Somos apenas amigos.

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  Minha família sempre frequentou a igreja. Eu não entendia bem as coisas que aconteciam lá mas, desde pequena eles me obrigavam a frequentar também. Um dia, quando eu tinha meus 10 anos, minha tia comentou que eu estava ficando muito "rebelde" e tinha que ir a igreja para ficar mais calma. Lá na igreja que minha família frequentava, tinha todo domingo de noite um grupo que ia lá para rezar e essas coisas, e as pessoas tinham no máximo até uns 20 e poucos anos. Ela decidiu então que eu deveria começar a frequentar.

  Bom, fui o primeiro domingo. No começo eu estava achando muito legal, pois as pessoas dançavam músicas contagiantes e tinha toda uma coreografia. Todos sabiam as coreografias e algumas pessoas iam me ensinando a dançar. Achei que seria só aquilo e fiquei feliz, era divertido.

Depois de uns 30 minutos de dança e agitação, todos deram as mãos e começaram uma oração, que eu já conhecia pois via minha mãe orar. Pensei que estava acabando e que enfim eu poderia ir embora. Mandaram que nos sentássemos nos bancos, e foi então que percebi que eu era uma das mais novas alí, com exceção de três garotinhas que estavam a uns 3 bancos a minha frente. Um moço com aparência de uns 20 anos, foi lá na frente, abriu a bíblia e começou a citar uns versículos. Sério? Sério mesmo? Eu não estava entendendo nada do que ele estava falando e estava ficando com sono. Todos os outros ouviam atentamente e eu só queria poder ir para a minha casa. Depois de uns 10 minutos ouvindo aquele moço falar sem parar, alguém se senta ao meu lado. Eu estava sozinha no último banco e as pessoas pareciam não me notar alí. Era um rapaz, bem mais velho que eu, alto, branco, de cabelo castanho escuro, com um skate na mão. Ele estava aparentemente cansado. Ele olha para mim e me cumprimenta.

- Eae mocinha, tudo bem?

- Tudo sim - sinto minha bochecha corar - e com você?

- Estou bem. É nova por aqui, nunca te vi. - Ele pergunta com uma sorriso no rosto.

- Sim, hoje é meu primeiro dia.

- Está gostando?

- Sim, muito.

  Ah, fala sério, por que temos mania de mentir? Eu só queria sair correndo daquele lugar e ir para a minha casa.

- Então vai voltar semana que vem?

- Vou, claro - Não, eu definitivamente não iria voltar na semana que vem.

Ele então fica em silêncio e começa a prestar atenção também. Aff, só porque pensei que tinha encontrado alguém para me distrair. Bom, se passaram 30 minutos, 40, uma hora! UMA HORA ouvindo aquele moço falar! Porém, até que enfim eu poderia ir para a minha casa.

Eu havia ganhado a um mês, um celular simples que minha prima não queria mais e me deu. E estava com ele em mãos. Coloquei ele no bolso e fui em direção a porta da igreja e depois à rua. Quando já havia andando alguns metros, ouço alguém gritar.

- Hey, mocinha! - Olho para trás e é o tal cara do skate - Espera! - Ele corre e me alcança. - Você vai embora sozinha?

- Vou sim, por que?

- Está tarde para uma garota tão nova andar sozinha.

- Tudo bem, eu estou acostumada. - Era óbvio que eu estava com medo de ir sozinha para casa, porém, eu nem o conhecia, não queria aceitar sua companhia.

- Olha, o pessoal, depois dos encontros, senta na calçada em frente a igreja e fica conversando. Não quer ficar um pouco? Depois todos vão embora juntos. É melhor que ir sozinha.

  Realmente, era melhor que ir sozinha ou ir com ele.

- Bom... Tudo bem então.

Volto para frente da igreja e me sento um pouco afastada dos demais, e ele se senta ao meu lado. Todos conversavam de uma forma bem animada e eu queria apenar sumir dalí. Quando começo a viajar em pensamentos, a voz dele me interrompe.

- Você mora próximo?

- Sim, a duas ruas daqui.

- Entendi. E quantos anos você tem?

- 10, e você?

- Nossa! 10? - Ele arregala os olhos - Parece ter 12 ou 13. Bom, eu tenho 22.

- Parece ser mais jovem também. É ruim eu ter apenas 10 anos?

- Não, que isso, de forma alguma. Você é madura para 10 anos.

- Você mal me conhece. Nem meu nome sabe ainda. Como pode dizer se sou ou não madura?

- ... Me desculpe - Ele fala sem jeito - É que seu jeito, sua aparência... Bom, você tem razão, nem perguntei seu nome! Como se chama?

- Molie, e você?

- Mike. É apelido mas prefiro que me chamem assim.

- Tudo bem então, Mike... Olha eu... Não quero ser chata mas, o pessoal aqui está demorando e eu quero mesmo ir para casa.

- Posso te acompanhar?

- Pode sim - Eu não queria a companhia dele mas, era melhor que ir sozinha.

Fomos andando a passos curtos. Ele começou a puxar assunto comigo, falou sobre o trabalho, sobre a igreja e falou como aprendeu a andar de skate. Eu confessei a ele que não me senti tão bem lá e ele confessou que não era seu lugar preferido também. O assunto foi evoluído e quando vi, já estava rindo das piadas bobas dele.

- Vem, sobe no skate!

- Está maluco? Eu não sei andar nisso.

- Eu te seguro, vem!

- Como vou saber que vai mesmo me segurar se eu cair, que não vai me deixar cair e que não vou me machucar?

  Ele então coloca as duas mãos na minha cintura, e sem esforço algum me levanta, bem alto!

- Te segurar é a coisa mais fácil do mundo!

- Okay, eu subo, agora me põe no chão!

Ele me soltou, e subi no skate. Ele foi me segurando, e assim fomos até o portão da minha casa. Lá conversamos muito mais! Ele era engraçado, divertido, e ir com ele para casa me passou segurança! Ele me deu um abraço e eu entrei em casa.

***

Comecei a ir aos grupos, todos os domingos. Ele sempre estava lá, e sempre me levava para casa. Nossa amizade crescia a cada dia mais. Só era divertido ir quando ele estava lá. Porém, as pessoas nos olhavam torto. Talvez pelo motivo de que depois de uns dias, ficamos tão próximos que começamos a andar de mãos dadas, e deitar a cabeça um no outro, a rir e ficar juntos o tempo todo. As pessoas não se aproximavam de mim quando estava com ele. Pareciam que tinham medo dele ou algo do tipo. Ou talvez estranhavam um garota de 10 anos, deitada no peito de uma cara de 22.

Um domingo, quando eu já estava na igreja, ele me manda uma mensagem dizendo que não iria. Poxa, se ele tivesse avisado antes eu nem teria saída de casa. Quando me sentei no banco da igreja, a coordenadora do grupo senta ao meu lado e pergunta:

- O que tem entre você e o Mike?

- Nada, somos apenas amigos.

∆∆∆

Caminhos OcultosOnde histórias criam vida. Descubra agora