O Milharal Maldito

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No início da tarde, o ônibus finalmente chegou ao seu destino, encerrando horas intermináveis de viagem. Eu me sentia exausto, com o sono acumulado tornando cada movimento mais lento.

— Que sono, mal consegui dormir — murmurei, bocejando e esticando os braços.

Finalmente, estava na hora de sair daquele ônibus fantasma. Levantei-me da poltrona, aliviado, mas ao olhar para a garota, meu alívio foi substituído por um calafrio.

— Que merda é essa? — exclamei, surpreso.

A garota estava jogada na poltrona, os olhos abertos e fixos, parecendo completamente inerte. Um pânico momentâneo tomou conta de mim.

— Deus me livre... Será que ela está morta? Não, deve estar dormindo de um jeito estranho. Mas eu não vou ficar para descobrir. O motorista que se vire depois — pensei, ajeitando minhas coisas.

Coloquei meu par de botas robustas, ideais para qualquer terreno que possa encontrar em minhas viagens. Não podia faltar minha jaqueta de couro preta que já viu dias melhores, mas eu considero minha marca registrada. Por baixo, uso uma camiseta simples escura e olhando para minha calça jeans, está bem gasta por conta dos anos de uso, mas isso que a faz confortável.

No pulso direito, tenho minha pulseira de couro trançado, um presente de uma amiga de longa data, enquanto um relógio clássico adorna meu pulso esquerdo, uma lembrança de meu avô. Agora, nada menos importante, minha mochila surrada cheia de itens essenciais para minhas aventuras e viagens, incluindo um caderno de anotações onde estou registrando meus pensamentos e experiências, como podem ver.

Joguei a mochila nas costas e com determinação, caminhei pelo corredor, abrindo a porta que barrava minha passagem. Comecei a descer do ônibus, ansioso para deixar para trás aquele ambiente inquietante, cada passo me aproximava da saída, e eu só queria respirar o ar livre novamente. Enquanto meus pés tocavam o chão firme, uma sensação de alívio misturada com inquietação me envolveu, pensando que mais coisas estão por vir.

Logo após colocar os pés na rodoviária, observei o lugar com atenção. Aparentemente, era um local estranho, quase abandonado. Cabines telefônicas estavam quebradas, latas de lixo tombadas e os muros cobertos de pichações.

— Que cidade mais... vazia? — murmurei, tentando encontrar a palavra certa para descrever o que via.

O ônibus partiu rapidamente, desaparecendo ao virar a esquina. No entanto, algo me intrigava profundamente: a garota que embarcou no meio da viagem não desceu.

— Melhor ir para a casa do meu avô logo. Espero que ele esteja lá — pensei, com um misto de inquietação e urgência, enquanto ajustava a mochila surrada nas costas e começava a caminhar pelas ruas desertas.

O clima estava nublado, com pouco vento e poucas pessoas nas ruas. Caminhei até um táxi estacionado um pouco distante da rodoviária. Informei o endereço ao taxista, e ele comentou que eu era o primeiro cliente a sair da rodoviária desde cedo.

— Pela aparência da rodoviária, não é de se estranhar que poucas pessoas apareçam por aqui — pensei, sem dar muita importância ao comentário.

Três horas se passaram desde que entrei no táxi.

— Não lembrava que meu avô morava em tão, tão distante. Cinco anos sem andar por essas bandas fazem a gente perder a noção de distância — refleti enquanto observava a paisagem passar pela janela. Finalmente, o táxi parou.

— Mas enfim, chegamos — disse, sentindo uma mistura de alívio e ansiedade ao descer do carro e encarar a casa de meu avô ao longe.

Peguei minha mochila, paguei o taxista e o vi partir. O local ao meu redor era bem típico de uma roça; afinal, eu estava no interior do Brasil. À minha frente, havia uma ladeira com poucas casas espalhadas, e, se a memória não me falhava, a casa do meu avô ficava lá embaixo.

As crônicas de uma estranha viagemOnde histórias criam vida. Descubra agora