Capítulo 3

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A morte é algo normal, afinal, o destino de todo ser vivo é a morte, cresci aprendendo que morrer nada mais é do que uma nova fase, um novo estágio. Sendo assim deveria ser rotina para mim falar de minha partida não?

Acostumar-se com a morte nunca foi fácil pra mim. Lembro-me quando era pequena e minha tia morreu. Eu não entendia exatamente o que isso significava, só sabia que ela nunca mais voltaria.

Passei uma semana muda, meus pais preocupados acreditavam que eu estava doente, me deram remédios, mas nada adiantou. Enfim um dia eles me encontraram contemplando o lugar onde ela foi enterrada e perceberam que eu apenas sofria de perda.

Meu pai, prático como sempre me explicou que aquilo era normal e quanto antes me acostumasse, melhor seria. Já minha mãe se ajoelhou em minha frente e me disse para não temer a morte, pois esta era necessária e apenas um lugar diferente.

Nunca acreditei em suas palavras.

— Morrer? — encaro-os atônita.

Meu pai acena.

— Eles precisam do sangue de pessoas como você.

— Mas, por quê? — indago fitando-os.

— Nós não sabemos Tandara. — minha mãe admite. — Nós apenas tentamos te proteger.

Levo um minuto para assimilar essas informações. Várias coisas passam em minha mente. A peruca, a casa afastada, a resistência dos meus pais em manter contato com outras pessoas; tudo faz sentido agora.

— Logo depois de seu pai descobrir isso, você nasceu e nós fizemos tudo que estava ao nosso alcance para protegê-la. — ela continua.

— Então eu não posso participar da cerimônia. Eles vão descobrir. — levanto da cama e me apresso em achar uma saída.

Meus pais se entreolham novamente.

— Receio que não há o que fazer querida, tem dois seguranças ai fora, eles vão perceber se tentarmos algo. — meu pai se levanta e anda em minha direção tentando me acalmar.

— Eu não quero morrer! — falo um pouco alto demais.

— Shi... — ele faz um gesto de silêncio.

— Desculpa. — digo respirando profundamente para me acalmar. — Então o que nós vamos fazer?

Minha mãe suspira e balança a cabeça.

— Não há o que fazer. Você precisa participar da cerimônia.

— Mas... — congelo.

Ela se levanta e vai até o seu quarto.

Olho para meu pai em busca de explicação, mas ele parece tão surpreso quanto eu.

Após alguns minutos minha mãe reaparece com algo em suas mãos.

— Eu sabia que isso poderia acontecer. — ela pega minhas mãos e deposita nelas o objeto. As abro e encontro um pequeno recipiente com um líquido vermelho.

— Sangue? — pergunto.

Ela acena.

— Eles vão pegar um pouco do seu sangue para fazer os exames, você só precisa distrair a coletora e trocá-lo por esse.

A olho chocada.

— De quem é esse sangue? — indago.

— Isso não importa agora. O que importa é que você faça o que eu falei. — ela diz seriamente.

— Como eu vou fazer isso? — ando ao seu redor e sento de novo em minha cama. Os acontecimentos dessa noite estão exaurindo minhas forças.

— Você é inteligente Tandara, sei que você vai conseguir. — meu pai finalmente quebra o silêncio.

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