Capítulo 8

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Aquela noite ele não saiu, ficou sentado olhando pela sua janela as janelas do prédio em frente, no andar à altura do seu, bem em frente ao seu quarto, morava uma mulher jovem, bonita, cabelos castanhos, devia trabalhar em algum escritório, chegou por volta das 19h00 vestindo um terno, tirou o paletó e o jogou em algum lugar que ele não pode ver, pegou o telefone e desapareceu.

Mais à direita ele podia ver um homem mais velho, devia ter entre 50 e 60 anos, na sacada fumando seu cigarro sagrado de todas as noites, mas o jogou fora no instante que ouviu a porta bater.

No andar de cima havia uma janela cheia de tabuas, outra com vidro fumê e outra fechada por tijolos. Era tudo que podia ver de onde estava sentado.

Não iria inalar o pó magico, como chamaram da primeira vez, queria sentir tudo da forma mais honesta possível, assim como Ricardo o fizera. Honestidade. A verdadeira dor liberta e ela só vem através da verdade. Ouvir aquelas palavras era esperado, não daquela forma, mas não fugiu ao plano, embora precisasse mudar uma parte já que Lizzie provavelmente iria procura-lo.

Ela não devia, todos os amigos deviam está aconselhando ela a não fazê-lo, mas ela o faria cedo ou tarde, sendo assim só precisava cuidar para que fosse tarde.

Pegou o celular que comprara na volta para o hotel e discou o número da Dra. Almeida.

- oi. – ela não atendeu rápido, devia estar ocupada.

- olá.

- então, como está se saindo?

- nada mal.

- você não está usando drogas, não é?

- não, não estou. – mentiu ele e sabia que ela estava ciente de sua mentira.

- então, qual o problema? – ela continuou mesmo sabendo da mentira.

- encontrei uns amigos do passado. Bem, não correu exatamente como planejado. Mas ficará tudo bem, posso mudar meus planos calmamente.

- sabe, de que adianta fazer planos? Estraga a perspectiva do final, deveria ser uma surpresa, não acha?

- não gosto de surpresas, pelo menos quando são em relação a mim.

- você vai atrás dele, não é?

- eventualmente.

- conversamos tanto sobre isso. Você devia...

- deixar com as autoridades competentes, eu sei, mas se eu deixar ele vai escapar como escapou esses sete anos. Ele não sabe sobre mim, não sabe que descobri o segredinho dele e tenho uma vantagem agora, vou pegá-lo, custe o que custar.

- e depois, vai mata-lo?

- provavelmente.

- isso não vai trazer sua irmã de volta.

- mas vai nos deixar quites. Ele tirou parte de minha vida, vou tirar parte da dele, bem, a parte final.

Os Contos de São Miguel - volume 1 KarmaOnde histórias criam vida. Descubra agora