto como uma instabilidade emocional. Umas vezes adoro partilhar tudo, outras nem tanto e não quero ninguém perto de mim.
Depois de uns anos em tons de cinza, aprendi que nem todas as cores conseguem expressar o que sentimos. Como é que se expressa a alegria só numa paleta do tom cinzento?
Os clientes entravam e saíam, falavam dos seus dias e como os bolos estavam deliciosos. Eu sentia-me feliz por estar rodeada de comida e de estar num bom caminho para a independência. O meu trabalho resumia-se a atender pessoas e servir às mesas, tão simples quanto isso.
Havia momentos em que não havia clientes para atender, então eu simplesmente me sentava e observava o mundo à minha volta. Dizem que podemos conhecer que tipo de pessoa são simplesmente pelos seus gestos. As crianças corriam à volta das mesas, com um sorriso rasgado; os seus pais diziam-lhe para estarem sossegados, sempre acompanhados do dedo indicador, mas com um pequeno sorriso no rosto.
Os que não tinham crianças, tinham apaixonados e o amor sentia-se no olhar de cada um. Era um olhar intenso e cheio de emoção, um certo brilho também estava presente. Acho que este deve ser o meu estado quando como leite creme, ou quando falam de leite creme e as várias maneiras de o fazer; é como se estivesse no paraíso.A hora da pausa acabou quando um conjunto exagerado de pessoas chegou e, se há coisa que me irrite demais é quando as pessoas não têm moedas, a minha caixa registadora fica quase vazia em menos de nada. Quem é que vem a uma pastelaria e traz notas em vez de moedas?
'Era um croissant misto por favor.' uma voz estranhamente rouca afirmou.
'Olá, bom dia. É um euro e trinta e cinco.' assim que acabo a minha frase o rapaz entrega-me uma nota de cinquenta. Então mas tamos a brincar? Só pode estar a gozar com a minha cara, enfim. 'Não tem moedas?' questionei com um sorriso falso.
'Só tenho esta nota,' ele devolveu o sorriso. 'Talvez amanhã possa trazer moedas.'
Como se pode imaginar lá lhe tive de dar o troco gigante em moedas. Para mim isto é tortura, ninguém devia passar por este tormento todos os dias.
O cabelo do rapaz era num tom claro, tinha pequenas madeixas idênticas às minhas. Os seus olhos eram cobertos por umas pestanas invejáveis e eram claros também . Usava uma camisola larga e uns calções. Nos poucos segundos que o observei deu para perceber que era um rapaz bonito, não se uma beleza extraordinária, mas bonito. Não que eu tenha um desejo enorme de ter um rapaz na minha vida, a minha ideia de independência não inclui essa variante; mas era alguém que eu não me importava de ficar a olhar para a sua cara.As horas foram passando e o meu turno havia acabado. O sentimento predominante era o cansaço associado à dor nas pernas. Era uma dor conhecida, era semelhante às dores que tinha em criança. Os meus pais chamavam-lhes as dores de crescimento; no entanto, em criança eram bem piores. O caminho de volta a casa fez-se calmamente, notavam-se algumas nuvens no céu. Os tons de cinzento iam escurecendo a partir do horizonte até à atmosfera, era o sinal do pôr do sol. Lembro-me há uns anos atrás de este ser o meu momento preferido do dia, as cores eram maravilhosas e o céu tornava-se numa obra de arte. O pôr do sol no verão era o que eu gostava mais; os tons quentes que a estrela irradiava davam-me uma sensação de conforto... Atualmente isso ainda me conforta, apenas não consigo ver as cores.
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Colour // h.s
FanfictionGosto de sonhar, mas sonhar de olhos fechados. Não sou o tipo de pessoa que sonha de olhos abertos, porque essas pessoas são diferentes. As pessoas que sonham de olhos abertos têm expectativas altas e, consequentemente, desiludem-se mais vezes do qu...