Capítulo 6

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Ele gira a alavanca. Uma lufada de ar gelado chicoteia meu rosto.

— Espera aqui. — ele diz enquanto dá um passo cauteloso para fora do cômodo e estuda a área.

— Pode vir! — ele chama.

Saio da sala e inspiro profundamente. É tão bom poder respirar novamente, mesmo que o ar não seja exatamente puro, qualquer coisa é melhor do que a podridão de outrora.

A escuridão noturna impede minha visão, entretanto consigo ver que estamos em um beco estreito nos fundos do centro de exames.

— E agora, o que vamos fazer? — pergunto ao segurança.

— Agora nós precisamos sair daqui. — ele aponta andando em direção ao fim do beco. Eu o sigo tentando compensar suas passadas largas.

Ele para e observa o movimento da rua. O silêncio predomina. Deve ser quase 8:00 horas da noite, a maioria das pessoas já está dormindo a essa hora. Pelo menos no bairro onde moro - ou morava - não sei como são os hábitos noturnos dos moradores do centro.

Dou um passo a frente e ele me para.

— O que você tá fazendo?! — ele indaga com raiva.

— Saindo daqui! — exclamo o óbvio.

— Você é tonta assim normalmente, ou só hoje? — ele me encara. — A rua pode estar silenciosa, mas eu aposto minha vida como tem vários seguranças escondidos. — ele fita a rua como se quisesse me mostrar algo.

— Então como você espera que a gente saia, senhor inteligente? — Pergunto dando um passo atrás.

Ele olha em seu relógio de pulso, o mesmo que a professora Ruth usava. Apenas funcionários do governo o possuem.

— Toda noite, ás 8:00 horas, um caminhão vem buscar o lixo. A gente entra no caminhão e foge. — ele fala como se fosse simples.

O encaro estupefata.

— E como exatamente faremos isso? — indago.

— Simples. Nós entramos dentro daquele lixeiro e esperamos. — ele aponta para uma grande caixa de metal encostada na parede final do beco. — Enquanto eles retiram o lixo da sala nós entramos no caminhão. — ele fala contente com seu plano.

— Um ótimo plano senhor inteligente, mas, o que faremos se eles olharem o lixeiro primeiro? — retruco.

Ele nem sequer pestaneja.

— Contamos com a sorte. — ele se encaminha para o lixeiro, mas, para me olhando por cima do ombro. — A propósito me chamo Lyon.

— Eu me chamo... — começo.

— Tandara, eu sei. — ele completa.

O encaro boquiaberta.

— Você me conhece?

Ele suspira e recomeça a andar, eu o sigo esperando uma resposta.

— Fui designado para sua segurança, claro que a conheço. Ou achava que conhecia. — ele diz se aproximando do lixeiro e abrindo a tampa.

O cheiro de podridão mais uma vez inunda minhas narinas. Tapo o nariz e me afasto. Lyon nem parece afetado pelo odor.

— Por que exatamente você me salvou? Eu estava fraudando o exame.

Ele abre a boca, mas, a fecha logo em seguida parecendo pensar melhor.

— Tem uma razão para eu trabalhar aqui, imagino que você tem algo a ver com isso. Só espero que eu esteja certo.

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