Capítulo 9

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Ele acordou com batidas na porta, olhou o relógio e viu que precisava de pilhas novas, ainda marcava 23h41min, se levantou preguiçosamente e antes de chegar a até a porta congelou:

- Policia, abra a porta.

- eu tenho a chave mestra, deixem-me ir pegar – disse a dona Carmelita.

- não, não vai precisar. – disse ele abrindo a porta.

- Sr. ******?

- eu mesmo.

- precisamos que o senhor nos acompanhe até a delegacia.

- motivo?

- conversamos lá. - disse o policial olhando de canto de olho para a velha sindica.

- me deem um minuto para vestir uma roupa?

- claro – o policial segurou a porta quando ele fia fechar. – porta aberta, por favor.

Ele consentiu apenas com um olhar.

Chegaram a delegacia do centro em menos de dez minutos, as sirenes abriram caminho fácil pelo transito intenso. Não foi preciso algemas, era uma "visita amistosa, apenas para conversar".

Ele teve que esperar na sala do delegado por um bom tempo, ficou olhando um quadro religioso na parede próxima a janela, ele não gostava de quadros religiosos, deixaram deus de lado assim como, ele julgava, deus fizera com ele.

O delegado entrou correndo, o cumprimentou e se sentou a sua frente.

- então, se lembra de mim?

- claro, Sr. Delegado Octavio Massante. O homem responsável pela minha prisão.

- é, exatamente.

- sabe por que estou aqui?

- quer manter a ordem e saber se vou andar na linha, se estou tomando meus medicamentos? Se for para me dizer para ficar longe dela, saiba que não pretendo visita-la, embora, pelo que sei, ela pode vir até mim e não seria cortês ignora-la, sabe, depois de tudo que fiz.

- olha aqui, rapaz, sem gracinhas. Onde você esteve ontem à noite após as 23 horas?

- em casa, se é que posso chamar aquilo de casa, dormindo.

- pode provar?

- tem uma câmera no saguão do hotel, me verá entrando umas 18 horas e me verá saindo acompanhado de seus policiais hoje pela manhã.

- recebemos um chamado, garota de 17, não chegou em casa depois da escola, estudava a noite, trabalhava naquela lanchonete perto de onde você morava, sei que você esteve lá ontem. Sei que ela não foi trabalhar. Encontramos o corpo ontem, sabe onde?

- não, não sei.

- Rua Mirail de Sales, 452. Familiar?

Ele não respondeu.

- nada?

- morta?

- claro.

- eu vendi a casa quando minha mãe morreu. Ela não queria que saísse da família mesmo depois...

- eu posso te manter aqui par...

- mas não vai. Sabe que não tive nada a ver com isso. Não mantei ninguém, não diretamente, e você sabe disso. Garota de 17 anos, deixe-me adivinhar, loira? Acha que tenho fetiches por loiras?

- olha como fala comigo.

- se vai me prender diga logo, ai posso chamar meu advogado, ele cora por hora, sabe.

O delegado quase quebrou uma caneta de tanta raiva.

- se eu descobrir que você tem algum envolvimento nessas mortes...

- mortes? No plural? Eu saí tem dois dias. Agora, adeus.

Quando voltou para o hotel, de ônibus, o que demorou um pouco, ele queria demorar, comprou um jornal na banca que ficava logo em frente. Estava na manchete.

"CASA DOS HORRORES: GAROTA ASSASSINADA EM ANTIGO LOCAL DE CRIME"

- sabia que devia ter demolido.

A casa não recebia visitas desde que sua mãe morreu oito anos atrás, a casa foi vendida quando ele já estava no hospital, a mãe foi cremada, parte das cinzas foi jogada no quintal, assim como parte das cinzas da irmã, o que ele fora relutantemente contra.

Naquela casa, nove anos antes, sua irmã fora brutalmente assassinada. Nunca prenderam o criminoso. Sem pistas. Sem suspeitos. Sem justiça. Mas jurou que um dia iria pegar o desgraçado e nem o surto psicótico de seis anos atrás o impediria.

Os Contos de São Miguel - volume 1 KarmaOnde histórias criam vida. Descubra agora