🍁 DRENADO 🍁

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Entro na sala de aula com passos pesados, minha aparência pálida e olhos cansados revela os vestígios do pesadelo e noites mal dormidas durante a semana. Me sento na minha carteira habitual, mas continuo assombrado pelo vazio nebuloso. As sombras do sonho sombrio e confuso, drenou minhas energia de maneira abrupta. 

Steve, meu colega de classe e amigo próximo, percebeu imediatamente minha expressão de  preocupação se aproximando, lentamente para que o nosso professor não percebe-se. 

- Ei, Vincent, você parece terrível. Alguém está precisando de uma boa noite de sono - diz, com voz preocupada - Sua cara não está nada agradável - Steve aborda com empatia, reconhecendo imediatamente os sinais de que algo está me incomodando. Infelizmente, não tenho força nem para amarrar o cadarço, quem dirá uma resposta sincera. 

Suspiro profundamente, passando a mão pelo rosto cansado antes de responder.

- Sim, estou com intoxicação alimentar. Isso explica as dores e a minha fisionomia. Parece que a sala está girando por conta dos remédios. A enfermaria está um caos. Estou frequentando mais a área médica do que as aulas propriamente ditas - respondo com uma mistura de frustração e exaustão, as palavras carregadas com o peso do fardo. Sinto uma vulnerabilidade da minha parte. 

Steve olha para mim com preocupação, sua expressão demonstrando compreensão e solidariedade.

- Isso parece terrível, Vincent. Eu não posso nem imaginar como deve ser lidar com algo assim. Falou com sua mãe sobre isso? Talvez o nosso diretor ou a nossa terapeuta do colégio, consiga de aconselhar melhor - Steve oferece sugestões com gentileza, preocupado com o meu bem-estar. Ele espera que eu possa encontrar alguma forma de alívio para o que estou passando.

Balanço a cabeça lentamente, meu olhar distante enquanto considero suas sugestões nada reconfortante.

- Ainda não, mas talvez seja hora de não considerar isso. Eu só... Eu só não sei quanto mais tempo consigo suportar, Steve. Ter intoxicação é terrível! - confesso com uma honestidade vulnerável, revelando o peso esmagador que da minha falsa intoxicação alimentar e os efeitos colaterais que ele me causou. A pior parte disso tudo, é que não tem um manual propriamente dito. Aquilo te consume e drena tudo de bom que você tem. E eu não estou falando apenas da minha condição atual.

Steve coloca uma mão reconfortante sobre o meu ombro e me oferece o famoso sorriso solidário.

- Não está sozinho nisso, Vincent. Sabe que pode contar comigo, certo? Mas admita, você está péssimo. É o cara mais azarado que eu conheço - sorriu - Precisa urgentemente de uma cama e um chá quente - Steve é um ótimo amigo, mas só de pensar em tomar chá me embrulha o estomago. A minha preocupação é com o que vem a seguir. 

- Quer que eu te leve para enfermaria? sussurrando para mim - Vamos fugir dessa aula - Connor murmura mesmo, sentindo o peso da responsabilidade sobre seus ombros enquanto observa o professor escrever no quadro. 

De repente, Connor, nosso colega de classe e meu vizinho, se aproxima mais com uma expressão preocupada.

- Ei, Vincent, não está nada bem. Você está congelando. Quer que eu te leve para enfermaria? - pergunta, com gentileza - Vem, preciso te levar antes que vomite na sala de aula - Connor pergunta com preocupação genuína, esperando obter alguma resposta. Valorizo nossa amizade e nossa relação por compartilhar segredos que somente a gente entenderia, mas no momento, preciso e necessito de tempo. 

- Eu... Eu não quero falar com você agora. Desculpe, Connor - respondo com uma mistura de desconforto e relutância, minha mente preocupada com a falta de sono, me causava irritação, fadiga e mau estar. Mas também sou consciente das fofocas que nos cercam. Pessoas são cruéis quando querem, e não é reconfortante saber disso. 

Connor parece surpreso com minha resposta, mas respeita minha vontade de não falar sobre o assunto. 

- Tudo bem, Vincent. Eu entendo. Se você precisar conversar sobre qualquer coisa ou que eu ainda te leve para casa, estou aqui para você, ok? - Connor oferece palavras de apoio e amizade, deixando claro que está disposto a ajudar se eu precisar. Assente com gratidão, me sentindo reconfortado pela oferta de apoio de Connor.

- Obrigado, Connor. Muito gentil da sua parte - digo, com um sorriso fraco - Professor, posso ir ao banheiro? Não estou me sentindo bem - falo com sinceridade, apreciando nossa amizade durante este momento difícil e nada atraente da minha vida. Connor é a última pessoa que gostaria de manter por perto. A presença de todos na verdade, me causa desconforto. 

Tento me concentrar nas palavras do professor enquanto a ansiedade se acumula dentro de mim. As vozes das pessoas na sala de aula parecem mais altas, cada palavra ecoando na minha  mente como um eco perturbador.

As palavras dos outros começam a misturar-se e embaçar minha mente, formando um zumbido incessante que não consigo bloquear. Sinto como se estivesse sendo observado por todos os lados, cada olhar penetrando na pele como uma faca afiada.

De repente, a pressão se torna demais para suportar. O calor subindo por meu corpo, mãos tremendo com uma intensidade quase incontrolável. Me levanto abruptamente da cadeira desesperado. 

- Merda, eu vou desmaiar! - enquanto a aula prossegue monotonamente, sinto as paredes da sala de aula se fechando ao seu redor. A visão começa a turvar e minha cabeça lateja com uma dor aguda e persistente. Luto para me manter de pé, mas minhas pernas parecem feitas de gelatina, prestes a ceder a qualquer momento.

De repente, tudo ao meu redor se transforma em um borrão indistinto, e eu me vejo caindo em um abismo de escuridão. Mal consigo ouvir os murmúrios preocupados dos meus colegas de classe quando a visão falha e eu me sinto deslizar para a inconsciência.

Mas então, como um anjo da guarda emergindo das sombras, Connor está lá, seu rosto uma máscara de preocupação. Ele se aproxima com passos rápidos e decisivos, suas mãos ágeis e confiantes ao redor dos meus ombros frágeis.

Com um esforço concentrado, Connor me segura, seus olhos fixos ao meu com uma intensidade que corta através da névoa de minha mente turva. Ele murmura palavras suaves de encorajamento, sua voz é uma âncora em meio ao caos.

- Vincent, está tudo bem. Eu estou aqui..Estou aqui - diz, ansioso - Professor, vou levar ele a enfermaria. Steve, abri a porta para mim e avisa ao diretor, por favor! - lentamente recupero o controle sobre mim mesmo, minha respiração irregular começa a acalmar e a visão lentamente clareando. Frágil e vulnerável, mas também grato por ter alguém como Connor ao meu lado para ajudar. Mesmo furioso com ele pela noite do ataque, me agarro à sua mão. Eu sabia que não teria sido capaz de passar por isso sozinho, e por isso, agradeço silenciosamente pelo destino por ter colocado ele em meu caminho.

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⏰ Última atualização: May 08 ⏰

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