8. Vermelho da Cor da Amizade

39 6 0
                                    


1

Tem um rapaz na minha rua, tão jovem quanto eu e Taehyung, que me olha curioso sempre que me vê. Loiro e mais baixo do que nós, ele me lembra uma tartaruguinha, os olhos pequenos em um rosto redondinho e fofo.

Sentando no jardim do meu vizinho, lendo enquanto ele pinta, questiono-o sobre o dito cujo assim que ele termina de esboçar um novo desenho e vem para perto de mim.

"Uma tartaruga?!", exclama já dando gargalhadas. Sua voz é grossa e a risada soa confortável, como chá e geleia de morango caseira em uma tarde fria.

"É, e daí? Eu acho!", respondo rindo de volta.

"Falando nele, olha ali!"

Limpando uma lágrima, meu companheiro de toalha aponta em direção ao homem que passa pela rua e nos olha com estranheza. Taehyung acena, ao passo em que o desconhecido, após revirar os olhos, levanta a mão e cumprimenta-o brevemente.

Minha presença parece ser ignorada, mas então percebo seu olhar sobre mim e, desconfortável, aceno com a cabeça. Ele acena de volta antes de ir embora.

"Aquele é o Yoongi. Ele consegue ser chato que nem um velho, mas não se deixe enganar pelo jeito ranzinza: ele gosta de gatinhos e, acredite, é uma pessoa muito carinhosa."

"Ele me olha bastante", comento. "Parece curioso."

"Ah, nem liga. Ele é estranho."

Embora ache engraçado logo Taehyung dizer isso, dou de ombros e me deito de barriga para cima, ignorando o presságio.

No céu, lua e sol compartilham do mesmo espaço enquanto anoitece; o rapaz se deita ao meu lado, também descansando.


2

Corro até a porta quando a campainha é tocada três vezes, ininterrupta.

"Pra que isso?!", exclamo agoniado, procurando o outro pé do chinelo, que havia sido jogado em algum lugar em um momento de frustração. "Que inferno!"

Para meu desespero, a campainha toca novamente. Opto por ir somente de meias e finalmente atendo ao chamado, encontrando um Taehyung sorridente e descabelado com uma muda de flores pequenas em mãos.

"Oi, Hoseok!", ele canta. "Posso entrar?"

Estou cozinhando meu almoço. A panela dá um estalo ao longe, e, enquanto vou conferir estado da comida, meu vizinho entra, coloca a mudinha sobre a mesa da sala e se senta no sofá, esperando.

"Nossa, que chinelo grande!", ouço-o dizer.

Quando o encaro, ele está analisando a peça. A comida está bem, mas não posso dizer o mesmo de mim; sinto minha face esquentar imediatamente e vou até ele, pegando o pé perdido de volta e jogando-o no outro lado do cômodo, ao passo em que ele parece inconformado.

"Por que você fez isso?!", pergunta inocente, quase como uma criança.

"Porque sim. Agora diz, qual o motivo da visita?"

"Ah! É verdade, né. Eu queria saber se você..."

"Calma", interrompo-o, "eu vou ficar chocado? Vou querer desistir da vida, vai ser assustador ou tem a ver com sangue?"

"Eu não sei? Não tem sangue, mas não sei se vai te chocar."

"Então fica pra almoçar e me conta depois. A comida tá quase pronta."

Ele sorri matreiro, levando as mãos à barriga e acariciando-a. Dou risada e ele ri de volta.

"Eu só estava esperando você me convidar."

Vermelho da Cor do CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora