Capítulo Oito

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UM ANO DEPOIS

Camila


Estou andando sozinha pela rua, perdida, a procura de alguém que me possa dizer onde estou, mas não passa ninguém, a rua é deserta, e as poucas pessoas que passam, não são pessoas, é igual a um manequim, ser sem vida, não tem rosto, e é branco, muito branco para ser normal.


Assustador.

Saio gritando, em busca de alguém. Esbarro em tudo, parece que as coisas saem de seus lugares para ficar no meu caminho.Começo a correr, meus pulmões fracos, começam o doer, implorando por ar. Ar, preciso de ar.

— Socorro! — Grito, com toda a força que tenho, mas não sai som.

Corro, salto por obstáculos, até que bato em uma parede. Dou meia volta, esperando achar o caminho vazio, mas tudo que vejo é outra parede. Olho o redor e tudo o que vejo são paredes. Paredes tão altas que são impossíveis de ver o fim, vão além do céu. 

Antes que eu possa me desesperar, o chão abaixo de mim se desfaz. E eu estou em queda livre. Grito, mas continua não saindo nada, esperneio, estico os braços, tentando agarrar algo, mas não há nada para agarrar.

E no mesmo estante em que eu estava caindo, estou sendo agarrada por alguém e sendo colocada no chão.

  — Te peguei. — Diz uma voz muito familiar.

  Viro-me e é aí que o vejo, meu coração quase saindo pela boca.

  — Cam! — Grito e corro em meio às lágrimas para abraçá-lo, mas não consigo. No lugar onde ele estava antes, não tem mais nada.

— CAMILA! — Alguém grita.

Acordo com um salto, ainda assustada pelo sonho de todas as noites.

Esfrego os olhos.

Alongo os músculos.

Bocejo.

Olho as horas, 6:55h.

  Bocejo de novo.

  Viro de lado na cama... São 6:55h... Hoje é segunda... Tenho aula as 7:00h...

Caio da cama.

Merda! Estou muito atrasada!

Já ia correndo pelo quarto, por puro reflexo, quando me lembro. Nada disso importa mais, mais um atraso em meio aos milhares que já estão lá não vai alterar o inevitável. Vou ficar de recuperação, igual a todas as outras vezes.

  — CAMILA! — Alguém grita de novo e agora sei que é tia Mel.

JÁ VOU! — Grito de volta e suspiro. Já vou o caralho.

Levanto e ando pelo quarto reunindo roupas. Pego tudo o que vejo pela frente. Uma blusa t-shirt, uma calça jeans, um moletom e um all star.

Paro enfrente ao espelho e me observo. Parece que um passarinho resolveu fazer um ninho na minha cabeça. Com preguiça de pentear, agarro meu velho gorro preto e faço um ótimo trabalho tampando o desastre natural que insisto em chamar de cabelo. Bom, um dia eu já me importei, passava horas arrumando, usava vários produtos. Usava maquiagem, ficava horas só comprando roupas, enfim, me preocupava com a aparência. Tudo passado, nada mais tem sentido.

Vou ao banheiro, faço as necessidades e escovo os dentes tão mal escovados que faria um dentista cometer suicídio.

Resgato a mochila jogada debaixo das roupas sujas. O lugar todo precisando de uma limpeza urgente. Não que eu vá limpa. Bom, quem sabe um dia, que não seja hoje.

FOR YOU - série you | livro umOnde histórias criam vida. Descubra agora