🍁 ERMOS 🍁

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Hoje, neste tempo que é seu, o futuro está sendo plantado. As escolhas que você procura, os amigos que você cultiva, as leituras que você faz, os valores que você abraça, os amores que você ama, tudo será determinante para a colheita futura.

Passei as próximas semanas tentando desvendar o mistério dos meus vizinhos. Observava as atividades da família, tentando encontrar alguma pista sobre o segredo que eles escondiam. O gato ficava presente, observando tudo com seus olhos perspicazes. Notava coisas que os meus olhos humanos não podiam enxergar. Os irmãos Brown tiveram uma conexão estranha comigo, mas noto que eles sabiam do que se tratava. O intermediário movimenta as peças do tabuleiro, como se soubesse quem daria a cartada final. A sala de estar da casa, era o melhor de todos os cômodos. Era aconchegante e acolhedora. Lembrava a kitnet onde moramos quando eu tinha oito anos de idade.

— Mãe, notou como o nosso condomínio consegue ser um lugar bizarro às vezes? — pergunto, curioso.

— O que você quer dizer, querido? — fala, sorrindo.

— Bem, é só que às vezes parece que há algo estranho acontecendo por aqui. Você já percebeu? — não posso ser o único que pensa desse jeito.

- Ele voltou a frequentar seus sonhos? - questiona enquanto, põe a xicara de chá na mesa de centro - Sabe que pode contar comigo, não é? Tem algum motivo para ele ter voltado a te atormentar - atormentar não seria a palavra certa, mas sim, pequenos alertas do que esta por vir. Suas aparições estão se tornando cada vez mais frequentes.

— Mas, mãe, ele não está me atormentando. Coisas estranhas acontecem aqui. E eu sei que você senti isso. Por isso que o intermediário voltou a falar comigo — continuo insistente.

— O que você quer dizer com "coisas estranhas"? — indaga, levemente preocupada.

— Bem, é difícil explicar. Eu ouço ruídos estranhos à noite. E algumas vezes, sinto que estou sendo observado. Não pelo intermediário —  digo, hesitante. O intermediário até certo ponto, tornou-se minha babá.

-— Não confie. Ele apareceu por alguma razão — diz, fechando as cortinas da sala de estar — Coisas estranhas sempre acontecem quando ele reaparece. Isso não é bom — sua voz treme, toda vez que pensa no intermediário. As fases sombrias nunca voltaram. Deve ser o motivo da sua apreensão.

— Eu sei que pode parecer bobagem, mas ele está como antes — digo.

— Nossa mente pode pregar peças em nós de vez em quando. Ele pode estar se aproveitando disso. Não deixe se abalar por palavras bonitas, querido. Me ajude a fechar as portas e janelas da casa. O segurança do condomínio mandou todos os moradores trancar tudo depois do toque de recolher — os ataques pioraram nas últimas semanas desde que chegamos. Por conta disso, todas as pessoas que moram num raio de cinco quilômetros, devem acatar o toque de recolher feito pelos policiais.

— Pode ser apenas uma coincidência. O intermediário sabe que existe algo maior — aviso, pegando sua xicara de chá e pondo em cima da mesa de jantar.

— Coincidências deixaram de existir, assim que você nasceu. Tem haver com esses ataques? — inspeciona.

- Mais ou menos. Sugiro a você que não venha quando o sol se pôr. É quando o animal sai para caçar - o intermediário diz muito pouco sobre a criatura. Antes de acordar uma voz ecoa no meu cérebro dizendo: - Sob a luz do luar, os gritos vão te atormentar.

— É só um animal, Janssen — é isso que acontece quando você abrir as comportas do inferno. quando tocam em feridas, medos e vazios ancestrais

— Nunca foi, mãe. Cuidado! — mergulhar na escuridão e nas sombras tem sido uma tarefa árdua. Aflição e angustia, andam juntas através das almas a minha volta.

BITTEROnde histórias criam vida. Descubra agora