CAPÍTULO DEZ

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Izáquiton me acompanha até minha cela.

Ele havia dito que colocar uma algema em mim seria uma boa ideia, assim ninguém descobriria que estamos trabalhando juntos em uma fuga.

Assim que passamos pelos guardas no corredor. Notei que todas as celas estavam trancadas.

– O que...

– É pra vocês não se matarem até amanhã.

Izáquiton me interrompe, quase sussurrando para mim.

– O Professor está na dele também? Por favor, eu tenho que vê-lo.

Izáquiton aproxima seus lábios e roça na minha orelha. Percebo que ele adora me deixar nervosa.

– Devo começar a ter ciúmes do Professor?

– Claro que não.

Ele me guia até a cela do Professor. Eu o encontro deitado em um tipo de maca, roncando como sempre. Aparentemente parece bem, não sei o que fizerem com ele, mas fico feliz por vê-lo assim.

Quando caminhamos até a minha cela, dou uma rápida olhada para trás e vejo Kilong sentado, olhando para mim, assinto com a cabeça, entrego o bracelete a Izáquiton e entro na minha cela.

– Até breve Daya.

– Até.

Izáquiton tira as algemas de mim e fecha a minha cela, passando rapidamente pelo corredor. Aproximo-me das grades e chamo por Kilong, ele se aproxima da dele também.

– Kilong tenho um plano, vamos fugir, em breve, prometo.

– Com ele? Nem pensar.

– Acredite, ele vai ser a nossa salvação.

Levanto um pouco a minha camisa e mostro a arma para ele. Kilong me olha assustado e então eu a escondo novamente.

– Mas... Onde conseguiu isso?!

– Foi Izáquiton.

– Você só pode ter ficado sem alguns parafusos nessa sua cabeçinha.

– Kilong...

– A parte que você disse sobre ter um alien inteligente no nosso grupo era realmente verdade ou só estava nos iludindo?

Deito-me ainda perto da grade, olhando para Kilong, apenas dou de ombro e caio no sono profundo.

Depois de alguns minutos me revirando pelo chão, admiti que de fato não conseguia dormir.

Depois de muito pelejar, voltei a ficar de frente com a cela de Kilong. Procurei pensar e colocar tudo no lugar, as coisas haviam acontecido muito rápido. Ok, eu beijei um alienígena?! Ainda mais sendo o futuro rei de outro planeta. Mordo meu lábio inferior. Espero não estar enganada com ele, Izáquiton tem que me tirar daqui. Preciso e devo ir para casa, para a Terra. Só de pensar que amanhã será a primeira luta. Espero não lutar, muito menos que meus amigos lutem, temos que sobreviver até o Chesvik!

De repente, alguém gemeu fortemente de dor. Levantei as pressas e logo pensei no Professor. Corri e segurei com força a grade.

– Alguém abra essa porcaria! – Grito, desejando que algum soldado tenha ouvido.

Kilong não acordara e a cela de Myst ficava muito distante da nossa.

– Por favor...

O Professor gritou escandalosamente.

Vi um dos soldados aparecer, ele abriu a cela do Professor cauteloso e concentrado.

– Deixe-me vê-lo. Por favor. – Choraminguei ao soldado. Ele olhou bem em meus olhos e depois de alguns segundos correu e abriu a minha cela. Sem hesitar, corri para a cela do Professor, o soldado me entregou uma pílula. Então saiu da cela e a trancou, comigo e com o Professor lá dentro.

– Obrigada. – Sussurrei ao soldado, ele apenas assentiu.

Toquei a testa do Professor, ele estava quente e suas escamas estavam bem ressecadas. Fora que, sussurrava palavras em línguas diferentes, das quais mal compreendia.

– Professor... – Digo com uma voz baixa, endireitando sua cabeça na almofada que haviam colocado para ele. – Tome. – Coloquei a pílula na sua boca, ele a engoliu sem questionar. – Está tudo bem?

Kabuchinki?

– Sim.

– Que bom.

– Sei que preferia a Myst, mas creio que ela está dormindo. – Sorri discretamente e o Professor também sorriu. Por um instante seus olhos encontraram os meus e seu sorriso só se alargou.

– Tudo bem. Curioso. Fico feliz que seja você, Anatakibi.

Anatakibi?

– Amiga. Grande amiga.

Sorri e senti uma lágrima escorrer. Dei-lhe um breve beijo em sua testa. Então, ele levou com certa dificuldade uma de suas mãos para limpar a lágrima que havia caído.

– Vamos fugir, eu prometo. - Sussurrei tão baixo, para que apenas ele e eu pudéssemos ouvir.

– Vamos sim. Kabuchinki?

– Sim?

– Cante algo para mim.

Ri ironicamente. Nunca fui boa cantora, tudo bem que gostava de fazer algumas turnês no banheiro, mas era apenas isso. O Professor deve ter ficado meio grogue com a pílula, pois só podia estar delirando para pedir algo assim.

– Eu não sei cantar. – digo finalmente.

– Curioso. Apenas cante.

Semicerrei os olhos, ele não deixou se intimidar por isso, apenas sorriu. Procurei por algo legal, uma música bacana e que eu gostava muito. Lembrei aquela do O Rappa, era uma música que sempre me motivava. Cocei minhas cordas vocais e então comecei:

Em algum lugar, pra relaxar
Eu vou pedir pros anjos cantarem por mim
Pra quem tem fé a vida nunca tem fim
Não tem fim
É!

Se você não aceita o conselho, te respeito
Resolveu seguir, ir atrás, cara e coragem
Só que você sai em desvantagem se você não tem fé
Se você não tem fé

Te mostro um trecho, uma passagem de um livro antigo
Pra te provar e mostrar que a vida é linda
Dura, sofrida, carente em qualquer continente
Mas boa de se viver em qualquer lugar
É!


Volte a brilhar, volte a brilhar
Um vinho, um pão e uma reza
Uma lua e um sol, sua vida, portas abertas

Em algum lugar, pra relaxar
Eu vou pedir pros anjos cantarem por mim
Pra quem tem fé a vida nunca tem fim
Não tem fim

Não tem fim...

Assim que terminei, sabia que minhas bochechas estavam queimando. Não gostava de cantar para ninguém. Ainda mais para alguém que estava sorrindo abobado. No fundo senti vontade de chutá-lo, só não o fiz porque ele estava todo machucado, mas lembraria a mim mesma que depois que se curasse, eu o chutaria.

Kabuchinki a vida nunca tem fim mesmo. No meu mundo, acreditamos que a Ulukky nos criou. Essa fé que você tem, por mais estranho que pareça, nós também a temos.

Sorri orgulhosa de mim mesma. Não importa qual o mundo, galáxia ou planeta, era bom saber que cada espécie tinha sua religião, sua crença. Que sentiam fé, do conhecimento que algo grandioso havia nos criado.

– No meu, a gente o chama de Deus, apenas Deus.

Depois de pagar aquele mico com o Professor, o soldado me levou de volta para a minha cela, eu realmente agradeci a ele pelo que fez, diferente do outro, ele até que foi mais gentil.

Tentei voltar a dormir um pouco. A luta já era daqui a algumas horas, eu acho e corria um grande risco de eu ter que chutar algumas bundas.

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⏰ Última atualização: Oct 11, 2017 ⏰

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