Capítulo 2

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— Alguém pode me explicar o que está acontecendo? — olho para ambos.

— Tandara, por favor. Obedeça sua mãe! — diz meu pai em tom duro.

Cambaleio, nunca vi meu pai usar esse tom, ele sempre foi gentil e carinhoso comigo, o que me faz ter certeza que o que quer, que eles dois estão me escondendo é mais grave do que eu presumira.

— Claro. — concordo.

Ando até a pequena cômoda que contém meus pertences e pego algumas mudas de roupa. Quero discutir, dizer que a cerimônia é obrigatória, mas, pelas suas caras sei que não estão para discussão. E se eles dizem que preciso ir, então eu preciso ir, afinal os pais sempre sabem o que é bom para os filhos, não é?

— Depois do jantar nosso amigo virá te buscar. Esteja pronta. — ordena meu pai ao sair, minha mãe hesita por um segundo, mas, logo o segue.

Sento em minha cama e começo a arrumar minhas roupas na mochila.

Certo alívio me invade, mas também uma pitada de antecipação, detesto surpresas e ainda assim meus pais estão me mandando para um lugar desconhecido, com pessoas desconhecidas sem ao menos uma explicação.

Quando estou prestes a terminar de arrumar a mochila escuto batidas na porta.

Estranho, pois visitas em nossa casa é algo bastante incomum ainda mais nesse horário.

Fecho a mochila e a escondo embaixo da cama. Ando até a porta tentando não fazer barulho.

A medida que me aproximo da sala ouço vozes cada vez mais altas.

— O que está acontecendo? — meu pai pergunta.

— Poderia chamar sua filha por favor? — responde uma voz feminina muito familiar.

— Claro, assim que a senhora me disser o que está acontecendo. — desafia meu pai.

— Nós iremos explicar tudo quando sua filha estiver presente. Agora o senhor pode por favor chamá-la? — essa voz parece muito com... Professora Ruth?

— Tudo bem. — meu pai suspira.

Ouço passos vindo em minha direção e corro de volta para o meu quarto.

Quando meu pai entra no quarto estou sentada na cama como se nada estivesse acontecendo em nossa sala.

— Tandara, tem pessoas aqui em casa procurando por você. — ele despeja.

— Que pessoas? — finjo inocência.

— Pessoas do governo. Eles precisam falar com você. Vamos. — ele diz aparentando nervosismo.

Ele segura minha mão e me leva de volta para a sala. Confirmo minhas suspeitas ao me deparar com a professora Ruth acompanhada por dois homens.

— Senhorita Brasil. — ela me cumprimenta, ambos os homens apenas acenam.

— Professora Ruth. — a cumprimento e aceno de volta para suas sombras.

— Bom, já que estamos todos aqui vamos direto ao assunto. — ela começa. — Como todos sabem a cerimônia de pares é um evento anual que acontece com todos os nossos jovens de 18 anos, esse ano eu estou encarregada dos exames e fiz questão de vir aqui comunicar as mudanças.

— Mudanças? — minha mãe questiona.

— Sim, senhora Brasil. A cerimônia desse ano foi adiantada.

Meu pai se aproxima e para ao meu lado.

— Adiantada? Isso significa que...

— Isso significa que a senhorita Brasil tem uma hora para se aprontar e se despedir. Ela irá conosco para o centro de exames.

— Mas, por que isso? — minha mãe se exauta. — Todos os anos a cerimônia acontece no último sábado do ano. Por que essa mudança?

— A organização da cerimônia concluiu que esse era um ano perfeito para mudanças. Claro, vocês entendem não?! Tudo que nós fazemos é para o bem da população. — professora Ruth diz com um sorriso congelado em seu rosto.

— Mas, mas... — minha mãe gagueja.

— Claro que para reparar o pequeno imprevisto, estamos dando tempo extra para os preparativos. — a professora continua.
— Claro, não podemos esperar a noite toda, então sugiro que comecem. Fiquem á vontade, nós iremos esperar aqui. — ela gesticula em volta.

Minha mãe é a primeira a demonstrar reação.

— Com toda certeza. Vamos Tandara, Petros.

Seguro sua mão e a sigo. Meu pai continua encarando a professora.

— Petros? — minha mãe tenta novamente.

Ele pisca e nos segue.

Ao chegarmos em meu quarto meu pai sussurra.

— Eu devia imaginar que algo assim aconteceria.

— Você acha que eles sabem de alguma coisa? — minha mãe murmura de volta.

— Eu não sei Flor, tomamos cuidado, mas, eles podem desconfiar. — meu pai anda de um lado para o outro no quarto, aparentando aflição.

Olho de um para o outro esperando que algo comece a fazer sentido, mas eles continuam me ignorando.

— O que vamos fazer? Ela trouxe seguranças não dá pra fugir!

— Fugir? Por que eu preciso fugir? — entro na conversa.

Eles param de repente como se só agora notassem minha presença.

— Você deve se perguntar porquê é diferente, não Tandara? — minha mãe se aproxima e segura minhas mãos.

— Flor... — meu pai a recrimina.

— Quieto Petros, ela precisa saber. Ela precisa estar preparada para o que vai enfrentar. — ela o olha e após um segundo de hesitação ele acena.

Ela me leva até a cama e sentamos.

— O seu pai trabalhava na equipe de exames da cerimônia de pares.

— Eu não sabia. — me espanto. É de conhecimento geral que meu pai Petros Brasil é protetor da fronteira.

— Poucas pessoas sabem disso, ele não era um funcionário importante. Mas a questão é que um dia ele estava passando por um corredor e ouviu uma conversa... — ela olha para meu pai e espera. Ele se aproxima e fala:

— Eu não sei muito bem sobre o que se tratava eu não fazia parte das decisões só acompanhava os jovens até o centro de exames. Porém eu ouvi meu chefe falando com outro homem sobre vermelhos.

— Vermelhos? Como o meu cabelo? — digo tocando minha peruca.

Ele acena.

— Pessoas como você são muito raras, e eles precisam de vocês.

— Por que?

— Eu não sei direito, não ouvi essa parte.

Sinto alívio repentino. Era só isso que eles tinham pra me contar?! Coisas muito piores passaram pela minha cabeça.

— Mas porquê eu fugiria então? Se eles precisam de mim é meu dever como cidadã de Aquarius ajudá-los. — tento compreendê-los.

Eles se entreolham novamente.

— Você não pode ajudá-los querida. — meu pai me olha nos olhos.

— Ué, mas por quê?

— Porque pra isso você precisa morrer.

😱😱😱
E então? Vocês estão tão ansiosos para o próximo capítulo quanto nós?
Se gostaram não esqueçam da estrelinha ⬇⬇⬇
Não dói nada e vai deixar duas pessoinhas muito felizes 😊

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