Cap. 08

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Engoli seco.

   — C-claro.
   — Eu sei que já são quase dez da noite, mas poderia me ver agora?
   — Agora? Pra quê? — Mordi os lábios.
   — Quero te fazer uma surpresa, por favor.
   — Tabom, onde quer que eu vá?
   — Sabe aquela praça duas ruas após à sua?
   — Sim, sei sim.
   — Me encontra lá.
   — Tabom. — Desliguei o celular.

Tranquei meu diário e o coloquei debaixo do travesseiro. Em seguida corri para o guarda-roupa.

Calma Pete, apenas vista algo que não te faça congelar lá fora e não se esqueça do que escreveu em seu diário. Preciso acabar com isso!

Respirei fundo e coloquei um moletom azul-marinho juntamente com uma calça jeans preta, seguida de um tênis preto com cadarços brancos.
Molhei os lábios com a ponta da língua e desci as escadas indo em direção à porta.

   — Peterson Baker, aonde está indo à essa hora da noite? — Minha mãe me parou.
   — Ahn... — Engoli seco. — Estou me sentindo um pouco enjoado, vou pegar um vento do lado de fora.
   — Hmmmmm. — Ela apertou os olhos e me encarou.
   — Não demore muito, não quero que pegue um resfriado.
   — Certo, se o papai ligar diga que mandei um abraço.
   — Direi.

Quando cheguei à praça Kai ainda não havia aparecido.
Sentei-me em um dos balanços e coloquei meu fone de ouvido.

Alguns minutos depois sinto um toque em minhas costas, era Kai.

   — Desculpa à demora, não estava achando o cobertor.
   — Cobertor?
   — Sim, não iremos fazer um piquenique noturno sentados na grama.

Virei-me para ele eu olhei uma cesta pendurada em seu braço direito juntamente com um cobertor branco com listras azul. Ou seria um cobertor azul com listras brancas?

Ele me puxou até o canto do parque onde havia uma árvore enorme com folhas alaranjadas.
Kai esticou o cobertor sobre a grama e fez sinal para que eu me sentasse.

   — Quer que eu coloque alguma música? — Ele perguntou.
   — Elastic Heart, de Sia.
   — Você quem manda. — Ele pegou seu Ipod.

A música começou à tocar. Ficamos alguns segundos em silêncio.

   — Quer um copo de vinho? — Ele quebrou o silêncio.
   — Está querendo me embebedar?
   — N-não, e-essa não era a intenção. — Ele coçou a parte de trás da nuca e mostrou um sorriso sem jeito.
   — Que pena, adoraria ficar bêbado. — Ironizei. — Aceito sim.

Enquanto ele me servia o vinho eu não parava de falar para mim mesmo: Você tem que acabar com isso, Peterson, romances nunca te fazem bem!

   — O que tinha pra falar comigo? — Perguntei.
   — Nossa, que garoto impaciente. — Ele riu.
   — Não sou impaciente, sou direto. — Dei um gole no vinho.
   — Acho que o certo seria inquieto, não direto.
   — Eu poderia te dar uma resposta bem elaborada pra isso, mas eu sou educado e estou curioso pra saber o que tem à me dizer.
   — Tudo bem. — Ele respirou fundo. — Eu sei que não faz muito tempo que a gente se conhece e que temos esse... Lance, se é que me entende, mas você me faz sentir diferente, você me faz querer ser um cara que não brinca com os sentimentos dos outros, que não fica com um e com outro e só...
   — Kai, aonde quer chegar com isso? O que quer dizer?
   — O que eu quero dizer é que eu gosto de você, de um jeito que nunca gostei de alguém, eu estou apaixonado. E aonde eu quero chegar é nisso... — Respirou fundo mais uma vez. — Peterson, quer namorar comigo?

Silêncio, foi minha única resposta.

Olhei diretamente nos olhos de Kai, suas pupilas estavam dilatadas, e seu olhar demonstrava um enorme desespero, como se sua vida dependesse da minha resposta.

Tomei outro gole do vinho.

   — Kai, você é um garoto maravilhoso, mas não posso te responder isso, não agora. Você pode me dar um tempo pra pensar?

Você pode me dar um tempo pra pensar? Sério Peterson? Que frase mais clichê! Você e a voz da razão sabem que a resposta deve ser não! POR QUÊ EU NÃO CONSIGO DIZER "NÃO"?

   — O tempo que quiser. — Ele mostrou um sorriso.

***

No dia seguinte, logo que cheguei na escola, puxei Susan, Lívia e Rey para o canto.

   — Ai Pete, o que aconteceu? Eu tava com Luke. — Lívia murmurou.
   — Danem-se os namorados de vocês. Nunca achei que iria falar isso mas, temos um código arco-iris.
   — KAI TE PEDIU EM NAMORO!? — Susan berrou.
   — Isso Susan, não quer um mega-fone pra terminar de anunciar pro resto da escola?
   — Dane-se! Conta tudo! — Lívia murmurou.
   — O.k, o.k. Ontem ele me ligou, era umas dez da noite, e pediu pra encontrar comigo, eu topei e nos encontramos na praça perto de casa. Ele tinha preparado um piquenique e me ofereceu vinho, eu aceitei e conversamos um pouco, depois ele se declarou pra mim e me pediu em namoro.
   — E o que você respondeu à ele? — Rey perguntou.
   — Falei que iria pensar.
   — Pete, eu sei que vocês se conhecem à pouco tempo, mas ele te defendeu no meio da escola toda, te deu toda a atenção do mundo, se importa com você e é super legal. Eu sei que você nunca namorou antes mas ele seria um ótimo primeiro namorado. — Lívia falou.
   — Eu concordo com ela. — Susan e Rey falaram.

Encarei os olhares cheios de brilho das três. Elas pareciam mais entusiasmadas que eu.

Apenas ri para elas e entrei na sala novamente. Elas sabiam que eu não queria mais falar sobre aquilo.

Estava faltando apenas alguns minutos para o final da última aula e tudo que minha cabeça pensava era no pedido de Kai. Esse pedido estava me enlouquecendo, tive que evitar ele a tarde toda por causa disso.

De repente meu celular toca, era meu pai.

   — Professor, posso atender o celular? — Perguntei.
   — Lá fora Peterson, lá fora. — Ele estendeu a mão com a autorização para sair da sala.

Puxei o cartão de sua mão e caminhei até a saída.
 
   — Oi, pai. — Atendi.
   — Peterson, está na aula?
   — Na verdade sim, mas o professor me liberou.
   — Certo, como vão as coisas? — Ele perguntou, senti um tom de preocupação em sua voz.
   — Vão bem, melhor agora.

Segurei as lágrimas para não chorar durante a ligação.
Meu pai viaja sempre à trabalho, ter ele em casa é raro. Ouvir à voz dele já me trás saudades.

   — Eu liguei pra sua mãe ontem, ela disse que você foi andar um pouco porque estava se sentindo mal. Está melhor agora?
   — Sim, sim. Não precisa se preocupar.

De repente ficamos em silêncio.

   — Pai? Pode me dizer como conheceu à mamãe?
   — Quer mesmo saber disso agora? Por telefone?
   — Sim!
   — Tudo bem. Estávamos numa festa, ela estava usando um lindo vestido vermelho. Quando eu olhei ela eu sabia que iriamos casar, eu cheguei nela, ela sorriu pra mim e... Bom, acho que você já sabe onde isso tudo vai acabar.
   — Sei sim. — Sorri. — Mas como você teve tanta certeza que era ela?
   — Meu filho, as vezes temos que tomar decisões loucas em nossa vida.

Eu sorri.

   — Muito obrigado pai, mas terei de desligar agora. Foi ótimo falar com você.
   — Igualmente, filho. Beijos, fica bem.

Desliguei o celular e entrei na sala.

Meu coração dizia para mim ficar com Kai, mas minha mente dizia para deixa-lo.

Eu já tinha minha decisão.

Verde - A cor do amor [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora