Capítulo 1

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Morar longe do Instituto nunca foi um problema, mas, hoje, só por hoje eu gostaria de morar mais perto.

O sol escaldante queima minha pele clara, e o cabelo falso que meus pais chamam de peruca está suando. Cogito tirá-la, porém me lembro do conselho dos meus pais "aconteça o que acontecer nunca tire a peruca, nunca deixe que vejam seu verdadeiro cabelo".

Uso perucas desde que me lembro. Segundo meus pais a cor do meu cabelo é ruivo -  seja lá o que isso significar - e incomum, não existe outro igual. A nossa sociedade não é receptiva a coisas incomuns por isso eu preciso escondê-lo.

Avisto o muro do Instituto e apresso o passo antes de derreter completamente, a última árvore pela qual passei ficou a quilômetros de distancia, e a minha frente apenas o deserto.

Estudo no Instituto de formação desde os 8 anos e esse é meu último ano. Se dissesse que sentirei falta estaria mentindo, mas, faria tudo de novo se pudesse evitar o que vem pela frente.

Os 18 anos de uma mulher trazem o desconhecido, e eu sempre temi o desconhecido. Os meus pais também, eles evitam esse assunto sempre que o mesmo vem a tona, entretanto o grande dia está chegando, e eles não poderão mais postergar essa conversa.

Chego a entrada do Instituto, mostro meu cartão de identificação e entro.

Sou imediatamente inundada por um mar de estudantes usando uniforme cinza.

Abro caminho procurando um rosto em particular.

Avisto um emaranhado de cabelos castanhos familiar e me aproximo.

— Kara?!

Ela se vira e um sorriso enorme invade seu rosto.

— Tah!

Kara corre em minha direção e me dá um de seus abraços esmaga ossos.

— Você quase chegou atrasada de novo! — ela me repreende me soltando.

Suspiro a puxando para um canto.

— Eu sei, eu sei. Tenta dizer isso para os meus pais, a ideia de morar longe foi deles! — digo sentando em um banco de frente para minha amiga.

Ela faz uma carranca, mas, logo um sorriso toma conta de seus lábios.

— Então? Ansiosa para a cerimônia de pares? — ela pergunta animada.

A cerimônia de pares é o evento mais importante de Aquarius, sendo realizado anualmente. Nela são feitos exames nos formandos de 18 anos homens e mulheres, onde serão determinados os melhores parceiros para cada um, caso sobre algum excedente este será mandado para outro país onde poderá encontrar seu parceiro ideal. São medidas criadas para garantir nossa sobrevivência e bem estar.

Eu acabo de completar 18 anos, então esse ano participarei da cerimônia.

— Claro! — minto.

Ela percebe algo, talvez em meu olhar, pois sua expressão murcha e sua testa franze levemente.

— Não parece. — afirma.

— Deve ser o cansaço. — disfarço olhando para os lados. Todas as meninas de Aquarius sempre ficam animadas com a cerimônia de pares, e mesmo que Kara seja minha melhor amiga não quero que ela saiba a verdade. Não estar feliz com a cerimônia não é normal.

Aparentemente Kara compra minha história. Sua expressão volta ao normal.

— Você é tão sortuda! — ela enrola seu cabelo revolto. — Logo, logo vai estar casada e não vai mais precisar estudar. Eu ainda preciso esperar o próximo ano. — ela faz bico.

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