Capítulo 3

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O apartamento alugado ficava no terceiro andar de um prédio residencial não muito longe do centro, era uma construção antiga que resistira aos duros anos de crise sem ser vendida e reformada por algum rico empreendedor, as tabuas das escadas rangiam a cada degrau, não tinham elevador e nem carregador, não que ele tivesse malas para serem carregadas.

O número 32 foi o escolhido, vista para a rua esfumaçada apinhada de gente, logo em frene tinha um vendedor de cachorro quente, um jornaleiro e uma funerária.

São Miguel era uma boa cidade, porte médio, uma grande universidade movimentava os habitantes, uma reserva indígena movimentava o turismo e a noite boemia movimentava os bêbados e os vagabundos, além de amantes de boa música, que por muitas vezes também eram bêbados e vagabundo.

A senhorinha que administrava o hotel era uma velha enrugada, ranzinza e de bobes no cabelo, tinha a voz tão ranzinza quanto a aparência.

- Três meses adiantados. Temos agua quente, as vezes, café até as 9, almoço até as 15, não servimos janta e não queremos problemas com a polícia.

Ele riu e ela notou.

- você não tem problemas com a polícia, não é?

- não, não tenho.

- você parece alguém que teria problemas com a polícia. Mas enfim, pagamentos sempre no dia 28, daqui a três meses, claro. Parte dos apartamentos é temporário, mas temos muitos moradores.

Ele foi até a janela e ficou olhando as pessoas passarem lá embaixo.

- acho que vou tomar um banho, a senhora me daria licença?

- claro, claro. Meu nome é Carmelita, mas pode me chamar de senhora, eu gosto. – disse com um sorriso, talvez ela tenha gostado dele, esperou por três segundos mas ele não disse seu nome, fazendo ela fechar a cara e deixar de lado qualquer afeição que poderia ter pelo novo inquilino, isso ficou claro quando bateu a porta ao sair.

Os Contos de São Miguel - volume 1 KarmaOnde histórias criam vida. Descubra agora