As crônicas de uma estranha viagem

Prólogo Viagem

Hoje foram as despedidas. Alguns não queriam que esse dia chegasse, enquanto outros mal ficaram sabendo. Foi um momento triste deixar para trás pessoas que, mesmo não estando fisicamente próximas, sempre estiveram presentes a cada dia que passava. Era como se cada momento compartilhado, cada riso e cada lágrima, ecoassem dentro de mim naquele instante, mas era inevitável que essa hora chegasse.

Subindo lentamente no ônibus, lancei um último olhar para trás. Um frio na barriga tomou conta, um misto de melancolia e expectativa, um sentimento difícil de explicar até mesmo para mim.
O motorista subiu a bordo e se apresentou. Seu nome era Woods, mas para mim, ele seria apenas o motorista. Com um aceno e desejos de uma boa viagem, ele fechou a porta do corredor, dando início à jornada.

Agarrado ao meu travesseiro como se fosse um muro, eu me sentia em cima de um precipício, equilibrando todas as minhas lembranças, sejam elas boas ou ruins. Era como se estivesse em um limbo emocional, sem saber para qual lado deveria me inclinar, seja o lado sombrio ou o lado da luz. Para escapar desse turbilhão, coloquei meus fones de ouvido e dei play na minha playlist alternativa, buscando refúgio nas músicas que costumavam me confortar.

Enquanto o ônibus seguia pela estrada, olhei pela janela e vi uma floresta sombria, com árvores retorcidas e mortas. Um pouco ao fundo, avistei uma casinha pequena com uma única luz acesa, destacando-se contra a escuridão. Meu celular, de repente, começou a se comportar de forma estranha, como se estivesse prestes a desligar, mas logo voltou ao normal sem explicação aparente.

Avançamos por uma parte da estrada tão escura que mal conseguia enxergar qualquer coisa além do vazio. Não havia carros passando, nenhum sinal de vida além do próprio ônibus. Foi então que meu celular, misteriosamente, desligou subitamente, apesar de sua bateria estar completamente carregada. Pouco depois, o ônibus parou no acostamento, interrompendo nossa jornada sem aviso prévio.

— Por que estamos parando? — questionei, esforçando-me para enxergar a rodovia lá fora. — Logo numa estrada como essa? Não consigo ver nada do lado de fora. Que droga, o que está havendo?

Foi quando percebi que um carro estava pegando fogo no acostamento. O brilho das chamas dançava contra a escuridão da noite, lançando uma sombra sinistra sobre o ambiente tranquilo do ônibus.

— Que diabos o motorista está fazendo? — murmurei para mim mesmo.
Nessa hora, o motorista começou a descer do ônibus.
— Por que você está descendo? — perguntei em voz alta, minha voz ecoando ligeiramente no interior silencioso do ônibus.

Levantei-me da poltrona, sentindo a tensão no ar aumentar à medida que observava a cena se desenrolar diante de mim.

— Volta para o ônibus e dá o fora daqui! —  respondi com urgência e com uma pitada de medo em minha expressão.

Eu não conseguia entender completamente o que estava acontecendo. Era estranho que não houvesse nenhuma ambulância ou ajuda à vista, apenas um homem sozinho no meio do nada, com um carro em chamas. O silêncio fora do ônibus era ensurdecedor, interrompido apenas pelo crepitar do fogo e pelos meus próprios pensamentos agitados.

Naquele momento, o desconhecido pairava sobre mim como uma sombra ameaçadora, deixando-me com a sensação de que havíamos entrado em um mundo de incertezas e perigos imprevistos.

— Eu não quero que algo aconteça logo no começo da viagem, então eu mesmo vou dirigir esse ônibus se você não voltar. —  gritei, inclinando-me para fora da janela.

O motorista retornou ao seu assento sem pronunciar uma única palavra.

— Ah, ótimo, você voltou. Até perdi o que estava escrevendo, mas o que será que aconteceu? — questionei, tentando entender por que o motorista desceu para averiguar o incidente se aparentemente ele não ajudou em nada.