Quando iniciamos a leitura de 4º Gatilho, pensávamos que se tratava de uma história de ação. Qual não foi a nossa surpresa quando nos deparamos com a tag principal mistério/suspense. Isso, no entanto, não parece correto, uma vez que a história não tem elementos suficientes de suspense para ser caracterizada como tal. Não há atmosfera, que é a principal característica do gênero. Portanto, vamos tratá-la como um romance com elementos de ação, e o motivo será explicado mais adiante.
Apesar dos elementos predominantemente de ação, o ritmo não contribui para o andamento da história. Isso é devido à sintaxe complicada, com períodos longos e frases principais invertidas (por exemplo, encontramos um período de 9 linhas). Além de períodos muito longos, o uso dos conectores estão muitas vezes incorretos (principalmente nos 5 primeiros capítulos). É possível ser prolixo sem prejudicar o ritmo, é só saber como equilibrar. A partir do momento que os dois protagonistas se encontram, as reflexões e as interações entre eles tomam a maior parte do capítulo e a ação do plot fica para o finalzinho, como gancho para o próximo capítulo. Nada impede que uma história tenha predominantemente ação e romance, mas o que acontece nesta é que o leitor tem a impressão (pelo menos nós tivemos) que a ação é articulada para que o romance entre os protagonistas aconteça.
Um ponto que podia ser melhor articulado é a escolha do que mostrar e do que não mostrar, já que a narrativa, mesmo sendo feita em terceira pessoa onisciente, acompanha os protagonistas alternadamente. Não é necessário sabermos tudo que se passa na cabeça de um se na mesma cena já sabemos o que o outro está pensando. Isso ocorre na parte em que os protagonistas já interagem, então, como já conhecemos os personagens, deixe que o leitor suponha através dos gestos e reações de cada um. Elejam o que é importante ser descrito para a história. As outras cenas podem ser narradas em resumos.
Em relação às personagens, ambos os protagonistas são complexos. Mas a relação que Orion trava com um desconhecido é fora da personalidade dele. Outra inconsistência é Orion sair à noite sozinho, posto que por toda a história é enfatizado que ele é rico e a cidade é extremamente violenta. Dificilmente o motorista ou o segurança (por mais que ele não trabalhe) estariam ausentes, ou sua amiga não expressaria preocupação dele voltar sozinho. A cena da tentativa de estupro parece um pouco sensacionalista levando em conta as descrições das outras cenas com teor leve de violência. Mas isso vai se resolver conforme a prática desse tipo de cena.
Mas o ponto mais instável do plot é a organização de Leonhard pedir para que ele se aproxime do filho do homem cujo nome estava na lista que eles encontraram. A organização de Pietro sim tem condições de saber do chip na cabeça de Órion (no sentido de ser crível, porque as autoras apontaram as relações). E por isso tivemos a sensação de que a ação está apenas a favor do romance entre os protagonista, o que não é um demérito por si só, mas não condiz com a proposta que a própria história vinha mostrando. Esse tipo de coisa pode acontecer por dois motivos: falta de planejamento ou um movimento natural de mudança conforme as autoras foram escrevendo. Este é um dos problemas de ir postando os capítulo conforme se escreve. Qualquer desvio prejudica o todo e no final será preciso uma revisão.
A dica que damos, além do que já foi dito, é a leitura de distopias políticas clássicas, como 1984, de George Orwell. Pode parecer que não há relação a princípio, mas esta obra equilibra bem a reflexão da personagem, a ação, o romance e o teor político, que é um elemento que 4º Gatilho insinua até o momento, no capítulo 18.
VOCÊ ESTÁ LENDO
#DesafioLGBT: Resenhas (FECHADO)
Non-FictionAqui estão as instruções de como ter seu texto resenhado por nós, juntamente das resenhas dos textos já comentados. Dúvidas serão esclarecidas via comentários.