Kim me deu o mais rápido dos selinhos e virou pra porta no exato instante que ela foi aberta. Minha mãe colocou a lata de tinta no chão, e quando olhou para nós com caras de culpados, deixou as sacolas de compras caírem.
- O-omma! - Meneei a cabeça.
Minhas bochechas estavam queimando por conta de momentos atrás. Kim ficou estático, sem reação, então dei uma leve cotovelada nele.
- Senhora. - Ele reverenciou quase como um sussurro e manteve o olhar no chão. Estava assustado?
Minha mãe cravou os olhos no garoto e soltou a coleira do Hack, que veio correndo me lamber.
- Bom garoto!! - Me ajoelhei e acariciei o pelo sedoso do meu cãozinho.
- O que estavam fazendo? - Ela perguntou.
- A gente... A gente tava na piscina...
Minha mãe passou a mão na testa como sempre fazia quando estava preocupada.
- Amy querida, vá tomar um banho. - Minha mãe falou firme, finalmente desgrudando os olhos de Kim e se virando pra mim.
- Ma-
- Vá. - ela me interrompeu bruscamente.
Busquei os olhos dele, mas não vieram de encontro aos meus. Não tive a afirmação dele de que eu podia ir e que estava tudo bem, então fui para o banheiro preocupada. Fechei a porta atrás de mim e grudei meu ouvido nela, parecia ser um pouco errado bisbilhotar de qualquer maneira, mas algo estava me incomodando.
Há algo errado.
Esperei e esperei e tudo que ouvi foi um longo silêncio mórbido. Eu não fazia idéia do que estava acontecendo lá fora. Quando liguei o chuveiro, tive uma noção menor ainda.
Tomei um banho apressado e passei como um flash pela sala só de toalha, me troquei e ao sair do quarto me dei conta que o garoto já estava tomando banho também.
- Mãe?
Ela estava na cozinha, de frente para a pia cortando algumas coisas pra janta.
- Hum? - Murmurou ainda de costas pra mim.
Me aproximei devagar e encostei no balcão ao lado. Ela rapidamente esfregou os olhos e fungou com o nariz.
- Que foi??
- Ah, é a cebola - Sorriu sem humor - Como está indo na faculdade?
Demorei a responder. Ela acha que vou acreditar nisso?
- Ah.... ta indo - Dei de ombros.
Ela parou de cortar e me encarou.
- Como assim "ta indo"?? Você tem que ir bem, se formar logo e conseguir uma carreira na vida! - Ela começou a gesticular com a mão que estava com a faca.
- Mãe... - Apontei pra faca.
Ela suspirou e voltou a cortar a cebola como se cortasse a cabeça de alguém.
- Tem visto alguma coisa suspeita? - Questionou em tom de preocupação.
Franzi o cenho. Mas que pergunta era aquela?
- Hum...... Não... Porque?
Ela deu de ombros.
- Por preocupação.
Ela esticou-se um pouco e olhou pela janela,e novamente naquele dia deslizou o punho pela testa.
- Tá tudo bem?
Ela só balançou a cabeça. Após um tempo sem assunto tomei coragem para perguntar:
- E então... O que achou.... do Kim?
Ela engoliu seco.
- Fique longe dele - Disse baixo.
Pisquei algumas vezes tentando processar.
- Está gostando dele?
- Eu.... eu vou separar alguns cobertores - Disse e saí rapidamente.
Porque ela me disse para me afastar dele? Eu não consigo entender... É claro, tudo ia bem demais para ser verdade. Kim saiu do banheiro tempos depois, ele estava calado e não mantinha contato visual comigo. Uau, pode piorar?
Eu duvido que minha mãe tenha dito algo ruim pra ele, ela não faria isso.
- Japchae! - Apareci na sala tentando soar animada.
- Ahn? - Ele voltou a mente aérea para mim.
- Jungkook disse que é sua comida favorita, então eu pedi pra minha mãe fazer.
Antes que ele pudesse responder, tossiu. Coloquei a mão em sua testa e estava quente.
- Acho que você ta com febre.
Ele negou e tirou minha mão de seu rosto tentando não ser rude.
- Eu tô bem - Forçou um sorriso sem mostrar os dentes.
Tentei não parecer aflita, e certamente falhei. Sentei no sofá do lado oposto e liguei a Tv em qualquer canal. Não conseguia prestar atenção em nada. Ele ficou assim do nada? Está assim por que ficou doente?
O que me deixou aliviada, pelo menos um pouco, foi a esperança de que um sentimento como o amor, não desaparecesse de uma hora pra outra. Ele ainda me ama, né..?
