A casa estava mergulhada em escuridão, e a chuva forte permanecia. O silêncio era interrompido apenas pelo som das gotas pesadas no telhado e das correntes que arrastavam pelo chão. Meu celular, minha última esperança de contato com o mundo exterior, finalmente desligou. Agora, não fazia diferença — eu já estava ferrado.
Enquanto a porta do guarda-roupa se abria lentamente, senti um frio cortante subir pelo meu corpo, aproximando-se da minha garganta. O medo era paralisante. Eu havia desistido de qualquer esperança de salvação, resignado ao meu destino.
Então, algo inesperado aconteceu. A energia do bairro voltou de repente, enchendo a casa com uma luz clara e abrupta. A chuva, que antes caía implacável, começou a diminuir sua intensidade. A sequência de eventos foi tão rápida e estranha que quase não acreditei.
Um silêncio incômodo tomou conta do ambiente. Meus olhos permaneceram fechados, temendo o que poderia encontrar quando os abrisse. A porta do guarda-roupa já estava completamente aberta, mas não fazia barulho algum. Lentamente, comecei a abrir os olhos.
O quarto estava iluminado, as luzes acesas revelando cada canto e objeto. Olhei ao redor, tentando encontrar a fonte do meu terror. Não havia nada lá. A figura sombria, os olhos brilhantes, os passos arrastados — tudo tinha desaparecido como se nunca tivesse existido.
Uma respiração profunda de alívio escapou dos meus lábios, liberando toda a tensão acumulada. Meu corpo relaxou, e pude sentir o peso do medo se dissipando. Aquele breve momento de luz pareceu trazer um pouco de esperança de volta ao meu coração.
Levantei-me lentamente do guarda-roupa, ainda cauteloso, mas aliviado. Caminhei até a janela, observando a chuva agora mansa e o bairro mergulhado em uma tranquilidade inesperada. As luzes das casas vizinhas começaram a acender uma a uma, indicando que a energia estava de volta em todo o bairro.
— O que foi tudo isso? — murmurei para mim mesmo, ainda tentando processar os eventos bizarros da noite.
Decidi sair do quarto e explorar a casa, certificando-me de que estava realmente sozinho. O silêncio agora parecia mais amigável, como se a própria casa tivesse voltado ao normal.
— Essa foi por pouco. A energia voltou bem na hora. Minha vontade era de ficar lá mesmo, mas é melhor dar uma olhada na casa. — murmurei, enquanto saía do guarda-roupa e começava a andar pelos cômodos. Nada parecia fora do lugar. Parei na sala e me sentei no sofá.
— Parece que não tem nada por aqui, ainda bem. — uma leve risada escapou dos meus lábios, fruto de um alívio.
De repente, a porta de entrada começou a fazer barulho. Ouvi chaves girando na fechadura.
— Droga, outra vez? — levantei-me assustado. A porta se abriu e, para minha surpresa, era minha Tia Vanessa entrando.
— Menino, que chuva foi essa? Só deu pra chegar agora. Faltou energia aqui, não foi? Antes de entrar no bairro estava um breu lá fora. — comentou minha tia, enquanto trancava a porta atrás de si.
— Oi, tia. — soltei outra respiração funda, desta vez de alívio, porque era ela e não alguma outra coisa bizarra.
Vanessa Grace é minha tia, uma mulher com uma aura de calor e acolhimento. Não lembro a idade dela, mas deve estar na casa dos cinquenta, claro que exibindo uma vitalidade que muitas vezes faz com que a confundem com alguém mais jovem. Seus cabelos, longos e ruivos, começavam a mostrar fios grisalhos, mas ela os usava com orgulho, geralmente presos em um coque despretensioso ou soltos em ondas suaves.
Seus olhos verdes claros sempre pareciam brilhar com um toque de sabedoria e gentileza, transmitindo uma sensação de segurança e confiança a todos que a cercavam. Tia Vanessa tinha um sorriso fácil e contagiante, que frequentemente iluminava seu rosto e fazia os outros se sentirem à vontade em sua presença.
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As crônicas de uma estranha viagem
AdventureApós perder o grande amor de sua vida em um trágico acidente, Luke se vê obrigado a deixar para trás seu pequeno estado do sul do Brasil. A tragédia despedaça seus planos futuros, levando-o a questionar o que é necessário para realmente perder o con...