A Trilha

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Após sentir um peso no ombro e me virar lentamente, fiquei aliviado. Era a mão do meu avô no meu ombro. Seu nome era Josh Grace.

Josh Grace, é um homem de idade avançada, mas ainda com uma postura ereta que demonstra sua vitalidade e resiliência. Seus cabelos são completamente brancos, cortados de forma simples, e ele possui um rosto marcado pelo tempo, com rugas que acentuam sua expressão amigável e sábia. Seus olhos, de um azul profundo, transmitem uma calma e uma gentileza que é quase tranquilizante. Ele costuma usar roupas práticas e confortáveis, típicas de alguém que vive e trabalha na fazenda, como camisas de flanela, calças de brim e botas desgastadas. Naquela noite, ele estava com roupas simples de dormir e meias.

Meu avô é um homem de poucas palavras, mas quando fala, sua voz grave e suave é carregada de experiência e conhecimento. Ele tem um senso de humor afiado, muitas vezes fazendo piadas para aliviar a tensão, mas também sabe ser sério e compassivo quando necessário. É o tipo de pessoa que sempre tem uma história para contar, seja sobre sua juventude, a vida na fazenda ou antigas lendas locais. Ele é extremamente protetor e carinhoso com a família, especialmente com seu neto Luke, a quem dedica muita atenção e sabedoria.

— Que barulheira é essa, meu neto? — perguntou meu avô, acendendo a luz da sala.

— Puta que pariu, vô, que susto. Quase me mata do coração! Sou novo ainda e tenho muito pra viver — respondi, com a mão no peito, tentando normalizar a respiração.

— Como foi a viagem, Luke? Achei que você chegaria mais cedo — perguntou meu avô, parecendo despreocupado.

— Demorou um pouco para chegar aqui, e eu acabei não avisando. Pensei que encontraria o senhor lá na cidade — respondi, mudando o foco da situação sem querer.

Meu avô assentiu, sem perceber a tensão que eu havia acabado de viver.

— Pela hora, achei que chegaria amanhã, então vim para a fazenda. Mas deixei um bilhete para quem fosse me procurar e para você, caso chegasse hoje — disse meu avô após me abraçar.

— Não, vô, foco aqui na situação. Não fui eu que fiz esse barulho todo. Claro que a cadeira e a mesa fizeram um pouco, mas o verdadeiro barulho era uma coisa... um negócio dentro desse milharal maluco — falei com uma expressão séria.

Meu avô riu depois de ouvir o que eu disse.

— Você, brincando a essa hora no meio do milho, meu filho? — perguntou ele, tentando parar de rir.

— Vê se eu tenho idade para ficar brincando sozinho nesse milharal, fora que está um breu lá fora, mal enxergava alguma coisa — respondi, gesticulando na tentativa de fazê-lo acreditar.

— Mas não tem nada ali, meu filho, só milho. Mas espera, não vai me dizer que você viu a "Criatura do Milharal"? — disse ele, quase gargalhando. Já estava ficando chato.

— Isso são só histórias de fazendeiros. Mesmo que essa história não tenha muito tempo. Nas rodinhas, quando vamos beber, eles sempre contam a história da Criatura. Dizem que, em certas noites, ela ronda as fazendas em busca de alguma coisa. Eu não sei a origem dessa história porque nunca me interessei, pois é só uma lenda boba — explicou meu avô, ainda sorrindo.

Eu o observei, tentando encontrar qualquer sinal de que ele estava levando minha experiência a sério, mas ele parecia convencido de que tudo não passava de uma brincadeira ou de uma lenda.

— Não sei nada sobre essas histórias. Mas que tinha algo ali naquele labirinto de milho que o senhor criou, eu sei que tinha. E tem mais ainda. Não basta essa Criatura, também teve aquele garotinho de capuz no meio do milharal. Ele me pediu ajuda. Será que devo voltar lá para procurar por ele? — perguntei, ainda com um pé atrás.

As crônicas de uma estranha viagemOnde histórias criam vida. Descubra agora