2. Na beirada

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O susto jogou Daniel para trás. Ele caiu no chão, batendo com o ombro.

- Mas que...

- É sério - continuou a voz. - Teria que ter um bom ângulo pra ter sucesso. Do jeito que ia fazer, tinha era mais chances de ficar todo quebrado.

Ainda caído, Daniel olhou para quem estava falando.

O garoto estava usando uma calça moletom vermelha, uma camisa listrada manga comprida, e um colar barato do símbolo das Relíquias da Morte. Seu cabelo azul era berrante. Parecia quase ter vida própria tamanha era a intensidade da cor.

Ambos se encararam por um momento até Daniel exclamar:

- Seu cabelo. É azul. Porquê?

- QUÊ? -o garoto pareceu ofendido. - Uma pessoa desconhecida aparece do nada e te impede de se matar, e a primeira coisa que você quer saber é sobre o cabelo dela?!

Ele bufou e se sentou. Seu olhar estava genuinamente indignado. Daniel estava vendo certo ou os olhos do garoto realmente brilharam azuis por um momento?

- Às vezes eu me esqueço do quanto podemos ser superficiais.

- E-e-eu não estava... tentando me matar – Daniel disse ao se levantar, sua voz num tom hesitante.

- Claro. Você estava treinando para as Olimpíadas. Porém, receio que salto ornamental seja feito em uma piscina e exija uma quantidade bem menor de roupas.

- E quem é você pra dizer o que eu estava fazendo ou não? Sem falar que até onde eu estou vendo você não fez nada, só tá aí falando merda.

- Só porque você não está vendo não significa que não esteja lá.

- Isso parece coisa de folhetim de crente.

- Nossa, quanta raiva acumulada. É membro do clã Uchiha?

- De que porra você tá falando?!

- Deus, como é decepcionante ter que interagir com pessoas que não entendem as referências.

- Eu não sou obrigado a entender nada que não queira, assim como não sou obrigado a continuar esta conversa patética. Passar bem – se virou e começou a andar para o outro lado.

- Ei, calminha aí – disse o garoto, estalando os dedos. De repente Daniel sentiu um puxão no bolso direito e quando se virou, seu celular estava na mão do outro.

- Nossa, sério? Oasis? Era realmente isso que queria ouvir pela última vez na vida? Não estou dizendo que é ruim. Adoro. Mas... sério?

- Como... como você...?

O garoto de repente desapareceu e reapareceu ao lado dele, ainda analisando as músicas.

- Olha só, você tem "Million Reasons" na sua playlist. Agora, mesmo não sendo o maior Gaga-fã, é inegável que essa tem o sofrimento musical que eu escolheria se estivesse na mesma situação que você.

-De onde você veio?! Tava bem ali! E agora você... – e então arregalou os olhos. - Você... está me dando... uma crítica?!

- Quê? Claro que não! Só estou dizendo o que faria se estivesse, você sabe, querendo morrer. O que considerando minha atual situação, seria de uma ironia extrema.

Daniel estava furioso.

- Você é insensível assim de natureza ou decidiu dedicar sua vida a como ser cada vez mais escroto?

- Considero como um superpoder – o garoto sorriu. - Mas porque você se importa? Afinal... nem estava tentando se matar.

Os dois trocaram olhares fulminantes, um de ironia e outro de fúria, até Daniel bufar e mais uma vez se virar para o outro lado.

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