3. Sem luz em seus brilhantes olhos azuis

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As horas pareciam durar dias.

Todas as possibilidades passavam pela cabeça de Daniel.

Pensou em efeitos especiais. Pensou em algum tipo de pegadinha sádica. Pensou se tinha fumado algum cigarro com alucinógeno, se tinha realmente se jogado e agora estava em alguma alucinação enquanto morria.

E também pensou se realmente tinha se encontrado com um fantasma.

Chegou em casa e bebeu três copos d'água. Olhou ao redor, com suspeitas. Viu que tinha duas ligações perdidas de seu pai, mas não se importou no momento. Tirou as roupas ali mesmo e depois passou quase meia hora embaixo do chuveiro, quase paralisado.

Nunca havia se sentido tão nervoso. Foi para o quarto, sentindo sua mente embaralhar. A tentativa de suicídio, Edgar – Tudo parecia passível de questionamento. Ele sempre questionava as coisas (e se questionava também), mas aquilo? Aquilo era bem diferente. Era estranho. Sua cabeça chegava a doer, seu fluxo de pensamentos parecia como um caminhão desgovernado prestes a colidir. O jovem se sentou na beirada da cama e mais uma vez se perguntou se estava ainda vivendo na realidade.

Então, uma bola de papel atingiu sua testa.

Atordoado (afinal, não era apenas só uma bola de papel, como dentro dela havia uma pequena pedra arredondada), ele olhou na direção de onde a bola havia sido jogada. Foi quando notou tinha alguém do outro lado da janela do quarto. Com um cara emburrada, estava Jasmine. Ruiva, baixinha, cheia de curvas, usando uma blusa verde de mangas compridas, calças jeans largas e com óculos escuros.

- Cadê, otário?

- Um bom dia pra você também, Jaz – respondeu Daniel.

- Olha só, eu tô de ressaca e vir atrás de um patético deprê em pleno sábado de manhã é humilhante o bastante.

- Uau. Sutil.

- Não banque o engraçadinho comigo. Você me prometeu uma coisa e eu vim buscar. Agora, vai me deixar entrar pela janela ou vai abrir a porta pra mim?

- Vou abrir a porta pra você.

- Obrigado.

Jaz saiu e deu a volta pela casa, e Daniel saiu do quarto para recebê-la.

***

Ela tinha 23 anos. Cinco anos mais velha que ele.

Tinha fama de muitas coisas entre quem a conhecia. E sem dúvidas, ser paciente não era uma delas.

- Você me disse que me daria na quinta-feira. Hoje é sábado.

- Eu disse que estaria ocupado.

- E eu disse que não dava a mínima. Se eu paguei quando você quis, eu recebo quando eu quero.

- OK, OK. Espere aí na sala. Vou no meu quarto pegar.

Jaz se sentou na sofá da sala de estar. Respirou fundo e ajustou seus óculos. Pegou uma aspirina no bolso, engoliu em seco e esperou. Alguns segundos depois, Daniel voltou do quarto com algo retangular embrulhado em plástico.

- Você não precisava ter jogado uma pedra no meu rosto.

- E nem você ter atrasado sua entrega. Vamos nos considerar quites.

Ela tirou o plástico e revelou o rosto do Coringa rindo do jeito maníaco de sempre.

- Última edição deluxe de A Piada Mortal no Brasil? - ela perguntou.

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