Diários de um Esquecido

Dúvidas

Uma das piores consequências de perder a memória, são as dúvidas que isso provoca. Você nunca sabe exatamente em quem confiar ou em que se basear. Você está sozinho, e sem reação.
Hoje já faz dois dias seguidos que não perco a memória. Por um lado estou me sentindo bem, afinal, é bom poder me lembrar de algumas coisas para variar; mas por outro lado, estou com um certo medo de esquecer de tudo novamente. Quando coisas ruins acontecem inesperadamente, elas simplesmente acontecem inevitavelmente; mas quando você sabe que elas irão acontecer, você quer fazer de tudo para evitar que isso aconteça, porém, no meu caso como você já sabe, não tenho muita opção.
Mas ao menos agora posso lhe falar em mais detalhes sobre esses meus dois dias sem esquecimento algum.
De acordo com os médicos, já faz aproximadamente cinco dias que estou internado nessa clínica de recuperação mental. As paredes brancas, o chão com pisos azuis em uma sala fria mal iluminada, tudo me pareceu familiar logo de início, porém, eu ainda imaginava que fosse minha primeira vez ali.
Com o coração acelerado e sem a mínima noção do que estava acontecendo a minha volta, me levantei da cama e abri a janela para tentar encontrar alguma coisa que me fosse familiar ou que me fizesse lembrar algo. Quando me virei novamente, havia uma enfermeira dos cabelos grisalhos e olhos azuis entrando no quarto. De tantas perguntas que eu poderia ter feito a ela, de tantas dúvidas que eu tinha, acabei escolhendo a coisa mais clichê possível:
- Sabe quem eu sou? - Perguntei-lhe com o coração se acelerando mais a cada segundo, com o gaguejo da minha voz e esperei silenciosamente a resposta:
- Claro que sei! Você é Alex Barker - Após dar um suave sorriso de lado ela continuou - Claro, você não se lembra de mim, mas fique tranquilo, daqui alguns instantes o médico responsável por você virá atende-lo, ele poderá tirar suas dúvidas.
Essas simples palavras foram suficientes para me acalmar naquele momento. Ao vê-la se despedindo, não me contive, perguntei a ela:
- Como você se chama?
- Anny, espere apenas alguns minutos, não saia do quarto por favor - Após me responder, ela saiu, me deixando novamente sozinho naquele quarto escuro e frio.
Por sorte, em poucos minutos, o médico já estava no quarto.
Logo que entrou com uma expressão insegura no rosto e papel e caneta na mão, me perguntou:
- Do que você se lembra, Alex?
- Me lembro apenas de ter acordado nessa sala, com uma grande dor de cabeça e sem ter memória nenhuma. O que está acontecendo? - Eu perguntei com os olhos fixos nele.
- Meu nome é Jorge, e tudo o que você precisa saber por enquanto, é que nós somos uma clínica especializada em tratamento de problemas como o seu. Já faz aproximadamente quatro dias que está aqui e esta já é a segunda vez que você é encaminhado para cá. Vai notar que uma boa parte dos pacientes ainda lembram de você da sua última visita, espero que você saiba se adaptar novamente.
Alguns exames foram feitos, testes psicológicos foram passados para testar minha memória e tentar recuperar alguma lembrança perdida, porém, nada deu certo por enquanto. Ao final desses exames, já estava exausto, então, me deram um calmante para que pudesse dormir mais facilmente. E assim se resumiram os meus "primeiros" dias aqui: exames e testes.
As dúvidas estão apenas aumentando, espero que minha próxima memória seja mais clara e franca.