CAPÍTULO UM

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O que são esses gritos? Todas essas vozes... Será que eu estava morta? Aqui seria o inferno? Droga... Essa dor... Só me lembro daquelas luzes e aqueles olhos, eram tantos... minha cabeça dói...

ESPERE! Algo está me arrastando... NÃO! Algo me queima no braço. Por que as palavras não saem? Eu quero gritar, quero fugir. Vamos, abra os olhos garota!

Kabuchinki... Acorde!

Meu corpo inteiro doía. O que era aquela voz? Tão amedrontada, tão...

– Vamos, acorde!

Foi como um despertar horrendo. Eu tentava respirar naquele ar seco; parecia que tinha voltado à vida, depois de estar muito tempo morta. Meus olhos faziam esforço para se acomodar com a luz forte.

– O que houve? – digo.

Tento seguir com a cabeça a voz que havia falado anteriormente comigo.

– Temos que ir. Corra! Ou eles vão nos matar!

– O que está acontecendo? Mas que por... – antes que eu terminasse de falar, uma criatura com dezenas de olhos surge diante de mim, e tinha exatamente o dobro do meu tamanho, e, incrivelmente patas enormes com unhas grossas e afiadas que podia cortar ao meio qualquer vítima sua. Meu coração tremeu. A criatura não parava de me encarar, um líquido roxo e viscoso saia do que parecia ser a sua boca de tão grande e cavernosa que era por dentro. Minhas pernas ficaram bambas, tive sorte da minha bexiga estar vazia naquele momento, se não, eu teria me molhado ali mesmo. Achei que esse era meu fim, mas por sorte o meu mais novo amigo me puxou com força.

Corremos em direção a uma floresta, mesmo com os tropeços, estávamos bem mais rápidos do que a criatura atrás de nós. Notei que as folhagens de tons azuis dançavam a medida que adentrávamos na floresta.

– Corra, corra! – Gritava ele, me puxando com sua mão áspera, fina e fria. Algo estava estranho. Cerrei os olhos para tentar enxergar com mais facilidade aquela mão... Aquela mão que só tinha três dedos. Parei. Encarei a figura por alguns segundos e um medo tremendo surgiu. Aquele grito tão desejado anteriormente, finalmente saiu forte e aguçado. A outra criatura me encarou assustado.

Kabuchinki, vamos!

Ouvimos urros vindos de não tão longe, e seus olhos se arregalaram ao olhar para trás de mim.

– Vamos... Corra!

Não queria ir, não com ele, mas se eu não fosse com certeza morreria ali mesmo, naquele lugar estranho... Afinal, onde eu estava?

Exatas três luas no céu escuro, meu estômago deu nós estrondosos. Havíamos corrido tanto que eu estava muito exausta.

Encarei o estranho a minha frente e com a luz forte das luas, consegui ver a aparência da criatura: Ele era muito mais alto do que eu. Um esquelético amarronzado. Suas vestes eram sujas e rasgadas, sua cabeça bem oval e cheia de escamas, parecia ter óculos nos olhos, daqueles que lembra fundo de garrafa, além de ter quatro braços longos e finos. Passei meu olhar por ele, tinha só duas pernas, mas quatro braços?! Afastei-me o mais longe que podia dele naquele momento. Seus olhos me seguiram, pelo menos ele só tinha dois, mesmo assim... Era assustador a forma como me encarava.

– Quem é você? – finalmente consigo formar palavras, mas do que isso; estava conseguindo falar, o que era um bom sinal, eu acho. – O que é você? – minha voz sai falha e estranha. Levei as mãos até a cabeça e a balancei diversas vezes. Estava muito confusa com tudo aquilo. Seria um sonho?

– Eu sou Laddminienn, ou melhor, Professor Laddminienn, um brilhante químico de Utelicis. E você Kabuchinki? Que espécime curiosa é você? – Seus olhos piscaram duas vezes e algo como um sorriso medonho surgiu de sua boca. Parecia estar me analisando, como se eu fosse um ratinho de laboratório. Suspirei antes de responder, afinal isso me deixa um pouco aliviada, pois, me matar ele não iria e se fosse apenas algumas experiências... bom, dava para tentar fugir. O pior era que eu compreendia aquela língua tão estranha e complicada.

Encaro-o ainda com medo e tento parecer um pouco mais gentil.

– Eu acho que ainda sou humana e me chamo Daya, prazer em conhecê-lo Professor Laddiphuschitur... – engasgo nas minhas próprias palavras e ele parece se divertir com isso, pois tenho certeza de ter escutado um riso, bem, foi o que pareceu ser naquele momento.

– Professor Laddminienn minha cara. Curioso. Um humano no planeta Úton é realmente espantoso. Dessa vez esses malditos acertaram em cheio na diversão.

Juro que não estava entendendo nada do que ele estava falando. Demorei muito para processar tudo aquilo.

– O que é Ú-ton?

Seus olhos saltaram de alegria, parecia feliz com toda aquela confusão.

– Humanos... – Ele levou uma das mãos dos seus quatro braços para a cabeça, logo em seguida, com a outra mão, ajeitou seu óculos. – Vocês são muito engraçados, ouvi muitas coisas sobre vocês, como por exemplo: Vocês não costumam sair muito para fora! Pois bem Kabuchinki, aqui é Úton, um lugar que tem muita diversão, mesmo sendo seco durante o dia e úmido durante a noite... E sabe quem é a diversão aqui? – balanço a cabeça sinalizando que não. Ele espera que eu diga algo, mas continuo em silêncio, então ele continua: – Somos nós! – seu tom sai amargo e azedo – Horrível não?

Apenas faço que sim com a cabeça. Nem consigo conter minhas lágrimas, elas saem lavando tudo ao seu caminho. Uso a costa das mãos para enxugá-las. Ele ainda me encara, esperando que eu diga algo, mas não consigo. Tudo que penso é em minha família. Quero acreditar que isso seja um pesadelo, que logo meu pai vai me chamar para ir trabalhar. Eu mesma espero no silêncio que isso aconteça, nunca imaginei sentir tanta falta dos gritos da minha mãe me acordando. Preciso acordar...

– Como vim para aqui? – pergunto entre soluços.

– Eles a pegaram, você foi selecionada e agora terá que lutar para voltar pra casa. Esse é o nosso único prêmio.

– Por que eu? – pergunto friamente. Ele parece um pouco assustado e se afasta.

– Não sei, ninguém sabe. Eles simplesmente selecionam, Curioso. Provavelmente terá outro humano por aí... Curioso, nunca imaginei que eles fossem tão longe para colocar humanos no jogo.

– Outro humano? – finalmente consigo esbouçar algo semelhante a um sorriso – Precisamos achá-lo, tenho que sair daqui!

– Não se anime muito. Talvez você seja a única também.

Os Gladiadores do Universo - A Viajante - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora