15. Pais e filhos

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Março de 2018

Sábado, 09h30

Edgar esperava impaciente.

Depois que a Ordem que Jaz havia lhe jogado ter terminado, ele havia tentado chegar à Daniel. Mas ao ver o estado em que a ruiva o conduzira para o apartamento, achou que era melhor esperar. Então passou a noite inteira indo e voltando do Plano Astral, rodando a cidade, até mesmo passou pelo cemitério. Estava quase de manhã quando ele decidiu se sentar na beira do prédio que ficava na frente onde seu Vivente favorito morava. Estava assoviando pensando no que faria no dia, até que viu um táxi parando na frente do apartamento – e o pai de Daniel saindo de dentro dela.

Olha só quem voltou, pensou. Isso pode ser bom. Ou não. Espero que seja.

Roger Montes era um cara corpulento. Seus cabelos estavam bem penteados, e sua camisa xadrez amarela bem passada, e sua jaqueta preta ainda brilhava. Não aparentava ter a idade que tinha. E podia ver que ele ainda tinha um toque de rebeldia por estar de gravata mas estava também usando All Stars. Poderia se dizer que ele não aparentava ter a idade que tinha. O que denunciava era sua barba já com alguns fios brancos e sua expressão cansada, séria, mas, ao mesmo tempo, amável. Parecia um pouco com Daniel. Nos olhos, talvez?

Era até estranho na verdade.

Edgar ponderou por alguns momentos se seria ético ou não espionar a conversa, ainda mais sabendo que Daniel com certeza o veria (se deixasse, claro). Chegou à conclusão que teria que apostar, então apenas teleportou-se para o apartamento – e ficou invisível.

Roger bateu à porta. Após o som de uma tranca sendo aberta, Daniel abriu a porta, inexpressivo. Apesar do vazio em seu rosto, ele sentiu uma tensão palpável entre pai e filho. O adulto também parecia estar sem saber como agir, então largou a mala que segurava na mão direita e deu um abraço constrangido em Daniel.

- Então... - disse ele. - Você tá bem?

- Tô. E o filme?

- Tá indo bem. O estúdio tá confiante que vai fazer dinheiro. É uma comédia, quase impossível não fazer sucesso no Brasil.

- Não é um pouquinho extremo dizer que o único tipo de filme nacional que dá dinheiro é comédia?

- Talvez seja – disse Roger, tirando a jaqueta. - Mas não sei se me importo o bastante.

Sentou-se no sofá e percebeu que algo faltava.

- Cadê a TV?

- Ela... explodiu.

Uma das sobrancelhas de Roger se levantou.

- ... explodiu?

- Foi um acidente.

- Eu preciso saber dos detalhes?

- Acho melhor não – sorriu amarelo o adolescente.

- Bom... pelo menos é uma desculpa pra gente conversar. Você... tá bem?

- Tô ótimo.

- Mentira – disse Edgar, então se lembrou que deveria estar se escondendo.

Daniel ficou tenso, e tentou discretamente olhar ao redor, procurando o espírito. - Nunca me senti tão bem, na verdade.

- Cara, até ser cara de pau tem limite.

EDGAR, pensou o jovem com força. AGORA. NÃO.

- Não tenho intenção de arrastar o seu pai pra nossa festa investigativa e motivacional – disse o fantasma. - Mas mentir pro seu pai não é exatamente o melhor caminho para a Estrada da Paz.

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