Capítulo Doze

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Camila


            Quando acordo, tenho a leve impressão de que estou mais cansada do que quando fui dormir.


             Me sento na cama e coloco os pés no chão. Arrependendo-me logo depois, parece que o machucado não melhorou nada de ontem para hoje.

             Ótimo, vou ter que ir para a escola de chinelo com o frio desgraçado que está fazendo. Já não basta a simples desgraça de ter que levantar cedo e ir para a tortura, vulgo escola. 

             Já que é inevitável, enrolo uma faixa no machucado, me arrumo tentando evitar o máximo encostar o pé no chão e desço para a cozinha. Por algum milagre divino, consegui acordar na hora e sobrou tempo pra comer alguma coisa.

             Preparo meu café e estou prestes a começar a comer quando ouço:

             — O que houve com o seu pé? — Minha tia pergunta, vindo na minha direção.

             — Cortei com um caco de vidro ontem. — Explico.

             — Tenha mais cuidado então. — Diz um tanto quanto grossa, bebe um copo d'água e vai embora. Parece que alguém está de TPM, essa é a única explicação que eu vejo para que a pessoa mais doce que eu conheça esteja de mal humor.

             Levo o dobro do tempo normal para chegar à escola devido à ação de mancar constantemente. Pra quem estava dentro do horário, estou bem atrasada agora.

             — Hey! — Ouço um grito atrás de mim bem quando já estou passando pelo portão e ignoro. — Estou falando com você! — Continuo ignorando. — Porra mano! Pra uma pessoa com o pé machucado até que esta andando bem rápido em. — Puxo o capuz sobre o gorro e continuo andando.

             Uma mão agarra minha cintura e me vira.  Nick ou Josh esta me encarando agora e o outro segue dando risos.

             — Me solta...

             — Nick, eu sou Nick. — Conclui. — E você sabe muito bem. — Sussurra a última parte.

             — Tinha que ser o mais chato. — Digo e Josh que estava até o momento tentando se manter quieto, solta uma gargalhada.

             — Ta vendo? Sou o mais legal! — Diz e continua com suas gargalhadas.

             — Até parece. — Nick diz e se vira pra mim. — Isso é porque você não nos conhece direito.

             — E nem quero conhecer. — Digo e me viro pra ir embora, só que piso com o pé machucado, solto um grito e acabo caindo no chão.

             Tentativa de saída triunfante: Fail.

             Nick agora se junta a Josh com suas gargalhadas e eu continuo largada no chão. Quando a graça do circo pessoal deles acaba, Nick estende a mão e me ajuda a levantar. E por algum motivo voltam a rir. Quando o segundo ataque de risos acaba, já estou quase indo procurar um algo para jogar neles.

             Sento no banco mais próximo e vou inspecionar o machucado. Meu pé ultimamente só me rende problemas.

             — Droga! — Murmuro quando vejo a situação, a ferida que antes já estava cicatrizando, se abriu e voltou a sangrar.

             — O que aconteceu? — Josh se senta ao meu lado e da uma boa olhada na ferida antes de soltar: — Caralho.

             Fico sem reação por um bom tempo antes de uma faixa limpa cair no meu colo.

             — Toma. — Nick, que até então eu não tinha percebido seu sumiço diz.

             — Obrigada. — Digo.

             Enfaixo meu pé, me levanto com cuidado e sigo em direção às salas de aula.

             — Depois eu que sou o chato. — Ouço atrás de mim. Reviro os olhos e continuo em direção à sala.

             — Ei! Vai com calma ai, Saci. — Josh diz quando eu me desequilibro e me ajuda segurando meu ombro de um lado e Nick do outro. Que humilhante.

            — Obrigada... — Digo quando chegamos à sala. Entro e vejo que eles vêm logo atrás. — Vocês não têm que ir pra aula? — Pergunto.

            — Ela nos ama. — Diz Josh.

             — Essa é a nossa aula. — Explica Nick.

             — Mas eu nunca vi vocês aqu... Ah esquece, estou fazendo confusão. — Bufo.

             Entro na sala e todos me olham torto, sento ao lado de Damien  e ele me lança um olhar interrogativo.

             — Depois explico. — Cochicho.

            — Vejo que a senhorita Living e os senhores Scott, resolveram dar a honra da vossa presença. Bom, como eu estava explicando para o resto da turma, vocês terão que fazer um trabalho sobre diferentes tipos de arte. Vou sortear qual vocês terão que fazer e também seus grupos. — Ouvem-se lamentações na sala toda. — Silencio. Os grupos serão de três, assim, trios. Cada trio terá que trazer um relatório dizendo como surgiu, com que materiais eram feitos, exemplos de artistas e por final, valendo mais da metade do trabalho, vocês terão que fazer a representação dessa arte. Acharam estranho? Bom, não é arte só de desenho e sim: Música, dança, pintura, escultura, teatro, literatura, fotografia e cinema. — Ele escreve os itens no quadro e continua.

             — Vai pela criatividade de vocês. O trabalho define se você reprovará ou não. E agora vou sortear os trios e suas artes.

             Ele começa os sorteios e devo admitir que não gostei nada da ideia. Odeio trabalhos em grupo. Prefiro mil vezes trabalhos individuais. Mentira, prefiro não ter trabalho mesmo.

             Ele finalmente sorteia o nome de Damien e eu cruzo os dedos. Não que eu acredite nisso, se fosse verdade que da sorte, eu já tinha até ganhado na loteria.

             — Escultura, Damien... Karen e... — Por favor, eu! Eu! Eu! — Helena. — Porra! Nunca tenho sorte, nem que seja uma vez na vida.

             — E por final os que sobraram... Camila... — Começo a fazer torcida, mas no fundo já sei muito bem quem sobrou. — Josh... E Nick.

             O que eu falei sobre não ter sorte?

             Ouço um risinho atrás de mim e me viro pra ver Alec e Alex, sentados na mesma carteira, sorrindo brilhantemente. Fodidos. Viro-me e afundo-me na cadeira.

             O resto da aula ficou por conta de reunião de trios. E eu fiz questão de ignorar meus parceiros. Quando o sinal toca, uma mão agarra meu braço e sussurra rente ao meu ouvido:

             — Hoje à tarde, na sua casa.










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