27.

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- Kim On

Um nó se formou em minha garganta. Eu a reconheci imediatamente. Minha irmã era muito pequena e com certeza mudou ao crescer, mas minha mãe?? ela é a mesma. Alguns fios brancos aqui e outros ali mas eu sabia que era ela. Eu fiquei completamente sem reação, foi então que Amy me deu uma leve cotovelada.

-Senhora. - Abaixei a cabeça.

Eu queria chorar. Se ela é minha mãe, Amy é...

Não ouvi mais nada que elas conversavam, meus olhos aguados fez com que tudo se tornasse um defeituoso borrão. Preso em meus pensamentos, minha mente estava sendo levada para longe.

Quando me dei conta Sra. DoHyun estava a minha frente e colocou a mão no meu ombro.

- Taehyung? - Ela sussurrou com os olhos vermelhos e a respiração pesada.

Eu olhei pra ela e uma carga de memórias me retornaram a mente. Senti uma lágrima gelada escorrer minha bochecha. Assenti demoradamente com a cabeça.

- Omma.. - Balbuciei com pesar a palavra que nunca imaginei que falaria novamente.

Fui envolvido por aquele caloroso e doloroso abraço materno. Eu ainda estava com as roupas meio molhadas mas ela sequer se importou com isso. Sra. Dohyun chorava desesperadamente, mas em completo silêncio. Senti como se uma faca afagasse lentamente meu peito, como se quisesse me torturar. Sempre anseei isso, mas poxa... Porque dói tanto? O ar começou a fugir de mim.

Passamos um tempo abraçados apenas sentindo a presença um do outro.

- Meu filho... - Ela segurou minhas mãos com as suas mãos calejadas e analisou meu rosto como se perguntando se eu estava bem - Me desculpa! Eu.. eu não pude te proteger dele! Me desculpa! - Ela sussurrava com completa dor e arrependimento se referindo ao meu pai.

Vê-la assim me fazia ficar pior ainda. O chuveiro foi ligado e ela percebeu pelo barulho.

- Nós precisamos conversar mais tarde... Por favor, não deixe Amy saber de nada! Não conte pra ela - Minha mãe estava ali, quase implorando isso para mim.

Mesmo sem entender o porque, eu concordei. Eu sei que ela só quer o melhor pra nós, por mais difícil que seja.

- Mais tarde, eu vou te explicar tudo... e você me conta por onde esteve esse tempo todo e como veio parar aqui - Ela falou finalmente mais calma, tentando se recompor.

Eu balancei a cabeça, cabisbaixo.

Ela usou o polegar para secar meus olhos.

Amy saiu do banheiro.

- Tome um banho agora, eu vou fazer o jantar. - Ela me deu uma toalha e entrei no banheiro.

A primeira coisa que vi, foi meu reflexo no espelho.

Senti raiva.

Deixei meu coração decidir o caminho e agora? Me arrependo de tudo. Não por mim, mas principalmente por ela, minha irmã a garota que inapropriadamente eu me apaixonei.

Lá no fundo eu já tinha a dúvida. Sabia que se essa dúvida fosse real essa situação seria inevitável. Agora, todos pagam o preço. E a culpa é toda minha. A amo tanto que preferiria não conhece-la, ao invés de machuca-la.

Eu sou o único?

O único que olha no espelho e não suporta o reflexo do que vê? Que sente que nunca se tornou quem deveria?

O que devo fazer??? Sentar asssistir tudo passando diante dos meus olhos e chorar?? Eu realmente não sei.

(...)

- Japchae!

- Ahn?

- Jungkook disse que é sua comida favorita, então eu pedi pra minha mãe fazer.

Antes que eu pudesse responder, tossi. Ela colocou a mão em minha testa.

- Acho que você ta com febre.

Eu neguei e tirei sua mão de meu rosto tentando não ser rude.

- Eu tô bem - Forcei um sorriso sem mostrar os dentes.

Percebi que ela ficou incomodada com o que fiz. Novamente me arrependi.

(...)

A mesa estava silenciosa. Eu queria conversar sobre várias coisas sobre o passado, tinha várias dúvidas, mas não era momento. As vozes na minha cabeça começaram a me frustrar. Antes que eu fizesse algo a respeito, Amy se levantou repentinamente e foi pra sacada.

Omma logo levantou irritada com a "mal-criação" de sua filha, pronta para começar algum sermão, mas eu toquei de leve seu pulso.

- Deixe eu ir falar com ela... Porfavor.

Ela olhou pra mim preocupada.

- Confie em mim... - pedi.

Ela suspirou e concordou. Fui pra sacada.

- Mãe por favor...! Agora não. - Amy bufou.

Permaneci em silêncio ao seu lado.

- Ah... você. - Minha voz mostrou desinteresse.

- Não vai dizer nada? - questionou impaciente.

...

- Minha mãe te fez alguma coisa?? Ela-

- Não.. Sua mãe não fez nada.

Eu não estava mentindo. E não queria que ela ficasse irritada com a omma.

- Então me diz o que é Kim!

- Hey Amy... Primeiro, desfaz esse bico de choro.

Ela revirou os olhos e sorri fraco.

- Segundo, eu já te disse hoje como você é bonita? Ainda mais quanto ta emburrada.

Cruzou os braços como uma verdadeira marrentinha.

- Terceiro, o que eu mais gosto em você é esse seu coração de gelo que você não permite que derreta pra qualquer um. Quarto, você tem noção de como seus olhos brilham? Como você fez pra colocar a galáxia inteira aí dentro?

- Bom alguém me ajudou...

- É... o céu ta incrível hoje né? - Esperei que ela se recordasse também de algumas coisas, mas percebi que não devia.

Abri a porta para voltar pra sala.

- Espera! Não... tem Quinto??

Claro que tem.

- Bem, o quinto eu não posso dizer...

- Porque?

'Vai ficar tudo bem' é tudo que eu queria dizer pra ela naquela noite. Mas eu não podia.

- Porque é mentira... -

Beijei sua testa como uma despedida de algo que fosse além de amizade.

Quando me virei para sair, a ação dela fez a faca que só afagava, penetrar a lata velha que chamo de coração.

- Ei idiota, vai ficar tudo bem - Me abraçou pelas costas.

Comecei a chorar de novo e precisava sair dali imediatamente, eu não poderia suportar. Assim que ela me soltou e me afastei.

Desculpa, Amy.

Eu não posso continuar aqui.





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Split • kthOnde histórias criam vida. Descubra agora