Capítulo 5

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"Que as lembranças não sejam o silêncio, não sejam a frase que faltou dizer. Que tudo que passou me faça reviver."

Foi numa ensolarada de setembro que eu conheci o dono do sorriso mais lindo do mundo e ele se chamava Heitor.
Eu tinha 16 anos e estava de férias na casa da minha tia Angela. Eu sempre gostei de passar minhas férias na casa dela, por ser muito perto da praia e se havia uma coisa que sempre me fascinou essa coisa era o mar.
Então todas as tardes eu passeava de bicicleta pela orla da praia e quando me cansava, sentava debaixo da sombra de qualquer coqueiro. Tirava da bolsa meu caderno de desenho e ficava desenhando o que imaginava ter no fundo do mar.
Desenhava sereias, peixes estranhos que eu nem sabia se existiam, castelos submersos, navios náufragados e assim criava uma realidade só minha.
Mas aquela era a forma que havia encontrado para me esconder dos meus problemas de casa. Tinha uma vida adolescente bem conturbada como a maioria tem.
Num dessespasseios pela orla, me distraí olhando a paisagem enquanto pedalava e quase atropelo um garoto. Ao frear caí espalhando todos meus desenhos pelo chão.
Fiquei com tanta vergonha por quase ter atropelado ele que nem conseguia levantar. O garoto me estendeu a mão e me ajudou a levantar. Ele perguntou se eu estava bem e recolheu comigo meus desenhos. Percebi que ele ficou analisando cada um deles,até que me perguntou se eu quem os fiz e lhe respondi que sim. Ele os adorou. Me lembro da cara de entusiasmo que ele fez ao me falar que deveria investir neles pois era nítido meu futuro artístico. Eu só conseguia rir de tudo que ele falava. Então ele pegou minha bicicleta que ainda estava mo chão e viu se estava tudo em ordem. Perguntou para o de eu estava indo e apontei para frente,ele sorriu e disse que também era o caminho dele. Seguimos andando juntos. Ele segurando minha bicicleta ao seu lado direito e eu andando com ele do seu lado esquerdo. Conversamos sobre várias coisas,até que encontramos a sobra de um coqueiro e sentamos pra continuar a conversa. Parecia que eu já o conhecia desde a infância. O tempo passou rápido aquele dia,quando percebi o sol já estava se pondo então me apressei para voltar à casa de minha tia. Quando me afastei cerca de um metro dele, ouvi sua voz gritando:
- Ei,você não me disse seu nome!
Eu apenas acenei me despedindo, até porque, imaginei que nunca o veria novamente pois aquele era meu último dia de férias. No outro dia retornaria a minha cidade.
Naquela noite eu desenhei o rosto dele sorrindo e escrevi:
"O garoto que não sei o nome."
Guardei o desenho na minha pasta junto com todos os outros. Até hoje o tenho comigo.

AcordarWhere stories live. Discover now