A fumaça cinza, cheirando a nicotina, começava a dissipar e logo outra tragada preenchia os seus pulmões em busca de um momento de satisfação. Os seus lábios finos, e já sem nenhum traço dos brilhos labiais, comprimiam aquele papel fino e recebiam o queimar do seu conteúdo, enquanto que seus pés a levavam para o lado oposto a aquele beco escuro que ficavam as latas de lixo.
À medida que se afastava indo de encontro à rua principal, na qual ficavam as mesas externas do café, pôde escutar burburinhos e uma movimentação não característica para aquele horário próximo ao meio dia.
Manoela ficou estagnada entre os dois lugares com o seu olhar fixo em um ponto, apenas mudou de percepção quando o cigarro entre seus dedos a queimou sutilmente, porém, não menos ardido.
No mesmo tempo em que se livrou daquele objeto que lhe trazia alívio, levou o dedo queimado de encontro a sua saliva e perdeu a finalização daquele conflito entre os dois homens – um mais velho e o outro bem mais jovem – na frente do seu local de trabalho. Apenas pôde ver o corpo do mais velho estendido ao chão e o mais jovem, seguido de seus colegas, se afastando em direção as construções antigas da Universidade no final daquela rua comercial.
Como se fosse uma heroína de filmes de super-heróis, passou a frente das outras pessoas que estavam tão surpresas quanto ela e alcançou o homem que tentava levantar com certa dificuldade.
Estava zonzo e com a visão embaçada. Sem saber se deveria se preocupar com o sangue que escorria de seu supercílio esquerdo ou se travava uma busca pelos seus óculos que voou para longe quando o punho do rapaz entrou em contato com seu rosto.
— Espere! Eu te ajudo! — Manoela já estava agachada ao seu lado no chão, lhe dando apoio e segurando em seus braços. — Não se mexa muito rápido, estás zonzo pelo golpe e isso pode te causar um desmaio.
— Preciso dos meus óculos.
— Iremos encontrá-los. Primeiro você precisa se sentar. Alguém pode ao menos nos ajudar?!
Manoela levantou a sua voz em um tom autoritário para a platéia que havia se formado e que não faziam outra coisa a não ser registar aquele momento constrangedor em seus celulares. Uma das alunas ali presentes tomou essa atitude, e junto de Manoela, conseguiram colocar o homem ainda atordoado sentado em uma das cadeiras.
— O que está acontecendo aqui? — o chefe de Manoela finalmente criou coragem e saiu para ver o circo que ser armou do lado de fora do seu estabelecimento.
— Sr. McAdams, por favor, pegue a maleta de primeiros socorros, o professor Weber está sangrando. — Manoela falava com o patrão, mas com os olhos atentos no ferimento do homem ali diante de seus olhos, segurando com delicadeza em seu rosto fazendo com que sua cabeça ficasse um pouco inclinada para trás.
O homem ainda ficou uns instantes observando a sua funcionária antes de voltar para dentro do seu café que já retornara com as suas atividades normais. A platéia do lado de fora já havia diminuído, apenas alguns remanescentes mais curiosos permaneciam parados observando o que a mulher fazia.
— Olhe para mim... — Manoela falava agora direto com o ferido — Como está a sua cabeça?
— Preciso dos meus óculos, sem eles não enxergo quase nada... — o professor Weber, ou melhor, Stephen, tentava levar a mão até o seu ferimento sendo impedido por Manoela.
— Por favor, professor, não faça isso. Suas mãos estão sujas. Deixa que eu cuido disso... — Manoela voltou-se para a garota que lhe ajudou — Poderia localizar os seus óculos? Ele é de armação retangular e preta.
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O Professor [Completo]
ChickLitStephen Weber é um prestigiado professor de literatura inglesa em uma universidade tradicionalista. Sua vida transcorre em um rotina nunca quebrada, até o dia em que uma jovem estrangeira surge e, com ela, decide abandonar seus padrões, fugir dos se...