4. Primeira vez

15 0 0
                                    


Setembro de 2016

Cinco meses antes do Baile de Retorno às Aulas


Edgar conheceu a morte antes.

- Ah, qual é!

- Jorge, não. Não vai rolar.

- Nem se eu implorar?

- Pode se ajoelhar! Não vai rolar.

- Mas você me prometeu!

- Quando nós estávamos na sexta série!

- Mas foi promessa de mindinho. Isso não se quebra.

- Oh, Deus. Entra logo, animal.

- YAY!

Jorge Santiago e Edgar Rodrigues eram melhores amigos desde que eram crianças. Estudavam na mesma sala, viam os mesmos filmes. Antes mesmo de Marina entrar na vida deles dois anos antes, e também roubar o coração de Edgar, ambos sabiam que os fios de suas vidas estariam eternamente entrelaçados, de um jeito ou de outro.

Edgar abriu a porta do carona de seu novo carro e deixou Jorge entrar. O garoto alto e esguio olhou tudo ao redor e assoviou.

- Carrão, hein?

- Quem pode, pode.

- Uau, ele nem é arrogante.

- Eu acabei de ganhar um carro. Até ontem tava por aí andando em ônibus lotado às 6h30 da manhã. Tenho o direito de ser um pouquinho arrogante.

- Ah, cala a boca.

Ambos riram, Edgar deu partida no carro e seguiram em frente.

***

Edgar e Jorge sempre saíam com as mesmas pessoas. Não era uma questão de timidez, ainda que Jorge fosse quem tinha mais problemas sendo sociável na equação. Apenas gostavam da rotina e do foco em seus próprios pequenos universos. Às vezes iam com Marina para o cinema ou, como agora iam fazer, saíam com outros amigos do Clube de Direito do Colégio Valfenda: Afonso e Leonardo.

Esta seria a última noite de um deles.

O carro chegou na casa de Leonardo perto das 19h. Edgar buzinou uma vez e um negro gordinho com uma camisa de Stranger Things e óculos redondos vermelhos veio correndo na direção deles. Jorge logo abriu a porta do carro e foi gritando:

- PEQUENO LÉO!

- Grande babaca – respondeu Leonardo.

- Que isso, amigo, que agressividade é essa?

- Foi mal, é que eu tô puto.

- Você fica sempre pistola com alguma coisa – comentou Edgar. - O que foi dessa vez?

- Simplesmente não conseguia mais "mutar" a porcaria do suporte que tava enchendo o meu saco pra poder...

- Ah, não. É coisa de LoL.

- DotA. Tem uma GRANDE diferença.

- Não tem diferença alguma – Jorge falou. - Ambos sugam sua vida social se você deixar, ambos tem uma fanbase de fãs fervorosa, ambos são online, e envolvem, além de comprar roupas para personagens que não existem muito mais do que para si mesmos no mundo real, derrotar outras pessoas que provavelmente fazem o mesmo.

- E você não pode dizer que isso é falso porque basicamente é uma verdade.

- A única verdade para mim é a morte – resmungou Leonardo. - Mas... é, eu concordo.

Todos os Nossos FantasmasOnde histórias criam vida. Descubra agora