Capítulo 4

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Não preciso nem dizer que estava contando nos dedos para me arrumar e partir para o baile.É a minha primeira vez em um baile!Estou quase roendo as unhas de ansiedade.

Coloco meu vestido preto com paetê colado ao meu corpo,realçando as curvas de meu corpo,porque graças a meu bom Deus e sua generosidade,tenho um belo corpo para a minha idade. Calço uma sandália simples com o salto alto e confortável para dançar a noite toda.Ajeito meu cabelo os deixando solto e com cachos  nas pontas,faço uma maquiagem simples não quero ter problemas mais tarde.Guardo meu celular,dinheiro e um batom na minha bolsa e a transpasso do meu ombro até a cintura.Me olho pela última vez no espelho e sim,estou me sentindo linda.

Desço a escada e escuto um som de buzina.-bem na hora-penso.

Não vejo meus avós em canto nenhum ali embaixo,então saio de casa sem me despedir.Assim que abro o portão,Ágata e tio Gabriel estão parados na calçada,enquanto tia Keila está dentro do carro com o vidro abaixado.

-Vamos!-digo sorridente e animada.

-Bora!-tio Gabriel também está animado,sei que ele é amarradão em festas e tudo o que sei sobre os bailes,ele quem me contou.

Cumprimento Ágata e tia Keila,que não me via a anos e se assustou com meu tamanho.

Entramos no carro e tio Gabriel acelerou rumo a Rocinha.Às vezes gosto de imaginar como seria nossa vida se papai não tivesse dado seu "trono" de dono de morro para o amigo,penso que pelo menos não estaria quase tendo dor de barriga pela ansiedade de conhecer apenas um baile.

O som do carro do tio Gabriel canta uns funk's dos quais escuto em casa e de vez enquando até danço.Ágata sabe todas as letras e cantarola do meu lado,tia Keila mexe no celular e tio Gabriel pela primeira vez na vida,está sério prestando atenção no trânsito.

Percebo que chegamos na Rocinha por conta da movimentação de algumas pessoas com armas e uma pequena fila de carro.Assim que chega nossa vez e tio Gabriel abaixa o vidro,ele é reconhecido e cumprimentado.A passagem é liberada e começamos a subir.Observo pela janela,mas não consigo enxergar muita coisa.As luzes das ruas são fracas demais.Os bares estão lotados,crianças andam pelas ruas e mulheres conversam nas calçadas.

De  onde estamos já consigo ouvir o som que vem do baile,estamos próximos.Só mais a alguns metros, tio Gabriel estaciona o carro e descemos.

-Não sai de perto dela.-tio Gabriel diz para  Ágata.

-Pode deixar.Vou cuidar dela direitinho.-Ágata ri.

-Não preciso de babá.-retruco.

-Isso aqui não é uma brincadeira,Joyce.Qualquer coisa me liga.-tio Gabriel diz e sai em direção a entrada lotada do baile.

Ágata e eu o seguimos.

-Vamos no camarote?-Ágata pergunta quando já estamos lá dentro.

-Não!Quero ficar aqui.-grito para que ela possa me ouvir.Quero ficar aqui embaixo,junto dessas pessoas na pista,que parece bem mais animado do que lá em cima.

-Então vamos beber alguma coisa.-Ágata diz,agarra meu pulso e sai me puxando por entre a multidão até o pequeno bar.

Não sou muito forte para bebidas,então apenas peço uma skol beats.

-Vamos pra pista,quero dançar.-chamo Ágata que estava quase baijando o carinha que nos atendeu no bar.

-Poxa mana,tava quase rolando ali.-Ágata grita em meu ouvido indignada.

-Volta pra lá então.-digo e ela não pensa duas vezes.Ágata caminha rápido para o barzinho novamente  e constato que aquele "vou cuidar dela direitinho" não valeu de nada,mas tá bom,não queria babá mesmo.

Dou mais alguns passos e chego na pista.Levanto minha latinha para cima e me infiltro por entre as pessoas dançando.Paro e começo a dançar a nova música que se inicia.Rebolo minha bunda de um lado para o outro,subo e desço conforme a batida da música enquanto bebo o líquido fraco da minha latinha.Assim que minha bebida acaba,espero que a música termine.

Saio da pista e caminho até o bar.Permito-me a pedir uma caipirinha e espero o rapaz prepara-la apoiada no balcão.Assim que ele termina,me entrega o copo e eu puxo um pouco do líquido pelo canudinho.Queima pela falta de costume.Viro-me para ir até a pista e esbarro em alguém derramando toda minha bebida em cima da pessoa.

-Me desculpa.-digo e olho para cima.Vejo que a garota está enfurecida e tenho impressão que ela está prestes a me atacar.

-Sua desculpa não me adianta de nada,eu continuo molhada!-ela grita.

-Foi sem querer.-tento me explicar,mas apenas sinto a garota puxar meu cabelo e dar um soco em meu ombro,em seguida me empurra fazendo-me cair nas banquetas do bar.

Nunca briguei de porrada na minha vida,mas eu não iria apanhar por uma coisa que aconteceu sem querer.Me recupero do empurrão que ela me deu e vôo para cima dela.Estapeio seu rosto,enquanto ela tenta se defender.

-No meu baile ninguém faz bagunça.Vamos parar com essa porra agora!-escuto alguém gritar,e sou puxada para trás.Olho em volta e todos estão olhando.Que vergonha,quero abrir um buraco no chão e chegar em casa.

-Ela me jogou a bebida e me atacou.Olha,estou toda molhada.-a garota grita para o rapaz ao seu lado que segura sua cintura.-Espero que esteja tudo bem com nosso filho.-ela coloca a mão sobre a barriga e faz uma cara de preocupada.

-Vá se trocar,Kaila.-o rapaz diz olhando em seus olhos e beija  rapidamente o canto da boca de Kaila.-Podem voltar a curtir o baile!-ele grita e a música,que nem tinha reparado que tinha parado,voltou a tocar.

A pessoa que me segurava,me solta e eu me viro indo em direção ao bar.Sinto alguém segurar meu braço fazendo-me parar,e eu giro meu corpo para ver quem é.

-Dessa vez eu vou deixar passar.-o namorado da tal Kaila me diz.Quem esse cara pensa que é?

-E ia fazer o que comigo?-pergunto o desafiando.

-Não vai nem querer saber.-ele fala como se fosse para me amendrontar.

-Pois eu gostaria muito de saber.-coloco as mãos na cintura e espero por sua resposta.

-Não sabe com quem tá falando,mina.-ele diz estalando os dedos da mão.

-Nem você sabe com quem tá falando.-digo.Ah quando ele souber que sou neta do Lorenzo,tenho certeza que vai colocar o rabinho entre as pernas e  ficar mansinho comigo.

-Para com essa marra pra cima de mim,patricinha.Perde a noção do perigo não.

-Não sou patricinha.-digo com os dentes cerrados.Odeio que me chamem de patricinha.

-Patricinha sim.Porque é.-ele joga as palavras pra cima de mim.-Acha que eu não sei  que aqui tá lotado de patricinha que sobe o morro pra abrir as pernas pro dono do morro.

-E daí?Se eu quiser abrir as pernas para o dono do morro eu abro e nem preciso ser patricinha pra isso.Cadê o dono dessa merda?-olho por cima do seu ombro como se estivesse procurando.

-Sou eu e nem adianta abrir tuas pernas pra mim,porque não vou te comer.

Que maravilha.Ele tinha que ser o dono do morro?Putz! Estou brigando com o dono do morro?!

-Nunca abriria minhas pernas pra você.Que ótimo,né?Acho estamos entendidos.-digo dando por encerrada nossa discussão e saio chocando nossos ombros.Olho rapidamente para trás e o vejo estalando o maxilar pronto para me chingar,mas me infiltro rapidamente por entre as pessoas e desapareço da sua visão.

-Caramba,piriga.Tu sumiu.-assusto-me com Ágata.Com aquela confusão toda,nem me lembrei dela.

-Ah,nem te conto.-digo exausta.

-Seu tio nos mandou subir lá no camarote.

-Bora lá então,né?

Tio Gabriel me deu a maior bronca.Em Ágata pensei que ele ia dar uns tapas,mas sei que ele não seria capaz.Por Deus,ele não soube da minha briga com aquela garota idiota.Curtimos o baile por pouco tempo e resolvemos ir embora.Pra mim a noite,com certeza,já tinha que ser encerrada.

A Dama e o Vagabundo 4Onde histórias criam vida. Descubra agora