Capítulo Sete

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Camila


Fiquei bastante contrariada em ter que andar novamente na viatura da polícia, mas não tinha outro jeito.

A duração da viagem é de uma hora e meia, e durante esse tempo, Travis tentou puxar assunto, mas quando notou que eu não estava muito disposta, ligou o som numa rádio local e permanecemos calados. Internamente, o agradeci por isso.

As músicas que tocavam, não eram de todas ruins. Eram uma mistura de sertanejo, rock nacional e internacional e pagode. Nunca fui muito fã de pagode, mas era melhor que conversar.

Em algum momento entre Cuida Bem Dela - Henrique e Juliano, - que só piorou o meu estado de espírito. - e Otherside - Red Hot Chilli Peppers começou a tocar About a Girl do Nirvana, o que me fez, por algum motivo, lembrar de Dominick, talvez seja porque ele parecia um pouquinho com Kurt Cobain, vocalista da banda. Isso me trouxe um aperto do peito, misturado com vergonha. Espero nunca mais ver ele... ou não. Ainda não sei o que quero, mas tudo bem, de um jeito ou outro, as chances de eu revê-lo são mínimas.

Pouco tempo depois, chegamos a frente de uma mansão, do tipo que só vemos na TV, com um incrível jardim na frente.

- O que estamos fazendo aqui? - pergunto a Travis.

- Está é a casa de sua tia. – ele reponde simplesmente.

- Espera, o quê?

- Sua tia mora aí. - Repete, com calma.

- Mas isso é uma mansão!

- E eles são ricos. Seu tio é médico e sua tia é juíza, não sei como.

- Como assim não sabe como? - Questiono.

- Você vai entender.

Sem paciência para insistir, deixo o assunto quieto. Saio do carro, pego minhas poucas coisas no banco de trás, fecho a porta e vou indo em direção em mansão.

- Ei. - Chama policial Travis.

Dou meia volta e espero ele falar.

- Se cuida, menina. - Diz com um sorrisinho.

- Ok. - Digo, devolvendo o sorriso. Travis é uma boa pessoa.

Volto na direção da casa e respiro fundo, me preparando mentalmente pra a situação. O que me espera, só Deus sabe.

Quando me aproximo da casa, ouço alguns gritos, música tocando em algum lugar e o que me parece ser o barulho de um liquidificador.

Toca a campainha uma vez. Ninguém ouve.

Toco a campainha pela segunda vez. Ouço alguém gritar para a outra pessoa abrir.

Aguardo. Nada, ainda.

Toco a campainha pela terceira vez. Outra vez, alguém grita para alguém abrir.

De novo, nada.

Toco pela quarta vez, já sentindo certo desespero. Olho pra trás e percebo que Travis já foi embora. Ótimo, nem carona para voltar tenho mais.

Já estava indo para tocar a campainha pela quinta vez quando ouço passos. Sinto meu corpo relaxar, para logo ficar tenso de novo, afinal, não conheço ninguém ali.

E se minha tia for uma sem coração? Que me faça comer restos? Ou talvez, uma espécie de madrasta má, como em Cinderela? Com minha situação, tenho certeza que não haverá fada madrinha, nem príncipe correndo atrás de um sapato de cristal para me salvar.

Ouço os barulhos dos passos se aproximando e logo em seguida, um barulho de porta se destrancando. A porta se abre e revela um rapaz.

- O que é? - Ele diz logo de cara.

Dou um passo para trás, me sentindo ameaçada. Logo, percebo ele avaliar-me e rapidamente, muda sua expressão de carranca para um sorriso.

- Ah desculpe. Oi. - Diz, ainda sorrindo.

- Oi, Melanie está? - Pergunto.

- Está sim, só um segundo, vou chamar. Quer entrar? - Pergunta, dando espaço para eu entrar.

Pego minha bolsa que havia deixado do chão e entro na casa enquanto ele vai para algum lugar. Algum tempo depois ele volta, acompanhada por uma mulher, que tinha um grande sorriso estampado no rosto. Presumi que ela seria mãe do rapaz, por tamanha semelhança.

- Oh, já estava preocupada! Vocês demoraram. - Ela disse enquanto abria os braços para um abraço.

A não ser que ela seja uma boa atriz, ela não parece nada com a madrasta da Cinderela, o que me deixa aliviada.

- Desculpe, é que nos atrasamos. - Respondi.

- Não se preocupe. Como você está? Oh meu Deus. Olhe como você cresceu! Não te vejo desde que era um bebezinho.

Espere, ela já havia me visto? Como só eu não sabia da existência deles?

- Estou bem, na medida do possível... - ela logo me corta e começa a falar novamente.

- Imagino como seja difícil, também não estou bem, afinal ela era minha irmã gêmea... - só quando ela diz isso, começo a reparar nela. Apesar do sorriso que ela carregava, que não combinava em nada com minha mãe, elas era idênticas. O mesmo cabelo ruivo, os mesmos olhos azuis e o mesmo corpo magro. Sempre achei minha mãe linda e com ela não era diferença.

Mas, além do sorriso, o jeito delas era diferente. Minha mãe era fechada e seu estilo combinava com ela, na maioria das vezes ela sempre usava preto. Mas Melanie mostrava ser alegre e suas roupas combinavam. Ela trajava uma blusa branca com uma saia comprida toda estampas com cores vivas e por cima de tudo, havia um avental sujo. Lembrei do barulho do liquidificador e supus que era ela quem estava na cozinha.

-... apesar dela ter sumido. Nunca entendi porque ela não deu notícia, sentimos muito a falta dela. E agora, já é tarde demais. - Notei uma lágrima escorrendo por sua face, mas ela logo tratou de limpa-lá e continuou a falar.

- Venha querida, se sente no sofá, vou apresentar seus primos a você. Carlos, meu marido, não está em casa pois está em seu plantão médico. Mas amanhã você o conhecerá.

Ela nos levou em direção ao sofá e nos sentamos.

- COBY, MEG, DESÇAM AQUI PARA CONHECEREM A PRIMA DE VOCÊS!

Após alguns murmúrios de reclamações, vejo o menino que abriu a porta, que assumo ser Coby, que em algum momento da conversa havia desaparecido e logo atrás vem uma miniatura de Melanie.

- Prima? - Pergunta Coby, com uma sobrancelha erguida.

- Sim, lembra da sua tia Michelle? - Explica Melanie.

- Vagamente, mas eu achei que tivesse um primo, não ela. Não que eu esteja reclamando! - Ele diz enquanto da de ombros, com um sorriso maroto no rosto.

- Na verdade, eles eram dois, os genes dessa família são bastante a favor de gêmeos. Onde está Cameron, querida? - Ela se vira na minha direção.

- Bem que eu queria saber. - Respondo.

- Como assim? - Pergunta Coby.

- Ele desapareceu há dois anos. - Explico.

- Meu Deus. - Murmura Melanie, acompanhada de Coby.

- Tudo bem. - Dou de ombros, apesar de não estar nada bem.

Melanie que estava em um sofá em frente a onde eu estava sentada, vem em minha direção e me abraça. Com força. Admito que receber carinho era bom, ter conforto às vezes é necessário.

Então, sinto bracinhos envolverem minhas pernas e noto a mini Melanie, que conseguir se enfiar entre sua mãe e eu, envolvendo-as. Assim que ela nota que eu estou a observando, ela se solta e da um sorriso sem dentes com as grandes bochechas avermelhadas.

- Oi. – Ela diz enquanto acena.

- Olá. – Sorrio para ela.

No final das contas, acho que a vida por aqui não vai ser tão ruim.

FOR YOU - série you | livro umOnde histórias criam vida. Descubra agora