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            Quando vi o Gelcimar, até levei um susto: ele parecia um galã de televisão, lindão mesmo. Como o nosso avô era o mesmo, o tal alemão, ele tinha olhos bem azuis e um cabelo preto lustroso. Acho que usava brilhantina ou gel.
            Ele pegou na minha mão e disse:

- Oi, Taís, você é mais bonita que na fotografia...

- Você tem fotografia minha? - perguntei, um friozinho correndo a boca do estômago. Até a minha boca estava seca.

- Claro que tenho o tio mandou - disse ele, e sorriu com uns dentes bem bonitos e tinha uma falha assim do lado direito, mas não atrapalhava nada, nadinha mesmo.

            Enquanto a gente voltava para casa, o Gelcimar olhava tudo, entusiasmado:

- Puxa, que cidade grande, seu! Nunca vi um mundareu de carro desse jeito. E como tem gente na rua!

- Também, você veio de uma cidadica de nada - Lá todos sabem da vida dos outros: quem nasceu, quem morreu, quem fugiu...

- Fugiu?- estranhei.

- É, fugiu - continuou o primo. - Às vezes, tem casal de namorado que foge...

- Que conversa mais boba - interrompeu o pai. - Como é que vai a cunhada, o mano?

- Mãinha tá boa; painho também - disse o primo. - Mandaram muitas lembranças. E um presente também. Uns doces, que a mãe faz,  que são uma delícia... Se não derreteram pelo caminho... Tantos dias de estradas.

- Você deve tá cansado - disse a mãe. - Descanse bem esta noite pra procurar emprego amanhã.

            Gelcimar sorria pra mim, e o meu coração disparava: bum-que-bum, bum-que-bum, bum-que-bum... Credo, eu tava ficando até tonta. Eu nunca tinha visto olhos tão bonitos daquele jeito...

O portão do paraíso- Giselda LaportaOnde histórias criam vida. Descubra agora