Capítulo XXX - O livro

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Boa leitura :D

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     Viktor fitava através da superfície lisa das vidraças de seu quarto a muralha de árvores que rodeavam a mansão. Tudo estava muito silencioso, apenas o chicote do vento era audível, o silêncio era ensurdecedor.

     Ele fazia uma retrospectiva dos últimos momentos que haviam se sucedidos em apenas algumas horas em que resolvera sair e conhecer ares diferentes das rotineiras paredes vinho da mansão, e perguntava-se internamente se por toda a eternidade estaria fadado a ficar confinado entre aquelas paredes.

     Parecia que tudo que fazia, que qualquer cenário novo que pudesse conhecer era sinônimo de perigo e desastre, parecia que qualquer lugar fora daquela mansão não era para ele.

     As últimas cenas onde quase fora preso estavam igualmente presas em sua cabeça. Os gritos de repúdio durante sua fuga, os rostos contorcidos em horror das pessoas naquela feira parecia grudado em frente a seus olhos e o aperto incômodo e doloroso em seu peito ainda estava lá, parecia que tudo estava se repetindo outra vez.

    Era uma sensação infeliz, uma agoniante prisão de lembranças desastrosas onde ele sempre era a fera, o monstro abominável que era sempre repudiado e nunca compreendido. Era doloroso.

     Viktor que tinha uma das mãos pálidas sobre o vidro deixou que a mesma deslizasse pela superfície e então ele agarrou as cortinas escuras e pesadas e as fechou privando o ambiente de qualquer contato com o mundo tenebroso lá fora.

     Ele rodou os calcanhares e sentindo o corpo pesado ele sentou-se na espaçosa cama de lençóis escuros e fitou o ambiente escuro iluminado apenas por uma vela e uma candeeiro sobre a mesa-de-cabeceira. Ele fechou os olhos  e tentou relaxar.

     Era verdade, ele sentia-se cansado, não fisicamente, mas emocionalmente e psicologicamente, era como se a mansão inteira estivesse sobre seus sentimentos esmagando qualquer fio de comodidade e paz que pudesse brotar em si. Era terrível, ele sentia-se fraco, impotente, incapaz de lutar contra tudo que acontecia onde ele estivesse, mas não iria chorar. Não mais.
   
      Por diversas vezes ele chorara, deixou as lágrimas banharem seu rosto mergulhado na mais profunda dor e tristeza, todavia, ele não queria e não iria chorar outra vez. Do que adiantava, afinal? Todos que um dia viram seu sofrimento mal sentiram nada se não repúdio e desprezo quando ele não precisava de palavras de conforto. Chorar o deixava fraco e sua fraqueza o deixava vulnerável a maldição. Não queria mais ser assim, não queria mais sentir dor e render-se sem lutar. Ele aprenderia. Tentaria aprender.

    Ele então deixou os olhos abrirem-se, fitar o espaço tenebroso do seu aposento. Estava tarde, todos já há muito haviam ido deitar-se, mas ele não conseguia. Não quando tinha um pesadelo interno o consumindo. Ele deixou o corpo despencar sobre o colchão fofo de sua cama e fitou o teto.

    Pelos Deuses, quando aquilo chegaria a um fim? Será mesmo que teria de passar toda uma eternidade condenado a ser um monstro? Quando poderia realmente viver, tocar as pessoas sem temer, quando poderia sentir outro sentimento que não fosse medo e tristeza? Viktor estava cansado de perguntar-se aquilo e nunca obter respostas.

   Sem perceber flashes começaram a passar por sua cabeça como se passassem em frente ao seus olhos. Kristen o repudiando, Kristen se desculpando, Kristen e ele valsando, Kristen, Kristen, Kristen... O que estava acontecendo consigo? Outrora seus pensamentos iriam sempre para Marie, sua doce e saudosa Marie; a dona eterna de seu coração. Mas então, se Marie era sua eterna dona, como Kristen ocupava seus pensamentos desta maneira?

Meu Imortal - A Maldição De ViktorOnde histórias criam vida. Descubra agora