Eternos - Amar é viver sem medidas, de Kyara S. Summer

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O conto trata de um relato de um jovem apaixonado por seu amigo gravemente doente.

Nota-se desde o princípio a estética de mangá yaoi na narrativa. Mesmo sendo mídias diferentes, a narratividade e os elementos do drama típicos do yaoi estão aqui presentes. Portanto, o tom da narrativa é cheio de metáforas com a natureza, seus personagens se expressam muito com o corpo e há um diálogo ou monólogo importante pré clímax. Para quem não está familiarizado com o tom do yaoi vai perceber que as escolhas de léxico e o modo como as cenas e as personagens são descritas tendem ao romantismo demasiado. Essa é a escolha da autora, mas o leitor tem acesso a isso através da escolha do narrador-protagonista, que pelas indicações das datas nos relatos, intuímos que se trate de um diário.

No final do primeiro relato (datado de 15/05/2011), há um pequeno trecho em itálico. Só mais adiante, já no final, é que sabemos então que o narrador-protagonista chamado Jeff, já adulto, está escrevendo neste diário que mantém desde aquela época e provavelmente esteve lendo essas passagens. Então o tom romântico-yaoi é parte da narrativa desse garoto de mais ou menos quinze anos, que perdeu seu amigo e interesse amoroso. Dito isso, é compreensivo certos exageros romântico nas descrições, mas o diálogo com Cory (o irmão mais velho de Louis) é artificial até para os parâmetros do yaoi.

A narrativa do narrador adulto é completamente diferente, estilisticamente e discursivamente. Seu estilo não é mais romântico-yaoi, e seu discurso tem nas lembranças de Louis uma espécie de entidade mística com quem ele conversa e busca conforto. O Jeff adulto tem uma vida feliz e diz isso ao Louis (como interlocutor hipotético) que a lembrança dele lhe deu esperança. Então o conto traz essa mensagem de amor eterno como algo que ficou cristalizado no passado, como algo puro (justamente porque não foi concretizado, já que Louis morre logo depois das declarações mútuas), e acessível ao longo do tempo com interpretações que Jeff renovou para que se adequassem às suas novas demandas sentimentais.

Não identificamos no texto elementos que justifiquem o subtítulo "A medida de todas as coisas".

Voltando à questão da influência do yaoi, quando passamos características de uma mídia para outra, é necessário um cuidado porque cada mídia tem suas particularidades. Mangá trabalha com narrativas visuais e textuais. E especialmente o mangá yaoi explora muito as metáforas visuais. Quando se passa esses elementos para uma mídia que só trabalha com a palavra, é necessário que as descrições de adequem a esse formato. Não basta descrever o que o autor visualiza; não funciona transpor uma imagem em palavras quando se compõe uma narrativa. A impressão que o leitor tem quando isso acontece é a do exagero. No texto, a escolha das palavras funciona muito melhor que a descrição imagética que se tem em mente.Como a autora explicitou que este é seu primeiro conto sobre relacionamento homoafetivo, a influência do yaoi é perceptível. Com o tempo e o exercício, ela vai naturalmente se diluir e se misturar com muitas outras.

A dica que damos é a leitura de obras do Romantismo, de preferência poetas como Casimiro de Abreu. Também indicamos alguma obra que seja novelização de uma outra mídia (de filmes ou HQs). 

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