9. Vermelho da Cor das Flores

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1

A temperatura sobe cada vez mais e de repente já é Maio; o sol queima minha pele e me bronzeia e é com certo divertimento que noto que isso acontece até com o vizinho que lembra uma tartaruga, que me cumprimenta sempre, embora mantenha o olhar curioso.

"Ainda é primavera", digo certo dia, limpando o suor da testa. "Vai ficar pior... Eu vou sobreviver até lá sem virar churrasco?"

É uma dúvida real. Sinto como se pudesse estourar como uma pipoca a qualquer instante.

2

Estou no mercadinho quando ele fala comigo pela primeira vez. Sua pele é mais clara do que eu imaginava e ele parece mal humorado, realmente como uma tartaruguinha, em seus shorts cáqui e sua camiseta branca.

"Ei", chama baixo, a voz áspera.

"É... Oi?", retruco nervoso, deixando a cesta no chão e colocando as mãos atrás do corpo.

"Eu acho que já te vi antes... Mas não sei onde... A gente se conhece, por acaso?"

Eu gelo. Um arrepio corre minha coluna e tento sorrir, pela primeira vez conseguindo disfarçar meu medo de qualquer coisa.

Passo um dado. Ok. Agora eu preciso ser convincente.

"Não, que isso... Quero dizer, talvez a gente já tenha se visto em algum jardim, né? Tartarugas gostam de sol, ah...", solto sem pensar.

Missão dada é missão cumprida, comandante!

"Hein? Você me chamou de tartaruga? Eu não sou uma tartaruga!", ele avança bravo, esticando um dedo em minha direção. "Pelo menos eu não pareço com um cavalo!"

"O que?!", exclamo em vão, ofendido, sabendo que a culpa é minha.

Ele vai embora e eu fico parado, envergonhado e querendo enfiar minha cabeça em um buraco.

Por que deus me fez assim? Tão burro!


3

Eu peço desculpas assim que o vejo passar pela rua e ele as aceita depois que Taehyung percebe meu estresse e minha dificuldade e vem me ajudar.

"Vou continuar te chamando de cavalo. Sem piadas sobre tartaruga ou eu te mato, ouviu?"

Acabo caindo na risada assim que ele vai embora e o loiro, segurando a barriga, dá leves tapinhas em minhas costas.

"Eu sabia que você conseguiria, Hoseok! Ele só queria ser seu amigo!"

"Duvido!"

Todo mundo nessa rua parece ser estranho, mas respeito; talvez eu seja o mais estranho daqui, afinal.

4

Passo mal na semana antes da feira da cidade. Dona Taeyeon vem até minha casa para preparar algumas comidinhas que, como ela mesma disse, me ajudariam a sarar mais rápido, e quando chega o aguardado dia estou ótimo de saúde, porém super ansioso.

São horas até decidir uma roupa e mais alguns minutos até juntar coragem para sair do quarto. Tenho medo de estar feio, mas não quero chamar atenção; o impasse me faz quase desistir de sair de casa, porém arranjo forças de lugar nenhum e forço-me a ir em direção à porta.

A campainha toca assim que saio. Taehyung, com um sorriso sapeca, me olha de cima abaixo, piscando um dos olhos antes de ir em direção à própria casa, de encontro à senhora que o espera e me deixando para trás. Sorrio envergonhado antes de trancar a porta e alcançá-los. Os passarinhos estão calmos e venta fraquinho, um ar fresco que difere da onda de calor que vem nos cozinhando vivos.

Vermelho da Cor do CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora