10. Vermelho da Cor da Brincadeira

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1

A sensação de estar em um palco é indescritível. Você só... existe. Existe ao mesmo tempo que todo o público, uma existência única: conjunta. A música começa. Você abre a boca devagar, calmo e sutil, com medo de quebrar o momento; e canta. Canta com todo o seu ser, com a força do seu corpo, da sua alma; você se entrega.

O tempo para.

Em algum lugar no mundo, minha mãe dizia, as pessoas saberão seu nome.

Quando tudo acaba, você caminha até ficar de frente para toda aquela gente que vibra, sorri e chora e se diverte e agradece imensamente pelo prazer, pelo carinho, pelo amor. Sorri de orelha a orelha antes de acenar e se retirar.

Você sai e sente a energia, as ondulações do espaço, uma enorme felicidade e então ouve os gritos.

Os gritos.

As pessoas gritando seu nome.


2

Uma coisa repousa sobre minha testa, meus cabelos são penteados e estou deitado em algo cheiroso, fofo e confortável. Não tenho vontade de abrir os olhos. Está gostoso assim. Dou um sorriso e suspiro, ajeitando-me mais.

"Seok?", uma voz masculina chama.

Eu conheço essa voz.

Espera. O que?!

Abro os olhos rapidamente, assustado e confuso. Taehyung me encara de cima, aparentemente preocupado e aliviado, dando um sorriso de canto quando nossos olhos se encontram. O lugar cheiroso, fofo e confortável? Suas pernas.

Benditas pernas, Kim Taehyung.

Tão logo percebo a situação, a vergonha marca minhas bochechas meio cobertas pela máscara e, agitado, saio do colo do rapaz. Ele me encara sem entender e leva a mão ao meu rosto, tirando o pano úmido de minha testa e apertando-me de forma a moldar um bico.

Meu deus do céu, por que me fazer passar por isso?

"Seok, calma. Calma. Repete comigo o que eu vou falar, tá?"

Assinto lentamente, ainda preso pelo rapaz.

"Fala assim: eu, Jung Hoseok..."

"Eu, Jung Hoseok..."

"Sou muito...."

"Sou... muito..." Ele faz mais força contra mim.

"Chato."

"Ei!", protesto, mexendo o rosto e libertando-me.

Massageio o maxilar enquanto Taehyung ri, a voz rouca sendo projetada pela praça então vazia. Ainda está claro, porém o sol não queima tanto quanto antes. Por quanto tempo eu apaguei? Horas? Antes que eu note, o loiro se levanta e toca meu ombro, piscando quando o encaro.

"Quero te levar a um lugar. Vamos?"

E sai andando, sem mais nem menos, deixando canga e eu no chão, sozinhos.


3

O braço de Taehyung alcança o meu e nos entrelaçamos. Como se ninguém nos visse, sou guiado por ele pelo centro desconhecido, pelo rapaz - pelo homem - que corre pelas ruas tal qual uma criança.


4

Existe uma ponte que une os dois lados da cidade rural. Ela é alta e cinza, de concreto, pesada o bastante para sustentar o trem que passa pelos extremos leste e oeste levando moradores e visitantes de um lado para o outro com rapidez, correndo como se o tempo não existisse. Ela não é tão bonita, sendo honesto, mas também não é feia... Acho que as hastes finas e compridas não combinam com a estrutura comprida.

Vermelho da Cor do CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora