Prólogo

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2 DE ABRIL, 2000

Logo que se viu livre, Michelle correu contra o tempo e foi visitar a moradora da casinha laranja, que por algum milagre divino não foi soterrada até aquele dia pelo alto barranco acima de onde fora construída.

Chegar ali não havia sido nada fácil. Teve que andar muito, através de trilhas que não havia modo de ter certeza se estavam de fato lá, pois a alta vegetação daquela região estavam acabando de cobrir tudo. Também estava muito escuro, devido às grandes árvores causando sombra e umidade. Além do fato de segurar um recém nascido dormindo em cada braço, braços nos quais já não os sentia a algum tempo por causa dos gordos bebês.

Limpando o suor da testa no obro, Michelle sobe o par de degraus para acessar a pequena varanda da casa e bate na porta.

— Cigana Trisha? — Chama.

Ouvem-se passos dentro da casa, cada vez mais próximos, até que a porta abre, revelando uma adorável mulher, já não jovem há algum tempo.

— Sim? — Diz a cigana, abrindo a porta até o final para que Michelle possa entrar. Sem dizer mais nada, leva a mulher e os bebês até um cômodo, com vários enfeites nas paredes, cortinas elaboradas e um tapete felpudo. Há uma única mesa na sala, com duas cadeiras. Cada uma senta em uma cadeira.

Além de uma música ao fundo, prevalece o silêncio.

— Vai me dizer o que procura vindo aqui? — Trisha finalmente quebra o silêncio.

— Certo, vou direto ao ponto, eu gostaria de saber o que o futuro reserva para meus pequenos.

A cigana parecendo notar pela primeira vez os bebês nos braços de Michelle, fica admirada. E de fato há motivo para isso. Eram os bebês mais lindos que já vira, bem diferente da comum cara de joelho. Os recém nascidos eram donos de grandes olhos azuis que nunca havia visto em seus cinquenta anos de idade, e tinham os cabelos mais negros já vistos, mesmo para um bebê. E uma boca e nariz perfeitos. Tudo na dupla formando um conjunto de rostos angelicais.

— Claro. — A cigana sorriu, feliz em poder fazer algo para as belas crianças.

Michelle, então, esperou quieta enquanto a cigana trabalhava em seu baralho. Dois minutos depois a cigana sorriu.

— Vejo um belo futuro para a pequena...? — A cigana começou.

— Mila. Mila de Camila. — Completou a jovem mãe.

— Pequena Mila. Belo nome. Bem, vejo em seu futuro... Amizades, amizades verdadeiras. Pessoas em que ela poderá realmente confiar. Vejo também amor. Ah o amor! — A cigana suspirou. — Hmm, ela se sentirá um pouco sozinha, apesar de tudo, infelizmente. Mas logo passará. E vejo que seremos parentes no futuro. Um de meus belos netos será o sortudo. — Sorriu Trisha, e apontou para o berço no fundo do quarto, onde dormia dois belos meninos idênticos de aparência recém nascida também.

— E o pequeno... Cameron? — Continuou.

— Sim, Cam. — Confirmou Michelle.

— Bom, Camila quase sempre poderá contar com Cameron — A cigana franziu a testa. — Ele não terá um futuro tão bom quanto o de Mila, se envolverá com pessoas erradas, proporcionando-lhe coisas erradas, no momento errado. Mas, aparentemente, dará a volta por cima disso. — Franziu a testa, mas logo depois sorriu e olhou Michelle com um olhar misterioso. Logo voltou o olhar pro baralho e parou de sorrir.

— Infelizmente, vejo que o seu futuro não será tão bom, ou a falta de futuro. — Agora Trisha olhou Michelle com pena. Mas Michelle não ligou. Tudo que importava era o futuro das crianças. E agora que sabia que aparentemente, ficariam bem, nada importava, nem sua própria vida.

— Bem, obrigada. — Michelle disse enquanto entregava uma nota de vinte reais a cigana, que balançou a cabeça e sorriu.

— Eu não posso aceitar. E nem quero. A bela Mila será a salvação de meus netos. — Disse a Cigana enquanto lançava um olhar de adoração à criança.

— Bem, sendo assim... Tchau. — Despediu-se Michelle enquanto dava um abraço sem jeito, com duas crianças nos braços, na cigana.

Passou pela porta de saída e sorriu. Não se importava mais em ter que voltar por todo o caminho de volta. Enfim, ela poderia ir em paz quando chegasse à hora.

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